EDITORIAL – RANA PLAZA – O DESABAMENTO FOI HÁ UM ANO

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No dia 24 de Abril de 2013, o Rana Plaza, um edifício de oito pisos, localizado em Savar, nos arredores de Dacca, capital do Bangladesh, desabou provocando uma catástrofe que causou 1127 mortes, segundo o balanço oficial final. O edifício era propriedade de Sohel Rana, um líder local da Liga Awami, um dos principais partidos do país, e que actualmente está no poder. Não se pode dizer, em circunstância nenhuma, que se tratou de um desastre inesperado, pois houve alertas sobre o estado da construção, e nesta eram visíveis rachas que tornavam clara a ameaça iminente do desabamento.  Funcionavam ali um centro comercial, um banco e fábricas de vestuário, assim como creches para os filhos das mulheres que trabalhavam no Rana Plaza. A maioria das vítimas eram mulheres trabalhadoras e seus filhos. As fábricas onde trabalhavam forneciam grande parte dos seus produtos às grandes marcas do mercado mundial, que a elas recorriam para tirar partido dos baixos custos que ali lhes eram proporcionados.

Este horrível acidente só foi possível devido à ganância e à incúria. Ganância e incúria de várias partes, mas sendo justo dar o primeiro lugar a quem põe as suas margens de lucro, em detrimento de outras considerações, com destaque claro para as grandes marcas e o proprietário do edifício. A par destes, as autoridades do Bangladesh, que nunca deviam ter permitido que a degradação do edifício chegasse ao ponto de ruir daquela maneira. As informações que há permitem insistir no ponto de que se poderia ter evitado a catástrofe se não fosse a ganância de uns e a incúria de outros. Não será exagero dizer que estes dois flagelos andaram a par em muitos casos. Também é de assinalar que várias das grandes marcas têm estado muito renitentes em pagar indemnizações às famílias das vítimas. E que no Bangladesh e noutros países continuam a acontecer situações semelhantes.

Nas nossas comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril de 1974 é justo deixar este voto de pesar e solidariedade pelas vítimas do Rana Plaza, as suas famílias e o povo do Bangladesh. Nós cá também somos vítimas de ganância e incúria, embora não se tenha chegado a extremos tão brutais. Pelo menos para já. Mas, para além da solidariedade que devemos ter com as pessoas, também podemos comprovar que os valores de Abril têm muita razão de ser. O combate à ganância e à incúria integram-se neles totalmente. Lembremos o caso da ponte de Entre-os-Rios. E outros mais terão ocorrido.

 

Nota – se clicar na etiqueta rana plaza, na parte debaixo deste post, terá acesso a artigos publicados em A Viagem dos Argonautas sobre o que ali ocorreu.

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