Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
A Quantitative Easing de Draghi: uma saída da crise ou o último prego no caixão da Europa?
7. A Quantitative Easing do BCE: Demasiado tarde para se poder contar com ela
Tony Yates, Much too late and not to be counted on.
Blogue longandvariable, 21 de Janeiro de 2015
Este é o meu ponto de vista e por diversas razões.
Em primeiro lugar, o impacto das políticas macroeconómicas é em parte ligado ao impacto que têm sobre as expectativas. A forma lenta como foi desenhada, a sua relutância em levá-la à prática, por etapas, com que o BCE lidou com a crise até agora [exceptuando as OMT, tudo foi lentamente concebido e relutantemente aplicado] e as disputas e discussões que têm existido sobre se e como fazer a QE, nomeadamente, para atenuar a crise e de forma robusta. A QE do BCE por tudo isto deve ser comparada com a QE3 do Fed, ou com a mais recente aplicação de QE no Japão. Nestes dois casos tratou-se de mudanças políticas audaciosas e determinadas com muito pouco do nevoeiro que actualmente existe nas controvérsias sobre a QE que só obscurecem os seus prováveis efeitos, ou a determinação da formulação de conjuntos de políticas necessárias.
Em segundo lugar, na medida em que a QE funciona pela sinalização de intenções sobre futuras taxas de juro do Banco Central, há agora muito pouco a ser feito por meio de um estímulos utilizando esta via de resposta à crise. Por causa de se agir tão tarde, a recessão tem conduzido a conjunturas sobre o que o BCE normalmente faria com taxas de juro a descerem e de tal forma que estas geram uma curva de rendimentos (a yield curve) que é praticamente uma linha para que eles entregam uma curva de rendimento quase plana. Expectativas sobre futuras taxas não podem cair muito mais.
Em terceiro lugar, tanto quanto a QE actua sobre a redução de prazos, da liquidez ou de outros prémios de risco, é também tarde demais para isso. Algo esmagou esses prémios de risco nos países do Norte. E o risco reflectido nos persistentes prémios de risco nos países do Sul que não venha a afectar as respectivas contas públicas. Para quem está no lado dos que acreditam que este risco em qualquer caso não é um risco concreto, isso não constituirá um grande sacrifício. Mas também não haverá outros grandes benefícios a assinalar.
Existe muita gente que irá ficar com a ideia de que a QE trará um aumento enorme na massa monetária M. [Sem dúvida esperam que o PBI cresça mais do que os 5% até agora esperado]. E, eles terão um motivo, desde claro que se verifique MV = PT em todos os momentos, pois isto significa que a QE implicará um aumento saudável em P. No entanto, a teoria – que sugere que no limite da taxa de juro nominal a zero um aumento sem limites M não afectará P – e a experiência do BoJ, Fed e BoE, não é animadora para os bancos quanto à utilização do canal monetário.
O melhor que deve ser dito sobre a QE do BCE é que esta não fará provavelmente mal nenhum e vale apenas como aplicação de um remate. A menos que a sua rotulagem como “o socialismo monetário” [excerto tirado da imprensa alemã, GH Mark Shieritz/Christian Odendahl] conduza os políticos do norte a redobrar de facto a sua oposição ao “velho e bom socialismo orçamental”, que, poderia ser agora uma muito melhor aposta.
P.S. Sobre a dimensão do programa QE. Assim o que leio pressupõe que tenha havido fugas de informações e que há uma proposta para fazer a QE em 50 mil milhões mensalmente. A esta taxa serão necessários 10 meses para se obter a taxa de 5% do GDP nominal da zona euro. E consequentemente 60meses=5 anos obteríamos então 30% do PIB, uma acção de dimensão à que foi realizada pelo Fed e no Reino Unido. O que, no caso do Reino Unido, não resolveu, evidentemente, o nosso problema deflacionista [consideravelmente mais suave]. Ainda assim, para quem é crente na QE, não deixe de respirar.
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