Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
Howard Fineman, Remember The Fresh Promise Of Barack Obama? What Happened To That Guy?
Huffington Post, 13 de Outubro de 2014
Posted: 10/13/2014 7:36 am EDT Updated: 10/21/2014 12:59 pm EDT
WASHINGTON — Enquanto viajava recentemente, fui questionado várias vezes com a mesma pergunta , em Pequim, Auckland ou em Roma: “O que aconteceu com Barack Obama?”
Isto realmente significa várias perguntas: o que aconteceu àquela cara fresca, àquele idealista? O que aconteceu com o seu poder e a sua popularidade nos Estados Unidos? Porque ele não dominar o palco político da mesma forma que já fez uma vez ? Porque é que ele não é tão eficaz como nós pensamos que ele seria?
Algumas respostas:
O Médio Oriente. A região para a qual ele tinha inicialmente ideias sábias faz dele, na menos má das hipóteses, um homem muito confuso. A sua promessa de acabar com o que acabou por ser uma guerra de nove anos no Iraque ajudou-o a ganhar a Presidência. Mas enquanto Osama bin Laden já morreu, o Estado Islâmico aterroriza as pessoas no seu lugar. E o Presidente que ganhou um prémio de Nobel pelos seus objectivos idealistas está fazer cair uma chuva de bombas sobre o território sírio e resiste aos apelos para pôr os pés na terra r ” as botas no chão”.“boots on the ground.”
Questão de palavras. Formado como um advogado, Obama deve estar consciente da utilização da ambiguidade naquilo que diz. Mas ele faz declarações arrebatadoras que prejudicam a sua credibilidade. Ele assegurou a todos os americanos que o seu plano de saúde lhes permitiria “manter o seu médico .” Não era bem verdade. Ele declarou que se o presidente sírio Bashar Assad atravessasse uma “linha vermelha” e utilizasse armas químicas, os EUA responderiam severamente. Ele disse e não fez. Obama disse que o Ebola era “altamente improvável” chegar aos Estados Unidos; duas semanas mais tarde uma vítima morria em Dallas.
Expectativas nas alturas. Obama chegou à cena pública tal como um Kennedy, com um optimismo caloroso e jovem, credenciais da Ivy League e uma óbvia prova de que a América estava a ultrapassar o seu “pecado original”. A história da sua vida foi um triunfo do multiracialismo e do internacionalismo. Pela sua própria natureza, ele iria acabar com as guerras, fazer as pazes com o Islão, ajudar os oprimidos e salvar os EUA e a economia mundial. Estas expectativas (que ele fez o melhor para manter ) eram impossíveis de satisfazer. Ele ainda não o fez . Ninguém poderia.
A Internet. A ascensão do Obama foi meteórica até para os padrões americanos. As razões são em parte da era do digital. Ele é verdadeiramente a primeira “marca pessoal” viral na Casa Branca. Mas a política é ainda mais instável na era do Facebook, do Twitter e de Instagram..–e mais fragmentada também. Obama teve sucesso há seis anos por abrir novos caminhos em torno dos “centralizados” media. Mas agora Obama acha mais difícil chamar atrair a atenção das pessoas no meio da cacofonia digital. A Internet já foi para outras marcas e para outras tendências.
A economia. O registo de Obama é, nesta matéria, mais sólido do que as críticas e até mesmo alguns amigos o admitem. O seu calmo apoio para os primeiros resgates financeiros cedo o ajudou a evitar a catástrofe. Os seus “estímulos” funcionaram alguma coisa. A equipa manteve a economia dos EUA em melhor posição do que muitos outros países para competir (e cooperar) com a China. O plano de saúde do Obama, embora dificilmente implementado, tem ajudado milhões e levantou a questão da necessidade de regulação sobre as seguradoras.
Obama foi re-eleito em 2012 nesta base, mas ainda não ganhou apoio consistente. Porquê?
Porque os ricos ficaram mais ricos, enquanto a classe média fica estagnada no que toca à repartição do rendimento. A produtividade aumenta; os salários reais não. A mensagem implícita de Obama é a seguinte: “Sem mim, teria sido pior.” Ele está certo, mas dificilmente este poderá ser um slogan inspirador.
Washington. Obama prometeu acabar com a disfunção na Administração. Ele não o fez. Uma razão é estrutural: o Presidente dos EUA, contudo carismático, não é um chefe de partido, um primeiro-ministro ou o rei. Os nossos pais fundadores dividiram o poder, e continua a estar dividido.
Os republicanos tornaram a situação ainda mais difícil para Obama. Os novos presidentes utilizaram o período inicial da sua Presidência com o que se chama período de “lua de mel”. Ele não o fez. No dia em que assumiu o cargo em 2009, os republicanos uniram-se para traçarem a sua morte política e surgiram com um pretensão de publicamente fazerem dele no máximo um Presidente para um só mandato.
Racismo. Os americanos debatem se e em que medida, a raça é um factor das dificuldades do Obama. Uma qualidade que se tornou fonte de inspiração para muitos..–o primeiro Africano-americano na Casa Branca, faz dele uma figura perigosa para alguns. Aqueles que negam que a raça possa ser um factor das suas dificuldades não conhecem a América. Aqueles que afirmam que a raça é tudo também não conhecem a América.
Competência. Obama evitou uma catástrofe administrativa dramática, como a que se verificou nos tempos de Bush com Katrina, e o seu mandato tem sido relativamente livre de corrupção venal. Mas a gestão quotidiana é uma outra questão. O lançamento de sua nova lei sobre o sistema saúde em que pessoalmente tanto se empenhou foi um verdadeiro caos, a melhoria na segurança das fronteiras tem sido irregular e a resposta inicial para o surto do Ebola foi lento e discreta. A ameaça da difusão do Ebola poderá ir a dominar os últimos dois anos do seu mandato.
Obama, ele próprio. Embora muitíssimo orgulhoso e confiante em público, Obama também é cauteloso e desconfiado. Ele prefere a complexidade à simplicidade. Saudado durante toda a sua de político pelas suas qualidades e pelas suas pioneiras realizações, ele tem-se dado ao respeito mesmo quando não se goste dele. Obama gosta de colocar os outros à vontade e não procura o confronto. Tem procurado resolver as suas dificuldades mais através da sua simpatia, da sua argumentação e capacidade de convencimento e da sua calma do que pelo confronto duro e imediato.
A sua natureza contemplativa, pensativa e sempre cheio de esperança fizerem dele um eleito . Tudo isto o tornou crítico face ao Congresso e às desagradáveis realidades políticas em geral. Obama trouxe consigo o seu próprio círculo de colaboradores de Chicago e a equipa com quem fez a campanha de 2008, e com a maioria dos quais ainda continua a trabalhar de muito próximo. Obama não fez muitos amigos em Washington..–ou melhor ganhou antes ferozes inimigos pessoais, mas quanto a isso parece não se incomodar.
Mas o mundo está hoje em estado de sítio, tornando-se fácil concluir que a violência e os confrontos são hoje uma necessidade. A sua liderança será testada nestes seus dois últimos anos de Presidência como nunca o foram até agora. Os EUA já não são a potência mundial de outrora, mas o seu papel continua a ser central e indispensável. “O que aconteceu com Obama”, nas questões anteriores é muito menos relevante do que o que se irá passar com ele a partir de agora.
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Ver o original em:
http://www.huffingtonpost.com/2014/10/13/barack-obama-legacy_n_5967084.html