REFLEXÕES EM TORNO DO MASSACRE DE PARIS, EM TORNO DO CINISMO DA POLÍTICA OCIDENTAL – OS ESTADOS OCIDENTAIS NÃO PODEM COMBATER O JIADHISMO APOIANDO OS SEUS PADRINHOS PETROMONÁRQUICOS! – por MAXIME CHAIX

Maxime Chaix - I

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

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13 NOVEMBRO 2015

Os Estados ocidentais não podem combater o jiadhismo apoiando os seus padrinhos petromonárquicos!

Maxime Chaix, les États occidentaux ne peuvent combattre le jihadisme en soutenant ses parrains pétromonarchiques!

Maximechaix.info, 16 de Novembro de 2015

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23h23, le vendredi 13 novembre 2015. En deuil et en colère. 

Desde há vários anos que pude compreender, apoiar e documentar o facto que as redes jiadhistas não são apenas inimigos mortais dos povos através do mundo, mas que são também forças clandestinamente utilizadas pelos Estados ocidentais e pelos seus aliados do golfo Pérsico na satisfação de interesses profundos e inconfessáveis. Em Março passado, num importante artigo intitulado “o Estado islâmico, cancro do capitalismo moderno”, Nafeez Ahmed tinha resumido esta instrumentalização recorrente das milícias jiadistas pelas principais potências da NATO e pelos seus parceiros a fim de desestabilizar o Afeganistão, a Bósnia Herzegovina, o Kosovo, a Líbia e seguidamente a Síria.

Como o sublinhou muito bem o jornalista Marc de Miramon em L’Humanité em Julho de 2015, “[p] ara Alain Chouet, antigo chefe do serviço de informações de segurança no DGSE, “a guerra de civilização” e a guerra contra “o terrorismo” brandidas pelo governo [francês] como pela oposição de direita constituem um engodo que mascara uma outra realidade, a da aliança militar entre os países ocidentais e os padrinhos financeiros de Djiad.” No contexto desta entrevista, Alain Chouet designava as petromonarquias wahhabitas, essencialmente a Arábia Saudita e o Catar, às quais a França vende armamentos sofisticados apesar do seu apoio notório às principais redes jiadistas – e não somente na Síria. Sublinhem-no: O senhor Chouet é um antigo oficial de informação que trabalhou numerosos anos como chefe do contra-terrorismo no DGSE, os serviços secretos externos franceses. Este homem mais do que qualquer outro sabe do que fala quando afirma que os nossos “aliados” do Golfo são “os padrinhos financeiros do Jihade ”. Assim, a sua constatação é tão alarmante quanto revoltante neste terrível 13-Novembro, na nossa França já mortificada pelos atentados de Charlie Hebdo, Hyper de Cacher e Montrouge.

Em Janeiro de 2015, na sequência destes atentados abomináveis, tinha escrito num impulso de raiva e de tristeza que “o nosso actual ministro dos Negócios estrangeiros, Laurent Fabius, apoiou abertamente em Dezembro de 2012 a Front al-Nosra – ou seja o ramo “sírio” de al-Qaïda. [Nessa época, esta organização incluia Daech, estas duas facções que se separam em Abril de 2013]. (…) Segundo as informações do jornal Le Monde, “a decisão dos Estados Unidos de colocar Jabhat Al-Nosra, um grupo jihadista que combate ao lado dos rebeldes, na sua lista das organizações terroristas, foi criticada com vivacidade pelos apoiantes da oposição [na Síria]. O ministro Fabius considerou assim, na quarta-feira, que “todos os Árabes estavam muito agitados” contra a posição americana, “porque, sobre o terreno, eles fazem um bom trabalho”. “Era muito nítido, e o presidente da Coligação estava também nesta mesma linha”, acrescentou o ministro. (…) Mais grave ainda: em agosto de 2014, o jornal Le Monde revelou que o Presidente François Hollande tinha dado ordem aos serviços especiais franceses que entregassem clandestinamente armas de guerra aos rebeldes “moderados” na Síria – o que é contrário à Carta das Nações Unidas [e ao embargo sobre as armas então em vigor]. Infelizmente, provou-se [de acordo com Canard Enchaîné de 21 de Janeiro de 2015, a maior parte] dos armamentos entregues pelos serviços franceses – de uma maneira ou outra – caíram entre as mãos dos grupos jihadistas, que se congratulam hoje da vaga de atentados que destabiliza a França em profundidade. ” E o Estado francês não é o único faltoso neste fiasco sírio. De acordo com o perito Joshua Landis, “entre 60 e 80% das armas que os Estados Unidos introduziram na Síria [desde 2011] foi parar à al-Qaïda e aos grupos que lhe são filiados”.

