Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
As quatro vias para acabar com a crise na Grécia
Jim Tankersley, The four ways to end the Greek crisis, from Obama’s former top economist
Washington Post, 29 de Junho de 2015

Não foi há muito tempo que Austan Goolsbee[1] deixou de trabalhar na Casa Branca, como economista principal do presidente Barack Obama, e uma crise financeira na Grécia estava já então a ameaçar a economia global. Agora Goolsbee está de volta ao ensino e à sua Universidade de Chicago, Obama está a meio caminho do seu segundo mandato … e na Grécia está em crise crescente actualmente.
Diz-nos Goolsbee que não nos devemos surpreender pelo que se está a passar, porque a Grécia e os restantes Estados membros da zona euro estão prisioneiros de um ciclo de choques assimétricos – o que quer dizer, eles estão a ver o que acontece quando diferentes partes de uma zona monetária unificada está a ser sujeita a eventos económicos de impactos muito diferentes entre os diferentes países. A Grécia está em recessão, com baixo crescimento na produtividade, enquanto países como a Alemanha estão a ter as suas economias em expansão e com a produtividade a aumentar a um ritmo mais rápido que o da Grécia. Se a Grécia tivesse a sua própria moeda, esta desvalorizaria contra os seus vizinhos até que o crescimento económico e o da produtividade voltassem a existir.
Sendo assim, disse-nos Goolsbee numa entrevista por telefone na segunda-feira, há apenas quatro maneiras de quebrar o ciclo, mantendo a Grécia na zona euro – e não é claro que os líderes europeus estejam dispostos a ver e a utilizar qualquer um deles.
Não é inevitável que “tudo venha a explodir numa enorme confusão e em chamas”, afirmou. “É certo que se não explodir numa enorme confusão em chamas, terá contudo uma trajectória muito facilmente reconhecível.”
Como devem os responsáveis pela política económica – o FED, o governo dos EUA, os europeus – responderem à Grécia, agora?
“Como eu vejo as coisas, penso que há apenas quatro caminhos que se podem seguir quando se está perante choques assimétricos. Pode-se ter o caminho da mobilidade do trabalho. Pode-se ter subsídios permanentes. Estas são duas características que nós temos nos EUA, e é por isso que ninguém nunca perguntou depois do furacão Katrina, porque é que Louisiana ou Mississippi não iam sair do dólar? E isso porque, exactamente, há mobilidade e há uma união fiscal onde eles obtêm um grande subsídio.
“Então, poder-se-ia ter estes dois caminhos ou poder-se-ia ter a Alemanha disposta a ter quatro ou cinco por cento de inflação ao longo de alguns anos e isto substituiria o mecanismo da variação da taxa de câmbio. Ou ainda como quarto caminho poder-se-ia ter a Grécia a tentar triturar os seus salários para encontrar alguma forma de melhorar a sua taxa de crescimento económico e igualmente a da sua produtividade e de forma mais rápida do que a Alemanha. Simplesmente, isto! Essas são as únicas quatro coisas que se podem fazer.
Qual deles se deve escolher?
“A unificação da Alemanha Oriental com a Alemanha Ocidental tinha uma característica similar. A Alemanha Oriental veio fundir-se com a Alemanha Ocidental tendo aquela (criando-se uma Alemanha unificada) uma taxa de câmbio sobrevalorizada. Esta decisão foi tomada por razões políticas, e não económicas. Então, de repente, da noite para o dia, os alemães de Leste basicamente viram-se com salários ao nível da Alemanha Ocidental e com uma produtividade ao nível dos polacos.
“Houve um milhão de milhões de euros em subvenções, houve uma enorme mobilidade no factor trabalho, houve um empenho nacional para que tudo funcionasse. E dito isto, ainda agora as taxas de desemprego são mais elevadas nas zonas da antiga Alemanha Oriental do que na parte da antiga Alemanha Ocidental. O que eu acho é que nós nunca conseguiremos fazer luz nas dificuldades que se enfrentam ao nível do que se chama reequilíbrio interno.
Na zona euro tem-se uma baixa mobilidade da mão-de-obra, têm-se baixos subsídios. O Norte da Europa não me parece estar disposto a ter quatro ou cinco por cento de inflação ao longo de vários anos enquanto a Grécia teria zero como inflação, e, portanto, tem-se apenas como hipótese tentar triturar os salários na Grécia ou encontrar uma outra forma de aumentar a produtividade.
“Se olharmos para o registro económica grego, verifica-se que este é muito semelhante à experiência dos Estados Unidos nos primeiros quatro anos da Grande Depressão. E depois de estar perante um evento como este, com uma Depressão com esta enorme dimensão, eles cortaram nos custos unitários da mão-de-obra na Grécia – algo como terem reduzido para metade a diferença havida face à Alemanha. A questão é se é então realista considerar que a Grécia precise de ter uma segunda Grande Depressão e considerar ainda que, em seguida, eles serão capazes de igualizar os desequilíbrios?
“Ou países como a Alemanha decidem que é muito importante manterem-se juntos na UEM e vão encontrar alguma maneira não-pública de a subsidiar permanentemente, ou então iremos ter uma crise por cada seis meses, uma a seguir à outra e assim sucessivamente, até que alguém diga que não aguenta mais. De resto, não há nenhuma maneira com que possam modificar as coisas, seja como for, dado o prazo que os credores estão a exigir .
Será então a Grécia a ser posta fora da UEM?
“Há um grupo de pessoas que pensam que este é fundamentalmente um problema grego. É culpa da Grécia, pura e simplesmente. Agora começamos a ver o mesmo a dizer publicamente, “saiam, boa sorte” ‘Good Riddance”. Quer a Grécia fique, quer a Grécia saia, quer a Grécia se declare em incumprimento ou algo parecido, boa viagem. Se se puder colocar a Grécia fora disto tudo, isso resolve os problemas.
“Pessoalmente, penso que isto não é verdade. (Se a Grécia sai) alguém mais estará na mesma situação dentro de algum tempo. Os Estados membros da zona euro estão a ter choques assimétricos. Eventualmente Portugal ou a Itália ou um outro país estará depois a caminhar para uma situação semelhante à da Grécia .
“A questão fundamental a levantar é então a de saber o que irá fazer a Grécia se ela sai da zona euro. Se a Grécia restabelece a sua própria moeda e basicamente, dois anos a partir de agora, tiver desvalorizado e estiver então a crescer, o que seria bom, e a seguir penso que a lição dada ao resto da zona euro seria muito diferente do que pode estar a parecer agora.
“É certo que agora, tem-se o sentimento de que os governos das nações credoras desejam que a situação seja o mais dolorosa possível para os gregos, de modo que ninguém mais seja tentado a tomar as mesmas posições. Querem ser maus. São bem capazes de fazer com que seja o pior possível para os gregos. Mas há certamente a possibilidade que dois anos a partir de agora, isto não seja realmente assim tão mau.
Jim Tankersley, Washington Post, The four ways to end the Greek crisis, from Obama’s former top economist. Texto disponível em:
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