Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
A Alemanha, o seu papel nos desequilíbrios da economia real- o outro lado da crise de que não se fala
Uma análise assente na divisão internacional do trabalho[1]
Uma colecção de artigos de Onubre Einz.
IV – O CRESCIMENTO ALEMÃO DINAMIZADO PELAS EXPORTAÇÕES EM QUE AS RAZÕES PARA A PROCURA DE MAIOR COMPETITIVIDADE VALEM TUDO
Onubre Einz, La croissance allemande par les exportations où les raisons de la recherche de la compétitivité à tout prix
Criseusa.blog.lemonde.fr., 08 mai 2013
(CONTINUAÇÃO)
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3.° Os países mais relevantes para o crescimento das importações no PIB alemão
As importações permitem-nos somente frisar alguns detalhes relativamente ao que já se afirmou. Deve notar-se que as importações alemãs vindas da Europa aumentaram fortemente. A estagnação do papel das importações americanas são confirmadas enquanto a África está a progredir lentamente. São sobretudo as importações vindas da Ásia que pesam mais fortemente mas a sua progressão não é comparável com a da Europa.
As importações alemãs aumentam, é verdade, já antes das reformas de Schröder, mas não aumentam mais do que as exportações. É normal para uma grande potência comercial ter excedentes na sua balança comercial. O ano anterior às reformas de Schröder não mostra um aumento das importações: elas estagnam.
Assim, as reformas de Schröder não tinham o carácter de urgência que as justificasse aos olhos da opinião pública.
4.° Os principais países que contribuem para o crescimento líquido da riqueza na Alemanha
A análise da balança comercial da Alemanha permite ver mais claramente os benefícios que trazem para a Alemanha as suas trocas com os diferentes continentes do mundo. Trata-se de um enriquecimento em termos líquidos.
Enquanto o desenvolvimento do papel das importações e exportações permite falar sobre o papel crescente do comércio no desenvolvimento de um país, os excedentes permitem-nos determinar quem ganha mais com estas trocas.
Os componentes continentais da balança de pagamentos alemã são claros: a Alemanha obteve um aumento líquido de 5 p.p. do seu PIB com as suas trocas cada vez mais desequilibradas com a Europa, entre 1999 e 2008, o que é enorme.
A balança comercial dos alemães com o continente americano tem variado sem realmente tomar um rumo marcado, seja por uma diminuição ou um aumento forte e suficientemente sustentado. Finalmente, o comércio com a Ásia teve altos e baixos entre 1999 e 2005, mas, desde essa data, os alemães reduzem tendencialmente os seus défices.
Uma análise mais precisa do gráfico permite-nos reafirmar algumas ideias: antes de 2001 nenhuma degradação de competitividade é discernível, as trocas com os seus parceiros europeus e americanos são vantajosas. Só as trocas com a Ásia são modestamente negativas, mas são largamente compensadas com as trocas com a Europa e a América.
No ano anterior às reformas de Schröder não se detectava nada de preocupante. É normal que uma crise leve a uma perturbação pontual do comércio que não assume nenhuma proporção alarmante.
As reformas de Schröder resultaram num grave desequilíbrio nas trocas comerciais da Europa, enriquecendo a Alemanha e privando todos os seus parceiros europeus de riqueza.
O crescimento europeu beneficiou a Alemanha durante este período.
Depois de 2008, a crise europeia (a que voltaremos) resultou numa desaceleração acentuada dos excedentes alcançados com outros países do continente europeu. A desaceleração do crescimento do PIB na Alemanha explica as contribuições dos países da América e Ásia para a balança comercial, onde o crescimento foi mais sustentado.
Compreender-se-á melhor este último ponto, mostrando as componentes (geográficas) da balança comercial, tendo em conta o valor do saldo da balança comercial.
Evidentemente, os excedentes são criados nas costas dos outros países europeus e num espírito que não é o do restabelecimento da competitividade perdida. Este argumento é uma mentira.
Houve uma degradação da balança comercial com a Europa no final da década de 1990, mas os largos excedentes da Alemanha persistem. A situação alemã não é preocupante: o saldo com os EUA continua a crescer durante o mesmo período.
Se olharmos para o ano que precede as reformas Schröder não se nota nenhuma perda de competitividade. Na verdade, o problema da perda de competitividade não é pertinente na Europa. Dever-se-ia antes falar de reequilíbrio. A perda de competitividade seria mais relevante com a Ásia, mas com esta última o saldo não deixou de variar no período anterior a 2000, tanto no sentido da alta como no da baixa.
A problemática pertinente relativamente à Alemanha deve ser expressa em termos de vantagens claramente procuradas e alcançadas. É a partir dos anos Schröder que se procura o máximo de vantagens a alcançar pela Alemanha sobre os outros países e esta prática assemelha-se a um cavaleiro isolado a apontar em todas as direcções (e recorrendo a todos os meios) com particular relevo aos países europeus.
Resta assim determinar onde é que se quer chegar na Alemanha com esta política e sobretudo quem é que a pretende impor. A população alemã como um todo? Nada disso é menos certo: os cinco primeiros decis das famílias não beneficiaram deste crescimento, sustentado pelas exportações, essas famílias pagaram-no também. São os decis entre 50-100, que tiraram bem as castanhas do fogo e, entre eles, com particular realce estão os decis superiores (80-100) e especialmente o último decil, o dos 10% mais ricos, que mais beneficiaram com os frutos do crescimento.
(continua)
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Para ler a Parte 2 deste trabalho de Onubre Einz, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:
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