Syriza, ano I – por Olivier Delorme I

Falareconomia1

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

Nota ao texto de Olivier Delorme, Syriza, ano I

Agora que Bruxelas mostra os seus dentes de lobo raivoso, que Moscovici se mostra como um cordeiro, bem disfarçado então este nosso Comissário, agora que a direita parece ter mais tempo de antena que o próprio governo a destilar o seu veneno e disposta a tudo, agora que uma certa “esquerda moderada”, vide o último programa Eixo do Mal, parece incomodada sobretudo com a subida dos impostos para os carros de alta cilindrada, agora que Merkel se mostrou, e mais uma vez, sem o mínimo respeito pelas regras da Diplomacia e da soberania dos povos, insultando o povo português e o seu Primeiro-Ministro e com isso fazendo o mesmo que Schauble fez a Tsipras com a diferença de que este não tinha nada que ir a DAVOS:

sugiro-vos muito sinceramente que leiam o presente texto de Olivier Delorme e digam-me se não tenho razão: é preciso estar ao lado do governo actual face aos poderosos que se preocupam apenas em favorecer outros poderosos, estejam eles em Berlim, Bruxelas ou Frankfurt e em face também dos múltiplos “obligés” ( e não por obrigação) que por este país estão ao serviço da política de austeridade imposta pela Alemanha, é preciso sabermos defender os resultados politicamente alcançados depois do 5 de Outubro face à ignorância que os media parecem apostados em continuar a defender.

Coimbra, 7 de Fevereiro de 2016

Júlio Marques Mota

 

Syriza, ano I

Olivier Delorme, 25 de Janeiro de 2016

Há um ano Syriza ganhava na Grécia. No meu blog, nos primeiros textos que publicámos depois e relativamente a esta vitória, analisámos os resultados, a campanha, a aliança com os Gregos independentes, os primeiros gestos de Tsipras… Depois, no dia 28 de Janeiro de 2015, escrevi o que transcrevo a seguir :

“As duas perguntas que se me põem neste momento são:
1/ Syriza irá até ao fim na lógica da vitória ou render-se-á às pressões, às intimidações dos oligarcas euro-alemães e dos especuladores que, de maneira muito previsível, se desencadeiam já desde esta manhã?
2/ O novo Governo tem consciência que nenhuma “outra política” é possível na gaiola de ferro, na armadura do euro? Como não acredito de modo algum que Merkel sairá do seu autismo tão estúpido quanto criminoso e que aceitará as reformas necessárias de modo que o euro seja viável, que cesse de continuar a enriquecer os ricos (a Alemanha e a ex zona marco) e de continuar a empobrecer todos os outros – reformas que seriam de qualquer modo eleitoralmente suicidas para ela -, espero que Tsipras e a sua equipa estejam conscientes que será necessário gerir um regresso necessariamente caótico ao dracma, condição que, do meu ponto de vista, é indispensável para uma retoma na economia grega, como o é o para a Itália, a Espanha, Portugal, a França.

Espero que comecem a partir de hoje a preparar este regresso, tecnicamente, porque não se pode ir para uma negociação tão importante sem ter uma opção a encontrar um acordo muito improvável dado o autismo de Merkel. Foi esta ausência de opção que assinou a sentença de morte, em 2009, de Papandréou. Porque se não se tiver outra opção numa negociação, pôr-se-á necessariamente na situação de ter de aceitar o Diktat daquele com quem quer negociar e que sabe que o seu opositor não tem nenhuma outra opção. Esta prova de força, seria Hollande que a deveria fazer desde que chegou à Presidência.. Mas imediatamente traiu e capitulou sem sequer começar a combater. É pena porque isso fez-nos perder muito tempo à todos nós, mas é assim.
Hoje, cabe a Tsipras fazê-lo, em condições muito menos favoráveis, mas Temístocles e os Atenienses pararam o imenso Império persa em Salamina, os Gregos venceram na Albânia os fascistas mil vezes melhor armados em 1940-1941, Glézos arrancou a cruz – gamada da Acrópole… a força não é muito em história; é sempre a vontade política do mais resolvido que vence. Antecipadamente, o fraco não está nem desarmado nem vencido diante do mais forte.

Espero pois e ardentemente que Tsipras não desistirá, que não capitulará, que sairá do euro se for necessário, o que terá a imensa vantagem de nos desembaraçarmos por fim desta moeda fortemente disfuncional. Porque não duvido que não venha a haver um efeito dominó: a reavaliação brutal que provocaria uma saída da Grécia será insuportável para a Itália, a Espanha, Portugal e a França… E uma vez que se tenha liquidado esta moeda de oligarcas para uma Europa de oligarcas, poder-se-á por fim falar de restauração da democracia – a política económica deixará de ser determinada por uma moeda imbecil ou pelos tratados, mas sim a voltar ao campo do debate democrático e da soberania popular – e a Europa dos povos.”

Sem comentários…

Se, mesmo assim, um ano após, se torna difícil ser deputado ou ministro Syriza…
Nos dois vídeos abaixo que se podem ver aqui:

e
https://www.youtube.com/watch?v=R6hJdY0sDpg

, os deputados syrizistas reencontram-se em frente dos camponeses: não é sempre muito fácil trair os seus eleitores num país onde a esquerda radical às ordens de Berlim e de Bruxelas está a (designadamente) liquidar o campesinato. Não é de resto somente na Grécia, nem só sobre os camponeses … aqui, é o ministro dos Negócios estrangeiros da colónia grega, em viagem pela capital do Reich, para… o festival do filme grego de Berlim (!!!) que é contestado por dois compatriotas.
O que é “engraçado”, é que isto é o decalque exacto do que viveram os deputados do PASOK entre 2010 e 2012, exactamente antes do PASOK passar de 40% dos votos a 6%. Os deputados PASOK tinham acabado por não poder sair mais à rua, ao restaurante ou a um outro qualquer lugar sem os estarem a insultar…

Nestas condições e com os horrores que vão ter de votar, ainda, nas próximas semanas, podemo-nos interrogar por quanto tempo é que os três deputados nos quais se suporta a maioria lhes vão permitir continuar a reinar, ou seja por quanto tempo antes que Syriza chegue ao extremo da sua lógica: o governo de coligação com Potami, o Pasok, os palhaços da União dos centros ou a direita de Mitsotakis-Siemens. Porque me esqueci de precisar no meu último texto que o rebento Mitsotakis, além de ser o filho do seu pai e o irmão da sua irmã (na Grécia há outras versões que correm, mais estaladiças, da história familiar… mas avancemos ), seria “ obligé ” (mas não por condenação, certamente!!!) do maior agente de corrupção que a Grécia alguma vez conheceu – o virtuoso, necessariamente virtuoso, dado que é alemão, SIEMENS… O que faz dele um candidato ideal para Berlim à frente do governo.

Voltemos a Janeiro de 2016

 

(continua)

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