UM CONSELHO AO SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO (parte I) por Luísa Lobão Moniz

olhem para  mim

Aconselho, mais uma vez, o Senhor Ministro da Educação a ir visitar uma escola, durante um dia, e estar com os professores, com os assistentes operacionais ( não terão direito a um nome mais simpático?),  com os alunos e com os pais para sentir, cheirar, tocar na alma viva de uma escola.

Depois dir-nos-á o que sentiu.

Será que vai sentir os professores motivados para “dar” aulas, ao mesmo tempo que tem resmas de burocracia para fazer (muito do que fazem era feito pelos serviços de secretaria), ao mesmo tempo que têm que sinalizar crianças ou jovens para a assistência social, ou para a CPCJ, ou ainda, por vezes, já em desespero de causa, para o SOS Criança nº 116 111, linha telefónica que atende todos os apelos de crianças ou de adultos sobre crianças maltratadas. A seguir veja a preocupação e o medo do professor por ter sinalizado a criança.

“E quando o pai souber que fui eu?”

Veja um processo disciplinar com o encarregado de educação, que não quer assumir que o filho bate muito, que causa distúrbios dentro da sala de aula e, por vezes, ameaça o professor. Veja o aluno com ar insolente a dizer que o professor embirrou com ele porque ele não fez os trabalhos de casa, porque se tinha esquecido, e que não é só ele que faz “porcaria” na escola. Veja o professor a querer um castigo na escola, que sirva de exemplo, veja o professor a querer ver a sua autoridade reconhecida.

Quando entrar na sala dos professores vai parecer-lhe que está ao pé do muro das lamentações, mas não se iluda porque não está, está, sim, perante professores que se preocupam com a falta de condições que os seus alunos têm para estudar em casa, a falta de atenção que os pais lhes dão e, por vezes, com a violência com que os alunos são tratados em casa…e com a falta de respostas que a Escola tem para dar.

Veja os professores a compararem graus de dificuldade das fichas que querem dar aos alunos, veja os professores no computador a procurar respostas para os seus problemas, ou a procurar exemplos pedagógicos mais motivantes ou, ainda, a mandar mails para os colegas do mega agrupamento.

Veja os professores sorridentes, positivos, até que alguém lhes lembre o corte abusivo, no ordenado e a progressão na carreira congelada. Mas mesmo assim, verá professores que não desistem, que puxam dos seus conhecimentos e ânimo para seguirem em frente.

Senhor Ministro aproveite estes professores e os outros mais desiludidos para não cortar os parcos recursos que a Escola Pública tem. O dinheiro dos contribuintes é para o bem dos cidadãos, não para o bem dos juros da dívida!

A nossa Escola Pública é de Qualidade, desde que tenha recursos humanos e materiais, desde de que os assistentes operacionais saibam trabalhar com a comunidade educativa, ou seja, que haja momentos em que possam estar com o corpo docente para resolverem os problemas de alguns alunos, por vezes é no corredor que o fazem, o que não dignifica nenhum deles.

O Senhor Ministro já pensou que muitos professores também têm família e problemas de desemprego em casa?

Só se intervém quando se sabe o que na realidade se passa com as pessoas. Senhor Ministro suba à realidade, e digo suba de propósito porque a vida dos professores, dos assistentes operacionais, dos alunos, dos pais dos alunos estão acima daquilo que tem feito pela Educação, pela Educação que não queremos. As suas opções são opções neo liberais que rejeitamos.

Se sabe que rejeitamos, e está a fazer a reforma do ensino à força, sem a vontade de quem a vai receber e aplicar, sendo assim, isso tem um nome, que não quero recordar pelas más memórias que iria trazer a todos nós.

Se não sabe, então a Educação não é da sua competência e seria melhor voltar aos gabinetes da sua Faculdade e “dar” as suas aulas, porque nisso parece que é competente.

 

 

2 Comments

  1. Luísa, está cheia de razão e talvez até de esperança. As suas aspirações são legítimas. Da minha parte sugiro que deixemos a visita do ministro para segundas núpcias, talvez para quando houver um novo. Para já proponho que o actual ministro seja empossado como ministro da deseducação e, aproveitando o ensejo, que empossemos também um ministro do desemprego e da injustiça social, um outros para as falências em vez da actual pasta das finanças, etc, etc, etc.
    Boa sorte… lol

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