A COLUNA DE OCTOPUS – E se o referendo grego não passasse de um show?

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E se o referendo grego não passasse de um show?

Sem tirar mérito à coragem do povo grego que, apesar das difíceis circunstâncias, votou não no referendo, coloca-se a questão de saber se tudo isto não passou de um “show” orquestrado pelas potências financeiras mundiais.  De salientar que referendo foi organizado em apenas nove dias, um recorde mundial.  O próprio texto do referendo era algo confuso: “O plano de acordo, submetido pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional durante a reunião do Eurogrupo de 25/06/12, que inclui duas partes e constitui as suas propostas comuns, deve ser aceite? O primeiro documento intitulado “Reformas para o fim do programa actual do programa e para além” e o segundo “Análise preliminar da sustentabilidade da dívida”

Se aceite responda: sim. Se não aceita responde: não.

Enigmática, foi esta a questão colocada ao povo grego.

Portanto a questão foi interpretada como um sim ou não às medidas de austeridade preconizadas pelas instâncias credoras com mais austeridade, ou não queremos menos austeridade. Venha o diabo e escolha.
Fácil é de pensar que a grande maioria dos gregos (de lembrar que cerca de 40% das pessoas nem sequer votaram) votaram: “não, não aceitamos mais austeridade”, nos termos colocados pela pergunta, o que não significa saímos do Euro e da União Europeia.

Mas qual é, de facto a alternativa?

As propostas do governo grego eram, no fim de seis meses de negociações, muito pouco diferentes das impostas pelos seus credores. Foram cedendo até as diferenças se resumirem a meros 0,5%.  O referendo era, de forma velada: não aceitamos 100% das medidas impostas pelos credores ou aceitamos as propostas negociadas pelo governo grego com 95% das propostas dos credores.

Ganhou o não, portanto estamos dispostos a 95% das propostas dos credores.

Este referendo, legitimado pelos credores para dar um “ar” de decisão popular tem como finalidade legitimar os objectivos dos credores: cortar as veleidade de qualquer povo europeu de ir contra as instâncias europeias e fazer com que esses mesmos povos se submetam às suas regras estabelecidas por mecanismos financeiros e pessoas, não eleitos, que controlam os Estados.

2 Comments

  1. Imaginemos que as coisas foram projectadas como o Senhor as coloca. O que interessa é saber como a População grega respondeu. No dia 25 de Abril de 1974 os manda-chuva imaginavam uma alteração que não excluía, por exemplo, manter a PIDE com uma nova direcção mas o que interessa saber , pois fica para a História, é como a População portuguesa respondeu,CLV.

  2. Caro Carlos Veiga,

    Não ponho em questão a votação corajosa do povo grego, apesar dos 40% de abstenção, o que coloco em questão é um referendo em que a pergunta colocada é se concordam com as medidas de austeridade da Troika (100% de austeridade) ou se concordam com as medidas de austeridade “soft” do governo grego (que na realidade coincidem com as da Troika em 95%).

    Verá que agora as medidas impostas vão muito além das próprias medidas da Troika, e aceites por Tsipras.

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