IN MEMORIAM DE UM AMIGO/ARGONAUTA : SÍLVIO CASTRO (1931-2014) – por Manuel Simões

Sílvio Castro, recebendo Jorge Amado e Zélia Gattai na Universidade de Pádua

Imagem3Nesta manhã aparentemente tranquila, cai de repente a notícia da morte, ocorrida ontem, sexta-feira, na sua amada Veneza, de um amigo de eleição, amizade que remontava à minha chegada à cidade lagunar em Novembro de 1973.

Nascido em Laranjais (Rio de Janeiro) em 26 de Novembro de 1931, Sílvio Castro transferiu-se em 1962 para Itália, criando os cursos de Língua e literatura portuguesa e de literatura brasileira, primeiro em Veneza e, a partir de 1964 em Pádua, onde exerceu a actividade docente até 2005.

Estudioso de reconhecida competência, deixou uma obra notável como poeta, romancista, ensaísta, historiador literário e crítico de literatura e de arte. A sua marca mais original é talvez a do ensaísta, salientando-se a sua monumental História da Literatura Brasileira (3 volumes, Lisboa, 1999-2000), um projecto que nasceu de uma proposta de Carlos Loures e sobre o qual o grande crítico Wilson Martins reconheceu a originalidade de abordagem e uma nova visão da literatura brasileira. Mas já anteriormente Sílvio Castro tinha publicado duas obras de referência: A Revolução da Palavra (Petrópolis, 1976) e Teoria e Política do Modernismo Brasileiro (Petrópolis, 1979).

Ocupou-se igualmente de literatura portuguesa, publicando vários ensaios sobre muitos autores (Camões, Saramago, etc.), relevando aqui O Percurso Sentimental de Cesário Verde (Lisboa, 1990) e o mais recente e nosso conhecido Poesia do Socialismo Português.1850-1974 (Lisboa, 2010).

Como romancista, não posso equecer a belíssima ficção Memorial do Paraíso (o romance do descobrimento do Brasil) que teve a primeira edição em italiano, com ilustrações do pintor Luigi Rincicotti (Veneza, 1991) e que só conheceu a ed. em português numa editora de Porto Alegre em 1999. E como poeta estreia-se em 1956 com Infinito Sul, a que se seguiram, entre outros títulos, Poesia Reunida (1998), Gira Mu(o)ndo (2003) e Poemas Construtivos (2007).

Ao caro amigo Sílvio, em memória dos muitos projectos culturais que conseguimos organizar e das muitas conversas pelas ruas e pontes de Veneza, cidade que ambos trazíamos no coração, esta singela mas sincera e comovida homenagem.

11 Comments

  1. Não há palavras que cheguem par exprimir o choque e a dor que causam a morte de um amigo como o Sílvio Castro. Nem para referir a perda que significa a sua morte em todos os campos onde ele marcava presença tão notável, Em A Viagem dos Argonautas vamos sentir uma grande falta insanável. E com certeza que em todos os lugares onde o Sílvio marcava a sua presença. A literatura, o ensino, a lusofonia perderam uma enorme personalidade.

    Peço à Anna Rosa que aceite esta humilde homenagem. E um abraço, da minha esposa Helena Maria e meu

    João Machado

  2. A última vez que estive com Sílvio Castro, foi num alegre almoço na Antiga Casa Pessoa, com a esposa, Anna Rosa, com o Manuel e com minha mulher. Foi um convívio muito agradável, como sempre eram os encontros com o Sílvio. As suas gargalhadas intemináveis eram contagiantes. Os projectos eram muitos. Sempre foram muitos os projectos e sempre se foram concretizando. Agora, pela primeira vez, alguns ficarão por fazer. Sílvio Castro, grande poeta, grande amigo – grande perda.

  3. Amb l’amistat literària que ha anat travant la presència dels articles de Silvio Castro en aquest espai que compartim i que ens uneix amb els lligams de les idees, de les inquietuds i de moltes vocacions que contribueixen a fer del món un espai més noble i més digne per a tots, el meu sincer condol a la família i als amics argonautes.

  4. Meu amado tio, que fará sempre parte do meu imaginário de criança, com suas histórias, contos e poemas, com sua alegria de viver e seu otimismo contagiante. Será sempre parte da minha alma e do meu coração. Vá com Deus!! Um grande beijo para o meu tio preferido, da sobrinha que te ama para sempre.
    Rossana Castro

  5. Meu amado tio, que fará sempre parte do meu imaginário de criança, com suas histórias, contos e poemas, com sua alegria de viver e seu otimismo contagiante. Será sempre parte da minha alma e do meu coração. Vá com Deus!! Um grande beijo para o meu tio preferido, da sobrinha que te ama para sempre. Rossana Castro

