FRATERNIZAR – A Encíclica “Laudato si” (Louvado sejas) – por Mário de Oliveira

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Tiros de pólvora seca que deixam ainda mais doente o nosso mundo!

246 parágrafos e 172 citações

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 As afirmações mais bombásticas são outros tantos tiros de pólvora seca que deixam a situação ecológica do mundo ainda mais doente. Porque não passam disso mesmo, tiros de pólvora seca, que as grandes multinacioanais agradecem. A Encíclia parece pôr o dedo na ferida. Agrava-a ainda mais. Ninguém tenha ilusões. Estava anunciada como a Encíclica-bomba. É um extenso documento, em 246 parágrafos e que conta 172 citações, especialmente de entidades cristãs católicas, nomeadamente, Conferências episcopais de múltiplos países. Os grandes teólogos da teologia da libertação e ecoteologia são ignorados. Como são ignorados ou referidos apenas de relance os maiores especialistas mundiais na área da defesa do ambiente, com destaque para os grandes Foruns mundiais sobre o ambiente, bem como os principais cientistas críticos do sistema capitalista neoliberal que tem por pai o próprio judeo-cristianismo.

 Nunca o papa poderia admitir que o judeocristianismo que professa e que o reconhece papa e Sua Santidade, é o pai do neoliberalismo que está a destruir a vida humana e a vida do planeta Terra. Seria o mesmo que ditar a sua própria sentença de morte. Porque não o faz, nem poderia fazer, neste extenso documento, a nova Encíclia não passa de mais do mesmo, ainda que dito-escrito numa linguagem “verde” para melhor enganar os incautos e os papa-idólatras que gostam de ser enganados, porque odeiam a luz, a verdade. E matam-na, lá, onde ela aconteça, se faça ser humano consequente. Uma realidade que o papa não é, nunca pode ser. Luz, verdade, ser humano e papa, são realidades incompatíveis. É de Jesus, o filho de Maria, o crucificado pelo mesmo sistema deísta que criou o papado, o mantém e justifica, até, teologicamente.

 Aliás, o títiulo da Encíclica, Laudato si, Louvado sejas, as duas primeiras palavras do hino de S. Francisco de Assis, não engana. O papa mantém, neste enorme documento, a sua postura moralista, ingénua, ultraleve, bonacheirona que carecteriza o seu pontificado. Escoilheu o nome Francisco, o  de Assis, mas mantém de pé a Cúria romana que manifestamente prefere seguir o exemplo do pai de Francisco. Fala muito em pobres e em pobreza, mas continua a receber em audiência os principais chefes de estado do mundo ocidental, responsáveis políticos maiores dos males mortais que afectam hoje o nosso planeta e o estão a levar a passos largos para a implosão da vida que nele existe. A continuar assim, manter-se-á o planeta a dançar em torno do sol, mas progressivamente sem vida, inclusive, sem vida humana. O grande exemplo que esta Encíclica nos apresenta é o de S. Francisco de Assis, um místico poeta da Idade Média que quis uma alternativa à vida de luxo e de corrupção do papa e da sua Cúria, mas que, por fim, não resistiu a fazer-se clérigo menor, só para, assim, poder ver aprovada por ele a Ordem que queria fundar e que veio a ser crismada, Ordem de S. Francisco, hoje, uma empresa multinacional constituiída por celibatários com voto de pobreza, grande parte dos quais clérigos-sacerdotes.

Estamos perante uma overdose de doutrina cristã que abre com o lírico Cântico de S. Francisco e encerra com duas fórmulas de oração, da responsabilidade do próprio papa, qual delas a mais teologicamente vazia. Ou cheia, mas de uma teologia deísta cristã, totalmente oposta à teologia de Jesus Nazaré. Uma teologia que, primeiro, mata o justo, como matou Jesus na cruz do império, e, depois, o canoniza-transforma em mito e põe a render dinheiro para a Cúria romana. Por mais que o papa pretenda que esta sua Carta seja acolhida pelos homens de boa vontade, não há boa vontade que aguente semelhante arrazoado teológico cristão moralista-deísta, totalmente fora do Humano, como é timbre do cristianismo. Muita doutrina, muito palavreado, nenhuma prática alternativa à do sistema neoliberal que tem o cristianismo por pai. São palavras que o vento leva e que amanhã já ninguém se lembra de que foram escritas.

 O seu destino são as prateleiras das grandes bibliotecas das universidades católicas do mundo e dos cartórios paroquiais e episcopais. Os bispos poderão gastar horas e horas a falar desta Encíclica, mas continuarão a não mexer uma palha pela mudança de postura dos católicos em relação à vida sobre a Terra, cada vez mais em vias de extinção. As paróquias e as dioceses continuarão a gastar o seu tempo com os ritos das missas pelas “almas” dos mortos, quantas mais “almas” melhor, 10€ cada uma, numa prática que perfaz um crime e uma blasfêmia, sem que a Cúria romana queira saber, nem a Polícia de cada país. Trata-de um roubo às famílias, prisioneiras da crendice e do medo dos castigos eternos, já que a fé cristã que professam é uma fé religiosa, quanto mais sadomasoquista, melhor. Uma féque que as desumaniza e descria.

