FMI sobre a Grécia– o FMI não aprendeu mesmo nada com os seus erros, por Bill Mitchell II

Falareconomia1

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

 

(conclusão)

 

Mas o próximo gráfico mostra que a redução das despesas públicas tem sido substancial na Grécia no período de austeridade e é essa despesa em termos absolutos que cria emprego e bem-estar ao povo grego.

A razão das despesas públicas relativamente ao PIB não ter caído o suficiente para agradar ao FMI é que os cortes na despesa publica minaram o crescimento global, de modo que o governo grego tem andado a perseguir um alvo em movimento.

O FMI quer reduções no rácio da despesa pública relativamente ao PIB mas enquanto que o Governo corta na despesa pública o denominador (PIB) diminui e o rácio não tanto quanto o FMI gostaria.

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E, depois, lemos os últimos comunicados de actualização sobre a dívida grega da Grécia publicados pelo FMI(o muito publicitado texto de 14 de Julho. Neste texto do FMI podemos ler: :

Há cerca de um ano atrás, se as políticas do programa tivessem sido postas em prática, não seria necessário nenhum perdão da dívida   para atingir os objectivos no âmbito do quadro traçado em Novembro de 2012.

Por outras palavras –outros, eles querem que o governo grego mantenha os cortes infernais e as chamadas mudanças  estruturais (eu não uso o termo reforma para os descrever), qui teria gerado ainda um maior colapso do PIB real se Syriza não tivesse aliviado um pouco a pressão exigida.

Não há nenhum dado, nenhum argumento, que possa ser tomado como convincente a provar que a tese das reformas estruturais – o ataque aos sindicatos, as privatizações, o corte nos salários, a redução na rigidez dos preços – irá estimular o crescimento.

Como Richard Koonos diz:

… o argumento do FMI é baseado no pressuposto de que as reformas estruturais altamente irrealistas podem dar um impulso rápido ao crescimento do PIB.

As reformas estruturais são, por natureza microeconómicas, não macroeconómicas. O objectivo de medidas como a desregulamentação é levar as pessoas a mudar o seu comportamento e a envolve-las em novas empresas, o que eventualmente levará a uma economia mais dinâmica. Este processo exige, naturalmente, uma grande período de tempo, não se faz de um dia para o outro.

Conclusão

O que a UE e o FMI falharam em reconhecer é que quando uma economia está atolada numa profunda depressão, como é o caso da Grécia, a tentativa de projectar cortes no défice público (por aumentos de impostos e / ou cortes nas despesas públicas) será auto-destrutiva, porque reduzem o PIB. .

Ao tentar avaliar a situação orçamental de uma nação usando rácios (em percentagem do PIB) esta realidade significa que erros de interpretação quanto à evolução da situação são comuns.

No caso da Grécia, apesar da carga tributária em percentagem do PIB aumentar, o total das receitas fiscais tem estado a cair porque o PIB entrou em colapso.

A tentativa de impor duras mudanças de ordem estruturalnuma economia nesta situação é que estas então amplificam os impactos negativos sobre o bem-estar das pessoas.

As mudanças de ordem estrutural exigem que haja recursos a deslocarem-se dos seus usos correntes para outras mais desejadas. Quando a economia está atolada em depressão, as transições e a mobilidade de recursos é frustrada e sem que haja eventualmente grandes ganhos.

O facto de que o FMI ainda continua a acreditar que a Grécia irá acelerar os seus programas diz-nos que o FMI não aprendeu mesmo nada com os seus enormes e grosseiros erros e uma vez que se trata de altos funcionários, estes deveriam tê-los visto, deveriam ter aprendido com eles, e o facto de isso não acontecer só pode significar que se trata de profunda incompetência profissional.

 

Bill Mitchell, IMF on Greece – they haven’t learned from their mistakes. Texto disponível em:

http://bilbo.economicoutlook.net/blog/?p=31448

Publicação autorizada pelo autor.

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