DÍVIDA ARGENTINA – UM DISCURSO DO SENADOR FEDERAL BRASILEIRO ROBERTO REQUIÃO

Obrigado ao Camilo Joseph

Senado Brasileiro

Senado Federal

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Secretaria de Taquigrafia e Redação de Debates Legislativos

Parte III

(CONCLUSÃO)

O que resta de consciência de civilização se levanta contra os abutres e vampiros do capital financeiro e contra sua corte de gendarmes, a pretensamente honorável corte suprema dos Estados Unidos. Grita a Celac, grita a Unasul, o Mercosul e o Parlasul. Somos todos argentinos neste momento. Como disse a Presidente Cristina na ONU: “somos vítimas seriais dos lobistas, que especulam sobre países que caem em moratória”. Essa é a história da Argentina, mas pode ser a história de outros países. Pode ser a história do Brasil, com o aprofundamento da crise econômica.
Concluo este pronunciamento com uma convocação aos partidos políticos, aos movimentos sociais, às igrejas, aos jogadores de futebol e às torcidas, que estão com as atenções voltadas para a Copa do Mundo: cerremos fileiras com a Argentina! Defendê-la neste momento é defender a vida contra a força bruta dos agentes da morte, os vampiros e abutres do capital vadio. É preciso que a voz forte da consciência latino-americana se levante, como se levantou em tantos outros momentos da história, como na Guerra das Malvinas, para expressarmos sem titubeios nossa indignação contra os ataques vis que sofre, neste momento, a nação argentina e, por via de consequência, o Mercosul.

(Soa a campainha.)

O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB – PR) – Cerremos fileiras com o Papa Francisco contra o capital financeiro selvagem, contra a força bruta do capital e dos seus juízes, contra Mamon, contra o poder do dinheiro. Neste momento, em especial neste momento tormentoso e difícil, sejamos todos argentinos. Sejamos argentinos no futebol, contra a Bélgica, para que logo depois voltemos a ser brasileiros na vitória final que, suponho, será do Brasil contra a Argentina, na Copa. Mas, neste momento em que a soberania, em que a vida de um povo é ameaçada, nós, latino-americanos, somos, Senador Suplicy, todos argentinos.
Concedo um aparte ao Senador Suplicy.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT – SP) – Considero esse pronunciamento de V. Exª de extraordinária importância. Acredito que os jornais da Argentina irão divulgá-lo e o recomendo que o façam, mas também os jornais latino-americanos e mesmo os jornais dos Estados Unidos, como The New York Times, The Washington Post, The Wall Street Journal, o Los Angeles Times, para citar alguns dos principais. V. Exª, primeiro, de uma maneira bastante didática, nos explicou como é que o governo argentino, seja com Nestor Kirchner e depois com a Srª Presidenta Cristina Kirchner, procurou ter uma atitude de bom senso perante os seus principais credores. Não tinha consciência do que V. Exª hoje explicou didaticamente. Ou seja, diante de uma dificuldade tão grande de pagar todos os credores, o governo argentino – em troca das taxas de juros altas que estavam cobrando e das quantias muito significativas, acima de sua capacidade, e para, justamente, não dizer que não poderia pagar – propôs a todos que, a longo prazo, cobrassem taxas de juros mais baixas, mas com o compromisso de que…
O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB – PR) – Seriam pagas.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT – SP) – Todos seriam pagos. Isso é de fundamental importância
Isso é de fundamental importância e também de bom senso. Acredito que qualquer grande devedor que por alguma circunstância inesperada venha a ter uma situação de dificuldade perante os seus credores venha a propor uma solução dessa natureza. Daí V. Exª explicou, se pude compreender bem, que uma proporção muito pequena – acho que 7%, salvo engano, V. Exª mencionou – preferiu não aceitar esses termos. E para cobrar aquilo que era além da conta foram aos tribunais de Justiça, às cortes de Justiça dos Estados Unidos, que então resolveram estender, aceitar a cobrança daquilo que havia sido entendido primeiramente com o governo argentino e ainda com a possibilidade de estender aos outros 93% igual direito, para que não ficasse uma questão de iniquidade.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB – PR) – Não é uma possibilidade, Senador, é uma certeza, em função da isonomia da cobrança dos títulos.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT – SP) – Pois bem. Se isso for levado adiante, poderá levar a um estrangulamento da economia argentina. Ora, o bom senso indica outro caminho. Inclusive, Senador Roberto Requião, eu estive por três dias, agora, em Montreal, no Congresso da Rede Mundial da Renda Básica. Nesse evento, houve pelo menos duas sessões discutindo o livro Capital no Século 21, de Thomas Piketty, que justamente mostra como, nos países desenvolvidos, nesses últimos períodos de grande crise, houve um desenvolvimento caracterizado por uma concentração de renda e de riqueza nas mãos dos grupos financeiros mais poderosos simplesmente extraordinária. Um pouco diferente do que temos tido no Brasil, felizmente, com os programas que têm sido adotados nos últimos 12 anos. Ora, nessas circunstâncias, as recomendações feitas, mencionadas por V. Exª, pelo Papa Francisco indicam que um caminho melhor deve ser adotado e que tenhamos todos os latino-americanos a consciência disso. E expressarmos também então a solidariedade à Argentina é importante.
Com respeito à Copa do Mundo, há um fenômeno formidável que está acontecendo nesses últimos dias …

(interrupção do som)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT – SP) – … aqui no Brasil, há um fenômeno (Fora do microfone) simplesmente extraordinário que nunca houve. Uma verdadeira ocupação, invasão a chegada de um número de dezenas de milhares de argentinos em nossas cidades que estão acompanhando os jogos da Argentina. São Paulo viveu um domingo e por toda a parte, não possível que todos coubessem no estádio de Itaquera, o Itaquerão, então, eles se concentraram no Anhangabaú, dezenas de milhares, outros foram à Vila Madalena, outros foram a outras partes. Por toda a parte se viam os argentinos com suas camisetas e as bandeiras numa espécie de congraçamento. Há ocasiões em que os brasileiros torceram contra a Argentina. Mas é interessante esse fenômeno confraternizador que o futebol, o esporte propicia. Então, o discurso de V. Exª vem nesse momento em que diz que gostaria até que possa a Argentina eventualmente chega à final com o Brasil na Copa do Mundo. Se isso acontecer, teremos um jogo simplesmente fantástico com alguns dos maiores craques do futebol, Messi de um lado, Neymar do outro, num duelo que vai ser civilizado, de proporções simplesmente fantásticas, emocionantes, e para algo que é em favor do respeito mútuo e da paz entre os povos. Quando, nos últimos dias, li as notícias sobre o enterro de jovens tanto na Palestina quanto em Israel, e os bombardeios aqui e acolá, fico pensando como é que essa confraternização de povos no Brasil que se dá com a Copa do Mundo é tão significativamente exemplar. Meus cumprimentos a V. Exª.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB – PR) – Obrigado. Presidente, requeiro à Mesa, dentro das normas regimentais, que este meu pronunciamento seja enviado para o Senado argentino, com destino a sua Presidência e à Mesa do Senado.

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Para ler a Parte II deste discurso do senador federal brasileiro Roberto Requião, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

DÍVIDA ARGENTINA – UM DISCURSO DO SENADOR FEDERAL BRASILEIRO ROBERTO REQUIÃO

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