CRÓNICAS DO QUOTIDIANO – E TUDO O SEXO LEVOU! – por Mário de Oliveira

quotidiano1

 

As sombras andam por aí. Deveria andar a realidade. Gostamos mais das sombras. A realidade assusta-nos. Tem rostos de vítimas. Gritos. Dores. Anseios. Preferimos as sombras projectadas na tela duma sala às escuras. A luz revela-nos. Diz-nos. Fugimos dela. Fugimos de nós. Vivemos mascarados, ano após ano. Odiamos a luz. As obras que fazemos são más. Não podem ser vistas. Somos filhas, filhos de mulher. O que é bom. Apresentamo-nos como filhas, filhos do Poder. O que é mau. Gostamos de ser temidos, mais do que amados. Quem ama, sofre. É relação. Família à escala cósmica. Amar exige tudo de nós. Não é sucesso. É dádiva. Entrega recíproca. Vidas unidas pelo mesmo projecto criador. Um projecto que faz quem ama crescer de dentro para fora. Em humano. Nada mais belo do que amar. Nada mais tenebroso do que odiar. Quando trocamos a realidade pelas sombras, desistimos do Humano. Do ser. Ficamos abortos, a abortar o mundo. Em questões de Humano, permanecemos ainda na idade da pedra. O subdesenvolvimento é total. Somos o grande problema do universo. Possessos de pavor. Até de nós próprios. E uns dos outros. A agressividade só se desenvolve onde há pavor. Onde há amor, é a paz, o pão nosso de cada dia. As fábricas de armamento são a mais atroz confissão pública da nossa recusa de amar. Em questões de Humano, somos totalmente analfabetos. Ainda nem sequer percebemos que não temos sexo. Somos sexuados. Da ponta dos cabelos às unhas dos pés. O sexo independente do Humano mata o amor, a relação, a comunhão. Só corpos sexuados são humanos. O Mercado autonomizou o sexo e fez dele uma mercadoria. A mercadoria rainha! Odeia os corpos sexuados que não se compram nem se vendem. Os negócios do sexo rendem milhões. Mas matam que se fartam! Nada mais descriador do Humano do que o sexo mercadoria. Nada mais fecundo do que corpos sexuados. No Mercado, até a cama mata. Cria solidão. Bem se pode então dizer, E tudo o sexo levou. Corpos sexuados precisam-se. São eles que salvam o mundo.

13 Fevº 2015

 

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