A CRISE NA ESPANHA JÁ PERTENCE À HISTÓRIA? por Edward Hugh – VI

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Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

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A crise na Espanha já pertence à história?

Edward HughIs The Crisis Now History In Spain?

A Fistful of Euros – European Opinion, 14 de Abril de 2015 

(CONTINUAÇÃO)

E não esqueçamos o défice orçamental

Os dirigentes de Espanha estão muito orgulhosos da evolução do crescimento recente do país, e também gostam de afirmar que isso se deve em grande parte à política de austeridade que têm vindo a aplicar. O que estes dirigentes não mencionam muitas vezes é que o país teve o maior défice orçamental da UE em 2014 (5,7% do PIB) e fará o mesmo em 2015 (cerca de 4,5% do PIB). Na verdade, os objectivos do défice em Espanha foram puramente e simplesmente relaxados e várias vezes nos últimos anos, pelo que estamos muito longe de poder considerar este resultado como uma vitória para a austeridade mas sobretudo devem ser vistos antes como uma vitória para aplicar estímulos adicionais.

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Entre a queda dos preços, o elevado défice orçamental, as ultra baixas taxas de juros e os fortes influxos de fundos externos, seria surpreendente se a Espanha não estivesse a ficar melhor neste momento. Um maior teste virá como todos estes bons ventos começarem a mudar de direcção. A Espanha deve estar provavelmente a ter um saldo orçamental primário excedentário (receitas menos despesas públicas e com exclusão do serviço da dívida) antes de 2017 – a Grécia, deve-se lembrar, está a ser pressionada para ter um saldo orçamental primário entre 3% e 4% do PIB. Se a Espanha eventualmente conseguir ter um excedente primário, será certamente interessante ver qual será então a taxa de crescimento. Entretanto, o nível de dívida soberana vai passar dos 100% do PIB este ano e continuará a aumentar.

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As consequências económicas do declínio demográfico: o custo de não fazer nada

Os riscos sociais e políticos associados ao facto de a Espanha ter conduzido um processo de ajustamento económico muito longe de estar completo estão agora a tornar-se evidentes, mas há também consequências económicas a longo prazo, as quais podem não ser muito perceptíveis neste momento. As pessoas estão muitas vezes demasiado ocupadas a festejar um regresso de curto prazo ao crescimento para se questionarem sobre a complicada questão de saber onde é que tudo isto leva.

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O resultado mais óbvio de se ter um elevado nível de desemprego durante um longo período de tempo – a taxa global da Espanha não será inferior a 20% antes de 2017, e isto na melhor das hipóteses – é que as pessoas estão constantemente a deixar o país em busca de melhores oportunidades noutros lugares. Inicialmente este novo dado era negado oficialmente, e uma vez que há pouco interesse político nesta questão ainda não temos qualquer medida adequada de quantos jovens espanhóis de sólida formação estão agora a trabalhar fora do seu país de origem. Evidência anedótica, no entanto, sustenta a ideia de que o número é grande e que se trata de um fenómeno generalizado. Existem com frequência muitos artigos na imprensa popular mas estes são enganadores, simplesmente porque os jornalistas não têm dados melhores do que as pessoas que trabalham nestas matérias. Por outro lado, trabalhar como o fazem os investigadores no Banco de Espanha ((Spain: From (massive) immigration to (vast) emigration? – 2013) serve apenas para ilustrar o quão pouco sabemos, especialmente sobre os movimentos dos cidadãos espanhóis.

Por outro lado, quando se trata de fluxos migratórios entre não nacionais, temos informação de muito melhor qualidade devido à existência do registo municipal de uma base de dados electrónica. Todos os que desejam ser incluídos no sistema de saúde precisam de estar registados para esse efeito (sejam eles migrantes em situação regular ou em situação irregular), e os cidadãos não espanhóis precisam de se re-registar com uma certa frequência (para que as autoridades saibam se deixaram ou não o país). Para uma discussão mais completa sobre as questões económicas levantadas pelo declínio da população da Espanha, veja-se o meu texto:

Why Is Spain’s Population Loss An Economic Problem“.

edwardhugh - XXXIV(continua)

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Para ler a Parte V deste trabalho de Edward Hugh, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

A CRISE NA ESPANHA JÁ PERTENCE À HISTÓRIA? por Edward Hugh – V

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Edward Hugh, Is The Crisis Now History In Spain? Texto publicado em A Fistful Of Euros-European Opinion, disponível em:

http://fistfulofeuros.net/afoe/is-the-crisis-now-history-in-spain/

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