DENIS MUKWEGE, O MÉDICO QUE JÁ REFEZ O CORPO MUTILADO DE MAIS DE 21 000 MULHERES VIOLADAS por clara castilho

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O Prémio Sakharov é atribuído pelo Parlamento Europeu a pessoas e organizações que lutam pela “liberdade de espírito” e pelos direitos do homem.

Este ano foi entregue a Denis Mukwege, médico ginecologista do Congo. Nesse país, mais precisamente na cidade de Butayu,  gere um hospital. Especializou-se no tratamento de mulheres que foram violadas por milícias na guerra civil do Congo, sendo um dos maiores especialistas mundiais na reparação e tratamento de danos físicos provocados por violação. Tratou mais de 21 000 mulheres durante os 12 anos de guerra, algumas mais do que uma vez, chegando a fazer mais de 10 cirurgias por dia em dias de trabalho de mais de 18 horas.

Este seu trabalho já tinha sido, das mais variadas formas, reconhecido. Já recebera o Prémio Olof Palme e  sido escolhido como Africano do Ano, em 2008.

Somos capazes de perceber estas atrocidades? De nos comover, isso somos, se bem que ficando sem saber muito bem o que fazer. Nestes casos, achamos que é bem lá longe, fruto de guerras e de ignorâncias, de insensibilidades que não têm nada a ver connosco. Será? Sabemos o que se passa na casa do vizinho? Ou fazemos ouvidos moucos quando ouvimos vozes mais exaltadas, esperando que se calem e não tenhamos que tomar posição em situações em que nos questionarmos se alguém está a ser vítima?

As consequências físicas de relações sexuais inapropriadas nem sempre são como resultado de violações. Muitas vezes são dentro da “legalidade”, dentro do casamento em que, em vez de mulheres adultas, temos jovens ainda não preparadas fisicamente. Já temos abordado a questão do casamento de meninas muito jovens. Por exemplo, no Yemen, uma menina de 8 anos morreu depois de ter sido agredida sexualmente por seu marido, de 40 anos. E muitas outras…Mas uma outra, de 11 anos, conseguiu fugir de casa e denunciou a sua família que a queria forçar a um casamento não desejado, a troco de dinheiro. Isto num país que tinha aprovado uma lei em Fevereiro de 2009 que estabelecia como idade mínima para o casamento os 17 anos. E que aconteceu? A lei acabou por ser revogada porque os legisladores conservadores a consideraram “anti-islâmica! A jornalista francesa Delphine Minou publicou o livro “Chamo-me Noyud, tenho 10 anos e estou divorciada” onde aborda estas questões.

Voltemos ao trabalho do médio  Denis Mukwege. As suas denúncias de pouco têm servido para acabar com a situação com que luta.  Em 2011, um estudo do American Journal of Public Health contabilizava um milhar de ataques sexuais por dia no antigo Zaire, quase meia centena por hora.  Denis Mukwege afirma: “Vi vaginas onde espetaram pedaços de madeira, de vidro, de aço. Vaginas laceradas por lâminas de barbear, por facas, por baionetas. Vaginas queimadas com borracha em brasa, com soda cáustica. Vaginas em que deitaram gasolina e depois pegaram fogo”».

Isto vai para além do nosso entendimento? Sim, assim como os campos de concentração, as torturas actuais em várias frentes de guerra. Assim como todas as situações em que o ser humano não é capaz de empatia e de reconhecer os direitos do próximo, muitas vezes justificando todas as atrocidades em nome de causas.

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