EDITORIAL – 40 anos depois…

Plogo editorialreocupados com o futuro, gostamos de dar espaço à história, pois como dizia o poeta António Maria Lisboa, «O Futuro é tão antigo como o Passado. E ao caminharmos para o Futuro é o Passado que conquistamos! » E, passando hoje o  40º aniversário do golpe spinolista do 11 de Março,  dedicamos a essa data histórica alguns posts escalonados ao longo da edição de hoje e que consistem basicamente numa cronologia que refere os acontecimentos mais relevantes da agressão com que a direita militar se quis defender de uma suposta vaga de «violência vermelha» que iria executar, além do general Spínola, muitas centenas de outras personalidades de direita. A informação proveniente da polícia secreta espanhola, veio afinal potenciar a força da esquerda e desencadear o «processo revolucionário em curso», o chamado PREC.

Porém, quando se fala de esquerda e da «força da esquerda», é bom lembrar que a esquerda não constituía um todo. Enquanto a direita, unida por interesses, não se dividia por princípios, a esquerda estava profundamente segmentada – nas assembleias populares – comissões de trabalhadores ou de moradores, lutava-se pela hegemonia – e, muitas vezes, o «inimigo» não era o fascista, mas sim o pecepista, o pró-albanês, o pró-chinês, o trotskista… Essa divisão ficou bem patente quando no mês seguinte, em 25 de Abril de 1975, decorreram as eleições para a Assembleia Constituinte – o PS obteve 38% dos votos expressos e 116 deputados, o PPD 26,5% e 81 lugares, o PCP 12,5% e 30 deputados, o CDS 7,6% e 16 eleitos, o MDP-CDE 4,14% e 5 deputados, a UDP, 0,79% e 1 lugar. Muitos dos que nas manifestações de rua gritavam contra o capitalismo e contra a direita, na altura de votar, optaram por formações conservadoras – uma separação entre o que se pensa e o que se faz.

Nos dias de hoje, continua esta maneira de viver a democracia. A condenação deste miserável executivo parece ser extensiva a todo o espectro político. Vozes oriundas dos partidos da maioria mostram o seu descontentamento e revelam divergências profundas. Pensa-se que nas próximas eleições o PSD e o CDS serão derrotados. Mas a percentagem dos votos que irão obter será, em todo o caso, surpreedente, segundo prevemos. Para já não falar que o PS, provável vencedor, seguirá uma política que, no essencial, não poderá ser muito diferente da seguida pelo actual governo.  Seremos masoquistas? A síndrome de Estocolmo, patologia do foro psicológico em que o prisioneiro sente admiração pelo carcereiro, tem em nós um exemplo perfeito.

 

Leave a Reply