Voltemos ao livro HISTÓRIAS DE LONGE E DE PERTO, editado pelo Secretariado Coordenador dos Programas de Educação Multicultural, em Lisboa em 1997 e com o apoio da Comissão Europeia. Mais dois textos de meninos vindos de Cabo Verde, ou já cá nascidos. São ambos da mesma escola – a escola básica nº 55 nos Olivais, em Lisboa. São ambos da mesma criança. Se no primeiro texto afirma não saber o que é um poema, no segundo (resultado de uma boa intervenção pedagógica?) conseguiu fazê-lo. Como temas centrais temos o vento, a sua intervenção na agricultura e o sol. Que será feito do Luís Carlos? Continuará a escrever poemas?
Eu ainda não sei o que é um poema
Ontem esteve sol, e o luar brilhando e quando a chuva batia nas árvores. E, quando a chuva parava, a gota caía da árvore e algumas flores cresciam.
O vento, o vento mau, levava algumas folhas bonitas e algumas velhas, e algumas sementes. Os agricultores semeavam e elas cresciam, cresciam até as outras flores ficarem bonitas. E as flores começaram a crescer mais alto. Até os animais e os agricultores ficaram admirados com as flores e deitaram mais sementes na terra.
Ficaram, ficaram noite e dia, a ver as sementes e depois é que se lembraram que era Verão e nunca mais a chuva vinha regar as sementes.
Luís Carlos, 11 anos
O tempo que passa
Ó tempo fizeste
um bom trabalho
fizeste a chuva
cair para regar
a minha horta.
Obrigado por tudo
o que fizeste por mim.
Eu tenho pena de ti,
tens que ir embora
para chegar a tempo do sol.
Adeus amigo até breve.
O sol foi embora
o vento, o terrível, veio.
Ele acordou-me
do meu sono.
A janela abriu-se
com o sopro dele,
os sacos da rua
voam com ele.
Que malvado que és
não me deixas
dormir!
Tranquei a janela
e dormi profundamente.
Luís Carlos, 11 anos