REFLEXÕES EM TORNO DO MASSACRE DE PARIS, EM TORNO DO CINISMO DA POLÍTICA OCIDENTAL – COMBATER o TERRORISMO ISLAMITA – a solução: procurar os Estados cúmplices – por Michel Lhomme

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Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

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COMBATER o TERRORISMO ISLAMITA – a solução: procurar os Estados cúmplices

Michel Lhomme, COMBATTRE LE TERRORISME ISLAMISTE – La solution : chercher les États complices

Revista Metamag.fr, 17 de Novembro de 2015

 

O Estado islâmico (Isis) sempre massacrou civis em grande número para mostrar a sua força e para incutir  o medo nos seus adversários. Mesmo um pouco antes de Paris, os  kamikazes de Isis tinham morto 43 pessoas em  Beirute a  12 de Novembro, e 26 mais em  Bagdad, a 13 de Novembro.

Isis reivindicou  os atentados de Paris, dizendo que a França foi o alvo de represálias devido aos seus raides  aéreos na Síria. Os ataques simultâneos de sexta-feira 13 na capital francesa são ataques de profissionais. Supõem uma logística de comando puramente militar. São ataques sofisticados e rigorosamente planificados. Daí uma questão: Isis dispõe de uma tal estrutura? Quem lhes forneceu  ou  fornece  uma  tal organização? Qual explicação nos darão  desta profissionalização de Isis para a realização de atentados suicidas  que se desenrolam agora no exterior, fora da Síria e do Iraque?

Nas escolas do fanatismo internacional, no imaginário dos adolescentes rebeldes  muçulmanos, a marca Isis suplantou e de longe a marca Al-Qaïda. Não obstante, os ataques de Isis sobre os  franceses desenrolam-se num momento decisivo da organização terrorista dado que se encontra  hoje atacada sobre várias frentes: na Síria pelos Russos e agora também pela França, no  Iraque pelos Curdos. Daesh está com efeito em completa confusão e dentro de pouco tempo não lhe restarão como  militantes senão todos aqueles  que estão escondidos sob a capa de refugiados.

O exército sírio apoiado pelos raides aéreos desencadeados pelos russos  pôs fim na semana passada ao cerco  do aeroporto de Alepo. Esta foi a maior   vitória do governo sírio desde há dois anos. Os Curdos sírios, em cooperação com o exército do ar americano, avançam ao Sul da Síria, em redor de Hasaka, enquanto os Curdos iraquianos reconquistaram ultimamente a cidade de Sinjar a oeste de Mossoul. A França acaba de  bombardear Raqqa. Perdendo Mossoul e Raqqa, o Isis está a perder a sua influência sobre os campos petrolíferos do nordeste da Síria, de onde tem tirado  até agora  todos os seus  rendimentos e fala-se de rendimentos colossais. Um outro dos revezes que acaba de sofrer o Isis é a perda do seu principal ponto de passagem da fronteira entre a Síria e a Turquia, o ponto de Tal Abyad que foi capturado pelas unidades de proteção do povo curdo sírio (GPJ). Assim, metade da fronteira entre o Tigre e o Eufrates está actualmente sob controlo dos  Curdos, o que torna o acesso do Isis ao mundo externo muito mais difícil do que anteriormente.

Daesh está pois  em recuo,  os Russos falam “de debandada”. Os voluntários fanatizados entre os quais  muitos Franceses que teriam anteriormente viajado através da Turquia para se juntarem  ao Isis vão por conseguinte fornecer uma reserva de mão de obra de facto exaltada para uma utilização local em operações – suicidas.

Isis formou-se para o combate no Iraque e na Síria mas também com os  melhores  dos nossos conselheiros ocidentais. Uma grande parte das tropas  é constituída por mercenários  com  competências militares provadas ou seja que são verdadeiros assassinos profissionais além de que são também drogados com captagon[1]. Hoje, os combatentes de Daesh representam assim uma mistura potente de terrorismo urbano, de tácticas de guerrilha e de guerra convencional. Isis também produziram  manuais de combate que os nossos serviços conhecem.  Nestes manuais de táctica, o combatente é levado a  ripostar  contra qualquer adversário por todos os meios e é-lhe aconselhado mesmo que escolha aos meios mortíferos mais espectaculares em nome da guerra psicológica.

Vamos ao essencial:

ISIS foi armado pelos regimes ocidentais e financiado em parte pelos Sauditas e pelo Catar. A razão pela qual Israel não tem  sido  atacado é que há um acordo com os Sauditas, ligado em parte  à divisão dos inimigos comuns, o Irão e Hezbollah, os chiitas em geral. Sabe-se que os Israelitas  forneceram cuidados hospitalares aos  terroristas de Daesh feridos sobre a frente síria. Roland Dumas, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros confessou numa entrevista vídeo que, quando visitou  Londres em 2009, ou seja dois anos antes da revolta armada que começou na Síria, tinha sido abordado  por elevados representantes britânicos que lhe tinham  afirmado que a Grã-Bretanha ia derrubar  Assad com mercenários.

Os governos ocidentais e os Estados Unidos com a Arábia Saudita, o Catar e a Turquia são por conseguinte directamente os responsáveis pela  expansão de ISIS. A Arábia Saudita é a verdadeira  sede política mas também teológica do fanatismo muçulmano, da interpretação terrorista de Ibn Taymiyya do Islão. Ora, a política francesa colocou as suas relações diplomáticas com os regimes saudita e qatari ao mais elevado  nível, patrocinando e armando assim os terroristas.

Não é necessário também sublinhar que os meios de comunicação social do regime saudita e qatari (Al-Jazira e Al-Arabiya em especial) têm criado e criam permanentemente uma cultura do terrorismo sobre as antenas na qual os crimes contra civis porque são xitas, alauítas e sobretudo cristãos são  diariamente justificados nos seus canais recebidos pelas nossas antenas parabólicas.

A França não pode ter dois discursos: continuar a apoiar os regimes do Golfo e querer proteger os Franceses. Os regimes do Golfo e os serviços da Arábia Saudita constituem a logística secreta dos atentados de Paris. É por conseguinte o Catar e a Arábia Saudita que é necessário acusar.

Michel Lhomme, Revista Metamag, COMBATTRE LE TERRORISME ISLAMISTE – La solution : chercher les États complices. Texto disponível em:

http://www.metamag.fr/metamag-3360-COMBATTRE-LE-TERRORISME-ISLAMISTE.html

Ilustração no início do artigo: page de couverture de l’ouvrage de Mohamed Sifaoui, “Combattre le terrorisme islamiste” aux Éditions Grasset.

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[1] Sobre esta droga, dizem-nos em Wikipédie: Ni peur, ni douleur… Sous son influence, on ne ressent plus aucune émotion. Petite pilule blanche à base d’amphétamines et de caféine, le captagon est devenue le nerf de la guerre menée par le groupe Etat Islamique. 

Prescrite à l’origine contre l’hyperactivité, la dépression et la narcolepsie, elle est depuis 1986 classée dans la liste des substances psychotropes par l’OMS. Sa production a explosé au début des années 2000 en Turquie et en Syrie, où elle a fait l’objet d’un trafic à destination des pays du Golfe, avant de faire aujourd’hui le bonheur des jihadistes de Daech.

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