 O papa apoia-se fundamentalmente na Bíblia, a começar pelas narrativas do Génesis. Ainda mantém na sua cabeça o mito do pecado original e fala dele como se fosse uma realidade histórica que aconteceu. Todos os males, em seu entender, vêm daí. O papa ainda não compreendeu, nem nunca poderá compreender que a Bíblia do judaísmo e do cristianismo, à excepção dos 4 Evangelhos em 5 volumes, das Cartas de João e do Apocalipse que não deviam sequer figurar lá, é o maior manual de instruções do Poder, hoje, sobretudo financeiro, o Pecado estrutural do mundo. Esquece o papa que é o próprio mito bíblico das origens que fala em “dominar a terra”. Ser cristão é igual a ser dominador da terra, das pessoas, da vida. Quanto mais dominador, mais cristão.

Em vez de desmascarar esta teologia bíblica, fonte de todo o Mal, e apresentar a teologia de Jesus, intrinsecamente amiga do Humano, da vida, do ambiente, apoia-se nela para elaborar este seu documento vazio de qualquer força alternativa e de qualquer interesse. As grandes multinacionais podem continuar a dominar o mundo, que o Deus da bóblia gosta e abençoa os seus negócios. E ainda se chegou por aí a anunciar que esta encíclica do papa vinha abalar as grandes multinacionais. Pelo contrário, vem reforçá-las. Porque, à luz desta Encíclica, as multinacionais vão poder concluir que são os braços compridos de Deus, o da Bíblia. E continuarão a enaltecer o papa Francisco, seu compincha, tanto mais eficaz, quanto mais enaltecido por tudo quanto são grandes media mundiais.

 Custa bastante a ler tão extenso documento. Custa, sobremaneira, ver várias vezes citado “São João Paulo II”. A simples designação, São João Paulo II já nos arrepia, tantos os crimes de acção e de omissão que ele protagonizou na história. Mais nos arrepiam as suas incoerentes palavras, sem qualquer correspondência na sua prática papal quotidiana. Também custa ver o Catecismo da Igreja Católica várias vezes citado, quando se sabe que é um catálogo de inverdades, de mitos, de doutrina cristã sem qualquer base histórica, como, de resto, é todo o cristianismo, fundado sobre o mito Cristo ou Jesuscristo. Se as pessoas estavam à espera de uma autorizada contribuição para uma mudança estrutural do mundo, a partir das grandes multinacionais, desenganem-se. A encíclica é mais do mesmo, reciclado em linguagem franciscana, quer dizer, muito para lá das nuvens, das estrelas, quando o planeta Terra geme a bom gemer, não com dores de parto como diz o papa, numa citação de S. Paulo, inserida na Encíclica, mas de uma irreversível agonia que a está a atirá-la para o abismo.

Uma fraude de todo o tamanho, esta Encíclica do papa, em seis capítulos, qual deles o mais inócuo, o mais cristão, o mais bíblico, o mais perverso, o mais vazio de Humano. Nos antípodas de Jesus e do seu Evangelho que diz, sem que a voz lhe trema, Não podeis servir a dois senhores. Não podeis servir a Deus (os seres humanos, a Terra), e ao Dinheiro, as multinacionais, a Cúria romana, nem que o seu chefe-mor se faça chamar de Francisco.

É muita pena que tenhamos de continuar nesta cada vez mais apagada e vil tristeza. Com a bênção e as rezas do papa Francisco e muitas outras pessoas que dizem amen com ele. É muita pena! Ainda assim, uma conclusão positiva resulta desta Encíclica. Eis: Do papa e da Cúria romana, nunca a humanidade pode esperar a salvação. Esta, só a Humanidade a traz dentre dela. É a Humanidade, não o papa, que tem de crescer de dentro para fora e mudar este nosso mundo, desde a raiz. Concretamente, desde o Humano, não desde o cristão = o poder. Aproveitemos esta lição. O resto, podemos deitá-lo fora, como se faz ao sal que perde a força de salgar e de impedir a corrupção.

 

 

 

1 Comment

  1. À sua brilhante interpretação da Encíclica só falta acrescentar um poema.
    Aqui fica:

    CALEMBUR

    Ó Jesuítas, vós sois dum faro tão astuto,
    Tendes tal corrupção e tal velhacaria,
    Que é incrível até que o filho de Maria
    Não seja inda velhaco e não seja corrupto,
    Andando há tanto tempo em tão má companhia.

    – Guerra Junqueiro

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