BISCATES – G1 – “O mundo que preparam os que nos governam” – por Carlos de Matos Gomes

biscatesOs chefes dos 7 países mais industrializados do mundo, o G7  – uma designação de marca branca para designar o verdadeiro conjunto: G1- os EUA + os seis  aliados mais poderosos, os g6 – reuniu-se na Alemanha (Baviera) para um conferência de 2 dias destinada a debater os “problemas do mundo”.

Segundo a imprensa internacional para os chefes deste mundo do G1+6 são dois os problemas do mundo: As terríveis ameaças da Rússia à Ucrânia e a terrível teimosia do governo da Grécia em aceitar que os chefes do G1+6 continuem a espremer os gregos.

Guardian: G7 summit: Greek bailout, Ukraine and climate top agenda for Bavaria meeting;

Reuters: G7 leaders urge tough line on Russia at Alpine summit

Time: Obama Works to Mend U.S.-German Ties at G7 Summit – Obama press secretary Josh Earnest said Merkel and Obama spent most of their meeting talking about the importance of showing unity in speaking out against Russia as Moscow “has essentially thumbed their nose at the commitments they made in the context of the Minsk negotiations.” Earnest said Obama is pushing Europe to preserve sanctions against Russia until Moscow lives up to that agreement, but he couldn’t say the president is confident they will elect to do so later this summer.

Finantial Times: The agenda includes the health of the global economy, the conflict in Ukraine and the Greek crisis is likely to be discussed.

USA Today : Russia left in summit cold for second year running.  WASHINGTON — For a second year in a row, the annual summit of major world economies will exclude Russia when the group’s leaders convene Sunday in a German castle.  The Kremlin’s absence from the two-day meeting of the Group of Seven or G-7 underscores a widening East-West split prompted by the conflict in Ukraine.

Le Matin: Le G7 inflexible envers Moscou et uni face au terrorisme.

Liberation:  Le G7 inflexible avec Moscou sur l’Ukraine

Tribune de Genéve: Obama et Merkel veulent maintenir les sanctions contre Moscou

TF1: Sommet du G7 : Obama est arrivé, l’Ukraine et la Grèce au coeur des discussions

L’ Express: Le psychodrame grec et la crise ukrainienne s’invitent au G7 en Allemagne

O Público, em português, resume muito bem o objetivo: “Obama quer todos contra Putin”.

 Estes são os “problemas do mundo” dos nossos chefes, dos chefes da Europa. São a prova de que eles não consideram problemas sérios questões como o facto estarem em causa quer o modelo civilizacional, quer os equilíbrios políticos em que vivemos após a II Guerra Mundial. Nem assuntos como a amplitude e perenidade do desemprego na União Europeia, em particular entre a população jovem e nos países do Sul. Ou a progressiva irrelevância deste antigo espaço dominante na cena internacional, a sua incapacidade para assegurar o acesso às fontes de energia em que assentou o seu desenvolvimento (o petróleo) e para impor a sua moeda. Os chefes europeus não se preocupam com o problema da Europa ser um espaço decadente, à deriva e dependente dos EUA. Também não sentem as novas ameaças vindas dos movimentos e forças explosivas que se distribuem ao longo das fronteiras da Europa, do Afeganistão ao Magreb, num arco que passa pela Siria, Iraque, Península Arábica, Palestina, Libano, Egito, Líbia, Argélia, pois que não lhes merecem mais do que uma referência de pé de página na habitual rúbrica de combate ao terrorismo.

A vaga de migrantes que atravessam o Mediterrâneo é um outro dos não problemas do G7, para quem aquelas massas de gente surgiram das areias do Sara. Na realidade essas vagas humanas têm causas conhecidas e até responsáveis conhecidos – todos sentados à mesa do castelo bávaro com a sua caneca de cerveja. A apatia dos chefes dos países mais ricos do Mundo, entre eles os europeus, diz-nos que estamos perante um ato deliberado, embora de fins obscuros.

Os sinais da cerimónia de vassalagem dos europeus ao chefe do império realizada na Baviera são assustadores. Transmitem a ideia de estarmos a viver no limiar da loucura que caracteriza os períodos antes das guerras, quando os equilíbrios que permitem o domínio se rompem. Todos os impérios vivem dos recursos alheios e é vital manter a capacidade de os controlar. Os EUA sentem-se desafiados por novas potências emergentes. Não admira por isso que esta cimeira tenha tido como foco o afrontamento dos Estados Unidos com a Rússia (o adversário mais conveniente no momento) e tenha servido para o G1 tocar a reunir aos seus subalternos do g6. Os meios de comunicação social traduziram para as opiniões públicas aquilo que os chefes nos querem fazer crer que são os problemas. Na verdade eles preparam-se e preparam-nos para nos deixarmos cozinhar em mais uma das suas guerras.

 James Rickards (cronista do New York Times) designou como “ A guerra das moedas”, a ameaça ao dólar feita pela nova moeda de troca mundial ensaiada pela China. Esta ameaça questiona a capacidade dos Estados Unidos continuarem a imprimir o dinheiro do mundo a seu bel-prazer e de lhe vender a sua dívida.

A referência à crise grega nesta magna reunião deve ser vista à luz do grande conflito que os EUA pretendem resolver com Rússia, antes da disputa decisiva com a China. A Ucrânia é apenas um leitmotiv. Mas os espíritos europeus ainda não estão suficientemente amadurecidos para o va-t-en-guerre. Há que lhes dar tempo. A falência da Grécia e a sua saída extemporânea do Euro podiam precipitar o enfrentamento. Por isso Obama aconselhou prudência e compreensão relativamente à dívida grega. Em conclusão: a Grécia não sairá para já do euro. A Inglaterra do prometido referendo nunca sairá da União Europeia. É tempo de cerrar fileiras.

Os degolados e os degoladores do “Estado Islâmico”, as mulheres sem direitos sob seu domínio, as violências das petroditaduras da Arábia e de África, os massacres na Palestina, os náufragos do Mediterrâneo e do Índico, as convulsões na África Central, tudo isso foi reunido num único ponto da agenda do G1+6 que, segundo a imprensa, teve direito a cerveja, salsichas e pretzels: como unir as forças antes do confronto. Foi isso que todos os meios de comunicação social refletiram nos seus títulos.

A referência da agenda ao clima está tão deslocada como uma flor numa caserna. Disfarça o cheiro pesado da morte.

2 Comments

  1. Os policias do Planeta andam a brincar com o fogo,depois quem se vai lixar ?. Os mesmos de sempre ,os desprotegidos e pobres.

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