A partir do ano 2014, dois deputados da oposição têm sucessivamente denunciado o papel turvo dos serviços especiais franceses neste conflito, tendo um deles declarado mesmo em Junho de 2015 no Canal televisivo do Parlamento que “a França tem estado a apoiar a al-Qaeda na Síria”. Com efeito, de acordo com o deputado Claude Goasguen, “a França [apoia] rebeldes sírios, que são tidos como rebeldes democratas. (…). Quem é que recuperou os rebeldes sírios democratas? [A Frente] al-Nosra. O que é al-Nosra, al-Nosra não é al-Qaeda? (…) [C] ertos rebeldes foram recuperados pela al-Qaeda com armas francesas [.] (…) Senhor [o deputado (PS) Olivier Dussopt], continuamos a fornecer armas a al-Nosra, através dos rebeldes sírios! Digo-o, disse-o ao Sr. Drian na Comissão da Defesa, disse-o ao senhor ministro Monsieur Fabius, como o disse a outros todos deputados [sic]. Vai ser necessário esclarecer tudo isto! A atitude da França na Síria não é clara! ” Como o sublinhei na época, estas divulgações inacreditáveis do deputado Goasguen foram ignoradas quase por completo pelos meios de comunicação social franceses. Eu, pessoalmente, tinha sublinhado igualmente o facto de que este “deputado LR acusava o actual governo de apoiar a al-Qaeda na Síria (Front al-Nosra), enquanto que a maioria precedente, à qual tem pertencido se tinha acomodado com o facto de que a al-Qaïda na Líbia (GICL) tinha sido integrada nas operações da NATO! Aí está a que nível o nosso Estado se rebaixou, desde há alguns anos na sua pós-política árabe da França”. No entanto, mesmo no caso de mudança de maioria, o próximo governo continuará certamente a vender armamentos sofisticados ao Catar e à Arábia Saudita – que permanecem os principais apoios do jihadismo através do mundo. ”

Mais globalmente, desde o 11 de Setembro, os interesses profundos evocados no início deste artigo representam um número inestimável de milhares de milhões de dólares de benefícios para diferentes empresas privadas, principalmente gerados pela chamada “guerra“ contra ”o terrorismo”. Financiadas a fundo perdido pelos contribuintes ocidentais, estas intervenções militares catastróficas e mortíferas geraram imensos lucros para as multinacionais implicadas neste desastre mundial – destabilizando ao mesmo tempo o Médio Oriente, a África do Norte e a Ásia central a tal ponto que os grupos extremistas parecem hoje imparáveis. A catástrofe que constituiu até agora esta supostamente “guerra “contra” o terrorismo” é uma catástrofe sem precedentes: terá já morto pelo menos 1,3 milhões de civis só no Iraque e “AfPak”, [ou seja Afeganistão e Paquistão]. Desde 2001, os centros jihadistas multiplicaram-se através do mundo, e tanto Daech como al-Qaïda aparecem agora mais ameaçadoras, fanáticas e também MAIS enraizadas do que nunca. Afirmemo-lo claramente: no mundo ocidental, esta calamidade jihadista justifica as guerras à legalidade, à eficácia e à legitimidade duvidosa, ao mesmo tempo que acelera uma viragem autoritária dos nossos Estados – que se traduziu nomeadamente em França pela perigosa lei da Informação.

