A IDEIA – CRONOLOGIA DO SURREALISMO EM PORTUGAL – 1 – por António Cândido Franco

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(1923 – 199#)

António Maria Lisboa1953 – António Maria Lisboa, nas edições Contraponto de Luiz Pacheco, publica Isso Ontem Único, seu terceiro e último opúsculo. Mário Cesariny nas mesmas edições dá a lume Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos. Escreve Titânia, história hermética em três religiões e um só Deus verdadeiro, com vistas a mais Luz como Goethe queria; o livro só verá a luz em 1977 (segunda edição em 1994, com importante texto final deste ano ou do anterior); é-lhe aplicada, pelos serviços da Secção Central da Polícia Judiciária de Lisboa, pena de cinco anos de liberdade vigiada, por “suspeito de vagabundagem”. Morte de António Maria Lisboa em 11 de Novembro, sozinho, em Lisboa, num quarto do bairro da Graça. Na Escola de Belas Artes de Lisboa, ESBAL, reúnem-se Lourdes Castro, René Bertholo, João Vieira, Gonçalo Duarte e José Escada, nascidos todos entre 1930 e 1935. António Ramos Rosa anota em recensão, no quarto e último número da revista Árvore, cuja chancela editara em 1952 Carlos Eurico da Costa, o poema, ou a sucessão deles, Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano de Mário Cesariny, edição da chancela de Luiz Pacheco. Publicação póstuma do livro de Teixeira de Pascoaes, A Minha Cartilha, onde o autor advoga a seu modo, mas sem subterfúgios (o livro não foi à censura e teve apenas uma edição privada, fora do comércio), o comunismo libertário. Criação informal do Grupo Surrealista de Luanda em volta da primeira exposição de Cruzeiro Seixas, no mês de Novembro. Polémicas nos jornais luandenses em volta do surrealismo. Primeiro número da revista Médium, publicação do surrealismo francês. Em Janeiro, trigésimo e último bilhete surrealista no hebdomadário da Federação Anarquista Francesa Le Libertaire, onde André Breton dera a lume (n.º 297, 11-1-1952) La Claire Tour, que abre com a declaração foi no espelho negro do anarquismo que o surrealismo se reconheceu pela primeira vez. A colaboração entre os dois lados começara com a publicação em 12 de Outubro de 1951 no jornal do texto “Surrealismo e Anarquismo – Declaração Prévia”, manifesto a favor da fusão, ou da complementaridade, destas duas correntes. Em 1984, Pietro Ferrua, a propósito destes textos, falará de anarco-surrealismo.

1954 – As edições Contraponto de Luiz Pacheco editam o manifesto colectivo do grupo

(1925 - 2008)
(1925 – 2008)

dissidente“Os Surrealistas” Afixação Proibida, criado em 1949 e colaborado por Pedro Oom, Henrique Risques Pereira, António Maria Lisboa, Mário Cesariny. O texto colectivo foi composto ao que parece em casa de António Maria Lisboa, em voz alta, segundo processo heterodoxo do cadavre-exquis e esteve de início para se chamar “Única Razão Ardente”; a edição tem desenhos de Cruzeiros Seixas. Fernando Alves dos Santos, em edição de autor, publica Diário Flagrante, seu primeiro livro. Isabel Meyrelles publica Palavras Nocturnas, seu segundo livro. Mário Cesariny escreve a primeira versão do prefácio da sua tradução de Une Saison en Enfer de Jean-Arthur Rimbaud; cita aí Teixeira de Pascoaes, entre André Breton e Raimundo Lull. Primeira exposição de Eurico Gonçalves, com texto de apresentação de Mário Cesariny. André Breton, a propósito dum livro de Joyce Mansour, Cris, fala do ‘ultra-negro’ da orquídea. O surrealismo francês continua a exprimir-se pela revista Médium (n.º 2, Fevereiro; n.º 3, Maio).

(1923 - 199#)1955 – Natália Correia publica, em edição de autor, Poemas. Luiz Pacheco e Mário Cesariny conhecem Virgílio Martinho e António José Forte no Café Royal (?). O surrealismo francês continua a exprimir-se pela revista Médium (n.º 4, Janeiro); neste número André Breton publica o texto “Do surrealismo em suas obras vivas”, talvez o mais importante de toda a produção teórica do seu autor e aquele que melhor perspectiva a diferença e a actualidade do surrealismo.

1956 – Por iniciativa de Mário Cesariny, exposição na livraria Parceria António Maria Pereira, Lisboa, de capas-objectos para aobra póstuma de António Maria Lisboa, A Verticalidade e a Chave. Nas edições de Luiz Pacheco, Mário Cesariny edita o livro Manual de (1923 - 2006)

Prestidigitação; o mesmo publica no Diário de Notícias o texto “Razão e Actualidade de Gérard de Nerval” (depois recolhido em As Mãos na Água A Cabeça no Mar). O grupo da Escola de Belas Artes de Lisboa aluga um sótão no prédio do restaurante Beira-Gare, no Rossio, na esquina da estação dos comboios. João Vieira escolhe o café Gelo para bica e copo de água, que depressa se torna ponto de encontro do grupo da ESBAL e dos seus amigos. Helder Macedo e Manuel de Castro são dos primeiros a chegar. Também Mário Cesariny (e com ele por certo Luiz Pacheco e Pedro Oom) chega no momento inicial às reuniões do grupo. Dá-se a si mesmo, devido à situação de liberdade vigiada a que está sujeito, com obrigação de apresentações periódicas na Polícia Judiciária, a alcunha de “o penado”. O surrealismo em França cria um novo órgão de expressão, Le Surréalisme Même (n.º 1, Dezembro). Denúncia surrealista da invasão da Hungria pelo exército soviético; o manifesto, cujo título pertence a A. Breton, Hongrie, Soleil Levant, aparece no jornal Le Monde Libertaire (n.º 23, Dez., 1956), que se seguiu a Le Libertaire. Benjamin Péret no Brasil.

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