APRENDE-SE A PRÁTICA DA VIOLÊNCIA QUANDO A ELA SE ASSISTE por clara castilho

Casos recentes de mortes de crianças nos têm chocado, muitas relacionadas com violência doméstica. Falaremos delas noutro momento, ligando-as com as respostas que deveriam ser possíveis, a título de prevenção e com a psicopatologia que lhes poderá estar associada.

Outro assunto, que pensos estar relacionado, é a da violência no namoro. Quando se aceita que tal aconteça, ainda nos primórdios de uma relação, está-se já a aceitar o que poderá surgir mais à frente, muitas vezes já com filhos a serem vítimas.

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A  PSP informou que, nas queixas apresentadas, nos estabelecimentos de ensino, públicos e privados., tinham aumentado, no ano de 2014, as que se referiam à violência no namoro.

No ano anterior, em 2013, que correspondia  ao 1º ano da operação de sensibilização, as ocorrências tinham sido de 1050. Ora, em 2014 foram de1549 queixas. Fazendo uma média, dá mais de 4 queixas por dia.

A participação começa geralmente com um professor ou de um agente da Escola Segura da PSP, para prosseguir com audição na polícia. Em caso de violência física poderá ser realizado um exame pericial.

Têm estas denúncias consequências práticas? Muito raramente. Como a violência no namoro não é crime, quem a pratica geralmente não sofre consequências, sendo raro a queixa ter prosseguimento para o Ministério Público.

Dentro desta tipologia entram as agressões físicas e as psicológicas. Cerca de 80% das queixas de violência psicológica vêm de raparigas, embora os rapazes também sejam vítimas.

Questionamo-nos: será que há mesmo mais violência? Ou será que há menos disponibilidade para aceitar que essa violência é “normal” ? De facto, ainda muitos jovens “toleram” e chegam a “desculpabilizar” a violência: “Ora, ele só fez aquilo porque estava descontrolado, perdeu a cabeça” ; “Não quero fazer nada, tenho medo e o perder”; “ela é tão querida, às vezes tem a língua afiada e arranja sarilhos, está sempre a mandar mensagens, umas não são verdade…, os seus beijos são tão gostosos….”.

A vivência de uma liberdade igual, tanto pelos rapazes, como pelas raparigas implica o respeito pelo outro em todos os seus aspectos. Respeito que se aprendeu em casa, que se aprendeu na escola e que se aprende todos os dias em sociedade. No que se refere à sociedade, sabemos como esse respeito nem sempre é transmitido.

É um facto que a violência não é só exercida sobre a mulher/rapariga. Algumas vezes, só algumas, em termos estatísticos, é o contrário. Quando tudo aponta para uma sociedade em que o papel da mulher é subalterno, a relação de poder que uma criança, que um jovem “aprende” é a de que a mulher está em segundo lugar, é fácil não se dar a devida importância à necessidade de igualdade. Por mais campanhas anti-violência que haja, ficará sempre a ideia do poder do masculino.

 

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