O PERCURSO DA MEMÓRIA – por MANUEL SIMÕES
Nas tardes sem vento, desertas.
o ar oscila entre os dedos,
entre os desvios do corpo e, sinuoso,
alastra pelas veias despertas.
Aviva-se a paixão e a memória:
obstinada lâmpada contra o rosto
como nos interrogatórios, na tortura
dos inquisidores, e o acordar opressivo
junto às dunas vermelhas, seu peso
flutuando rente aos pulsos. Só então
o impulso, agudo e tenso, investe o tecido
nervoso contra o percurso do silêncio.