  6. Sílvio,
    Foi há um ano (quase exactamente…) que tive a oportunidade de te ver e de travarmos mais algumas animadas e sempre enriquecedoras (para mim) conversas pessoais, enquanto tomávamos uns aperitivos ou almoçávamos, na nossa tão amada Veneza.
    O teu desaparecimento é uma enorme perda para a cultura, em particular a que se exprime nas línguas portuguesa e italiana, eu sei.
    Mas a perda do meu amigo, isto é, de futuros encontros e futuras conversas, da tua sabedoria serena, da tua experiência – cultural e de vida -, que me chegavam também através da ligação proporcionada por estas novas tecnologias, não tem dimensão em que caiba.
    Estou a olhar para a fotografia, na prateleira da estante à minha frente, em que estás comigo e a minha mulher, há alguns anos, numa esplanada do Campo Santa Margherita, quando nos conhecemos pessoalmente e fiquei ciente do raro ser humano que sempre foste e de como conhecer-te era um privilégio para mim.
    E foi numa esplanada em Santa Margherita, junto à tua Universidade Ca’ Foscari, que tomámos o último aperitivo juntos, conversando sobre o Gonçalo M. Tavares e outras literaturas, após uma sessão dedicada ao último livro traduzido para italiano desse autor.
    Ao despedirmo-nos, acenaste da esquina da Calle de la Chiesa.
    Não sabia, na altura, que seria junto a essa esquina, acenando, que ficarias no meu coração para todo o meu sempre. Mas aqui estás.

    Aproveito para expressar a nossa solidariedade, minha e da Margarida, para com a tua mulher, que nos apresentaste nessa mesma sessão, e todos os teus familiares, que perderam o aconchego da tua presença física.

    Dentro de mim, abraço-te como sempre.

    Paulo

  7. Agradeço ao querido amigo Manuel Simões, a quem tive o prazer de conhecer em dezembro de 1991, o carinhoso artigo em homenagem ao meu Tio. Agradeço também às palavras amigas dos demais que aqui fizeram seu registro.
    Meu Tio Silvio deixará para sempre um vazio em meu coração. Não tenho palavras para expressar a influência que teve em minha vida, como pessoa e como intelectual. Jamais vou esquecer do seu inesgotável otimismo, da sua energia, dos seus intermináveis projetos literários, que sempre levou a cabo. Sempre foi intelectual de ação, nunca parou de escrever e trabalhar, mesmo nos últimos anos de sua vida, já calejado e afetado pelos problemas de saúde. Nunca vou esquecer do Tio sorridente, amigo, carinhoso, brincalhão, sempre fazendo piadas e, ao mesmo tempo, sempre ensinando. Nunca vou esquecer de nossas conversas, no Brasil e na Itália, nunca esquecerei de suas estórias, nem de sua amizade.
    Querido Tio, vai em paz, que você merece. Agora você também virou literatura, como tantos outros escritores antes de você, e que você tanto admirou e estudou. Agora vc também pertence ao Tempo.

    Saudade.
    Rodrigo de Oliveira Castro

  8. Meu amado tio, que fará sempre parte do meu imaginário de criança, com suas estórias, contos e poemas, com sua alegria de viver e seu otimismo contagiante. Será sempre parte da minha alma e do meu coração. Vai com Deus!! Um grande beijo para o meu tio preferido, da sobrinha que te ama para sempre e que nunca vai te esquecer.
    Rossana Castro

  9. Meu amado tio, que fará sempre parte do meu imaginário de criança, com suas estórias, contos e poemas, com sua alegria de viver e seu otimismo contagiante. Será sempre parte da minha alma e do meu coração. Vá com Deus!! Um grande beijo para o meu tio preferido, da sobrinha que te ama para sempre. Saudade infinita.
    Rossana Castro

  10. As más notícias não nos abandonam, agora a que me dá a conhecer a morte de alguém que conheci e desde logo passei a estimar. Foi em Veneza, em 2 de Agosto de 2009, numa esplanada à beira do Grande Canal, olhando a «Ponte di Rialto», que o Sílvio veio ao meu encontro para falarmos da edição de «Poesia do Socialismo Português.1850-1974 (Lisboa, 2010)», edição essa que tinha o apoio da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, após ter conseguido um subsídio do Montepio Geral, subsídio esse que daria para a edição mas não para pagar os direitos de autor. Posto o problema, logo o Sílvio me disse «Antônio, não será por isso.» e acordámos os exemplares que teríamos de lhe dar.
    O Sílvio esteve presente no lançamento do livro, no Museu do Neo-Realismo, e eu fiquei feliz por ele se ter mostrado muito satisfeito pela qualidade da edição.
    Se há outro mundo no além, vamos encontrar-nos de novo e acordar outras edições; entretanto, meu caro amigo, vou folhear os livros da tua autoria que me ofereceste, começando por reler as dedicatórias.
    Até sempre, Sílvio!
    António

  11. Só agora e com choque apreendo da morte do amigo Sílvio. E talvez esta minha seja da mesma natureza da dele quando lhe tinha comunicado da morte do poeta Vasco Graça Moura. Ele me disse:” o que é preciso fazer é que vc envie a sua tradução, sem nunhum comentário, da poesia do Vasco Graça Moura. E vamos para diante”. Um abraço. Simonetta

Leave a Reply to Rossana CastroCancel reply