À hora em que escrevo estas linhas, o Presidente François Hollande acaba de decretar o estado de emergência nacional, e ninguém duvida que esteja já à vista um endurecimento de segurança essencial  – sem estar a falar de uma escalada militar que agravará certamente estes conflitos demasiado remotos e complexos para que os cidadãos se oponham. Tendo em conta o malogro retumbante “da guerra global “contra” o terrorismo”, seria talvez a altura de reflectir colectivamente quanto à sua utilidade, em vez de se ceder à tentação de responder à violência pela violência.

No entanto, estas guerras auto-geradoras não devem mais continuar a esconder uma realidade tão cruel quanto escandalosa: desde o fim dos anos 1970, as grandes potências ocidentais e os seus aliados do Golfo apoiaram o desenvolvimento das principais redes islamitas através do mundo, de maneira directa ou não, de acordo com as circunstâncias e os actores interessados. Em Outubro de 2015, depois de um deputado dos Estados Unidos ter denunciado na CNN o apoio dado à al-Qaeda pela CIA para derrubar Bachar el-Assad, um antigo oficial da CIA especializado no contra-terrorismo confirmou-me a colaboração da Agência com esta nebulosa terrorista para fazer cair o governo sírio. Recentemente, estudei detalhadamente a implicação maciça e clandestina dos serviços especiais ocidentais e do médio-oriente no apoio às redes jihadistas que combatem o regime de Assad, entre os quais o ramo “sírio” de al-Qaeda. Pela nossa parte insistimos sobre este ponto: este compromisso clandestino da Agência e dos seus aliados contra o governo sírio implica militarmente a França. Com efeito, comparando-a à guerra secreta da CIA no Afeganistão, o editorialista do Le Point Michel Colomès  escreveu recentemente que “os Americanos e [os] Franceses, desde a entrada da Rússia na guerra síria, fornecem armas aos islamitas reconhecidos como frequentáveis. Têm a memória curta”. Outros “islamitas conhecidos como frequentáveis” que teriam vindo da Síria serão a causa destes terríveis atentados do 13-Novembro? É ainda muito cedo ainda para responder a esta pergunta, mas é claro que estes terroristas agiram de maneira coordenada e de acordo com um modo operacional claramente militarizado e jihadista – tendo dois, ou mesmo três, terroristas suicidas activado as suas bombas em frente ao nosso Stade de France, símbolo da unidade, da alegria e dos grandes agrupamentos populares.

No nosso país mortificado por este desastroso 13-Novembro, o facto de o governo francês apoiar os jihadistas no estrangeiro, e ter trocas comerciais com os seus principais padrinhos estatais é grave, perigoso e inaceitável! Nenhuma razão de Estado, nenhum interesse superior, nenhum imperativo económico, diplomático ou geopolítico podem justificá-lo. Esta realidade deve suscitar a mobilização geral dos cidadãos franceses. Devemos fazer pressão sobre o nosso governo para que este deixe de estar a armar e a apoiar os Estados que espalham a calamidade jihadista através do mundo desde há décadas, e na primeira fila destes Estados estão a Arábia Saudita e o Catar. Com efeito, como o declarou Alain Chouet na entrevista citada no início deste artigo, “aquilo a que chamamos “salafismo”, chama-se em árabe “wahhabismo”. E aqui temos andado nós na situação errada e de maneira sistemática e em todas as situações de confrontação militar, pois no Médio Oriente, no Sahel, na Somália, na Nigéria, etc., aliando-nos com os que patrocinam desde há trinta anos o fenómeno terrorista. ”

O Estado francês e os seus aliados ocidentais não podem combater a calamidade jihadista apoiando os seus padrinhos do golfo Pérsico. Não poderão lutar eficazmente contra o terrorismo apoiando-se clandestinamente nas redes islamitas para derrubar governos estrangeiros, como na Líbia e depois na Síria. Mobilizemo-nos para pôr um fim a estas políticas profundamente perigosas e inaceitáveis!

Maxime Chaix,  13-Novembre: les États occidentaux ne peuvent combattre le jihadisme en soutenant ses parrains pétromonarchiques !

Texto disponível em: http://maximechaix.info/?p=998

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