ANDAMOS MERGULHADOS EM DÚVIDAS E CONFUSÕES por Luísa Lobão Moniz

olhem para  mim

São vários os estudos sobre o comportamento das crianças face às novas tecnologias e às suas consequências.

Parece que andavam todos distraídos, deslumbrados, quando começaram a pôr nas mãos das crianças o telemóvel dos pais e, estes verificavam que não havia segredos para os petizes.

Alguns adultos diziam que os filhos eram mais espertos porque sabiam ligar o telemóvel e o computador.

Estes adultos esqueciam-se que as crianças não têm a noção de que podem estragar “aquele brinquedo”, iam carregando nas teclas aleatoriamente e acertavam, depois, sim começavam a aprender.

Nesta época, as crianças que tiveram a sorte de nascer e crescer em países sem guerras, em países de onde não é preciso fugir devido à violência entre poderes, estas crianças são consideradas uns “pequenos deuses” que sabem pedir tudo aos pais e aos quais os pais dão tudo. Dão tudo, porque os outros também têm telemóveis, e o medo de que eles façam alguma “asneira” é maior do que o bom senso, dão tudo porque não querem traumatizar os filhos, querem dar tudo o que não tiveram….

A informação sobre o lado positivo e o lado negativo destas atitudes, próprias de uma época de grande consumo, são contraditas pelo apelo “violento” da publicidade, dos folhetos dos hiper-mercados…

Não conheço nenhuma referência às habilidades das crianças que nos anos 60 aprenderam sozinhas a ligar um rádio e a procurar “as estações”, não conheço nenhuma referência às habilidades das crianças que ligavam a televisão…

Nestes anos 60 estas crianças eram castigadas porque podiam estragar o rádio ou a televisão que tanto custavam aos pais comprar.

Aqui não havia “esperteza”, havia desobediência.

Estas novas habilidades adquiridas pelas crianças dão origem a processos de pensamento também diferentes, dão origem a comportamentos sociais também diferentes.

Á medida que o mundo foi rolando as pessoas foram adquirindo novos conhecimentos que se projectaram em novos processos de aprender, em novos processos de inter relação humana.

Veja-se a diferença de representação da criança feita pelos adultos, veja-se o lugar que hoje têm as crianças numa família, também ela diferente do que era.

Andamos distraídos com estas novas habilidades e esquecemo-nos das crianças mal amadas, mal tratadas, das crianças que têm telemóvel porque o roubam.

Como vão crescer, que contributo vão dar estas crianças na formação das suas mundividências, como as vão relacionar com as dos “pequenos deuses”.

Somos um Mundo de grandes contrastes sociais, económicos e afectivos.

Não é preciso diabolizar os computadores e as nets, mas é preciso perceber como crescem todas estas crianças, que oportunidades têm, por exemplo, nas escolas para acederem ao conhecimento e ao afecto.

Basta de crianças maltratadas, de mães agredidas, de famílias sem emprego e sem dinheiro. Basta de mercados que ditam o que cada um pode pôr nas mãos de uma criança.

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