NATAL DE 2013: EMPOBRECIMENTO E REGRESSÃO SOCIAL HISTÓRICA EM TODA A UNIÃO EUROPEIA – por FRANÇOIS ASSELINEAU

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

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Natal de 2013 : Empobrecimento e regressão social histórica em toda a União Europeia

François ASSELINEAU

PARTE II
(continuação)

Uma bela autoridade moral, na verdade.

A mais grave e amais impopular, destas reformas é a mais recente delas, a chamada Hartz IV, que limita drasticamente a compensação para os desempregados de longa duração, especialmente para aqueles que se recusam a aceitar empregos abaixo das suas qualificações. Além disso, esses desempregados podem ser contratados com salários mais baixos relativamente ao acordo colectivo para o sector. Outras medidas de Hartz IV também levaram a fortes críticas, como a possibilidade de reduzir os subsídios a um desempregado cujos ascendentes ou descendentes tenham algumas economias.

Estas reformas, juntas com o facto de que não há salário mínimo na Alemanha tiveram como efeito que jovens alemães, incluindo diplomados do ensino superior, sejam agora forçados a aceitar empregos subqualificados e extraordinariamente mal pagos se eles não querem ficar a dormir  na rua.

Fonte: http://www.reuters.com/article/2012/02/08/us-germany-jobs-idUSTRE8170P120120208

Resultado de tudo isto?

A 19 de Dezembro de 2013, uma federação que reagrupa aproximadamente 10.000 associações activas no campo da assistência social e saúde realizou uma conferência de imprensa em Berlim para revelar que “a taxa de pobreza, em 15,2%, atingiu um novo e triste recorde em 2012,” baseando o seu relatório anual sobre os dados do Instituto alemão de estatísticas (Destatis).

Na Alemanha, agora, 1 pessoa em cada 7 é pobre ou está em risco de pobreza, com um rendimento inferior a 60% do rendimento mediano e esta taxa de pobreza espectacular está a subir quase continuamente desde 2006.

empobrecimento - III

[Source : http://www.lepoint.fr/economie/allemagne-la-pauvrete-a-un-niveau-record-19-12-2013-1772677_28.php ]

Esta pauperização acelerada da Alemanha levou o SPD a exigir o estabelecimento de um salário mínimo à francesa como uma das condições para sua participação na coligação de governo há algumas semanas. Em 15 de Novembro, a Chanceler Angela Merkel acedeu, em parte, ao princípio de um salário mínimo por hora, mas que não seria interprofissional como em França. Ela teria mesmo referido um valor, indicando que um “salário por hora de €8,50 terá um papel a desempenhar” no futuro. Mas, de acordo com a imprensa alemã, a CDU teria conseguido do SPD que uma tal medida não entrasse em vigor pelo menos até 2016.

Isso não impediu que tenham criado um conjunto de mecanismos de protecção contra uma tal medida. Em particular, o Bundesbank – o Banco Central alemão que exerce uma espécie de  tutela implícita sobre o BCE – advertiu contra o caos que o estabelecimento de tal salário mínimo provocaria sobre todas as escalas salariais, porque um sexto dos trabalhadores alemães recebem menos de 8,50 euros por hora. De acordo com alguns Institutos de Economia, entre 5 e 6,5 milhões de pessoas seriam efectivamente abrangidas.

http://www.challenges.fr/economie/20131118.CHA7155/allemagne-le-spd-impose-a-merkel-le-smic-a-8-50-euros-de-l-heure.html

FRANÇA : Com 1 milhão de beneficiários por mês, os Restos du Cœur batem um recorde de afluência

Não vou aqui falar sobre o desastre da situação do emprego e da pobreza em França, Mas é um triste recorde que foi tornado público a 20 de Dezembro de 2013. E todo um símbolo, o que confirma que a situação analisada pelo INSEE tem estado sucessivamente a piorar desde 2011.

Um mês depois da abertura da 29 ª campanha de inverno pela primeira vez na história da associação, se ultrapassou o número de 1 milhão de inscritos nos Restos du Coeur – [a sopa dos pobres de Portugal conduzida com dignidade ]

Source : http://www.rfi.fr/france/20131220-france-un-million-restos-coeur-battent-triste-record-affluence

empobrecimento - IV


GRÉCIA : Perto de um terço dos gregos estão agora sem cobertura social.

A organização Médecins du monde revelou em 9 de Dezembro, que a explosão do desemprego e a recessão – pelo sexto ano consecutivo – levou  a que 30% da população grega tenha perdido a sua cobertura social, ou seja 3 milhões de pessoas.

Esta evolução catastrófica tem consequências graves para a saúde das crianças e das mulheres grávidas: há cada vez mais crianças que atingem a idade de 2 ou 3 anos sem nunca ter sido vacinadas e há mulheres sem protecção social que devem pagar por exames médicos  e pelos partos. Consequência: entre 2008 e 2011, o número de embriões nascidos já mortos aumentou de 21%, de acordo com a organização, que evoca “uma crise humanitária na Grécia”, ao qual se acresce uma bomba sanitária.

Source : http://www.lemonde.fr/europe/article/2013/12/09/pres-d-un-tiers-des-grecs-sans-couverture-sociale_3528051_3214.html

empobrecimento - V

A chamada «construção europeia» e a remoção do controle dos movimentos de capitais estão na origem das deslocalizações torrenciais das indústrias europeias para países com custos salariais [mais ] baixos. O resultado é um empobrecimento generalizado dos povos da Europa, de quem os indianos já começam a ter pena. Como aqui, o Hindu Times coloca como seu principal título a destruição que a pobreza provocas na Grécia e em que o título principal da primeira página nos diz que  a pobreza provoca enormes estragos na Grécia e  que há  enormes filas de espera para a sopa dos pobres.

Estas são as consequências, observáveis a olho nu, dos artigos 32 e 63. º do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia, que organizaram ou deram origem, desde o Tratado de Maastricht de 1992, às deslocalizações industriais.

(continua)

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Para ler a parte I deste trabalho de François Asselineau, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

NATAL DE 2013: EMPOBRECIMENTO E REGRESSÃO SOCIAL HISTÓRICA EM TODA A UNIÃO EUROPEIA – por FRANÇOIS ASSELINEAU

2 Comments

  1. Adorava poder dizer algo de sublime e inteligente sobre o assunto porém, tudo o que possamos acrescentar só pode angustiar-nos ainda mais.
    É intencional o empobrecimento. É intencional a exclusão social. É selectiva também. Chama-se eugenia… Por favor pensem e hajam!

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