A verdade histórica não se compadece com perspectivas politicas, com crenças religiosas ou com teses pessoais, por mais sentido que façam. Muito menos se deixa inquinar por visões patrióticas ou por preconceitos étnicos ou de qualquer outra natureza. A ideia, tão acarinhada por respeitáveis historiadores, de que D. João II praticou uma «política de sigilo» e que o Tratado de Tordesilhas foi negociado de acordo com os interesses portugueses, pois o Príncipe Perfeito estava de posse de informações de que os seus primos Isabel e Fernando desconheciam, é uma daquelas teorias da conspiração que, muitas vezes, fazendo mais sentido do que a verdade, são inverdadeiras.
O que parece ter acontecido é que Portugal, desde que o Infante D. Henrique assumiu a tarefa das navegações, investiu muito mais do que Castela e Aragão na investigação científica e na engenharia náutica e na cartografia. Naturalmente que quando descobriam algo de novo – como por exemplo, o método revolucionário de construção naval que permitiu o aparecimento da caravela – não transmitiam os seus conhecimentos aos vizinhos, competidores ferozes.
No ano de 1500, Pedro Álvares Cabral foi encarregado de comandar uma expedição à Índia, seguindo a rota percorrida dois anos por Vasco da Gama e ali recolher especiarias valiosas e estabelecer relações comerciais na Índia e assegurando o monopólio do comércio de especiarias, então nas mãos de comerciantes. A sua armada de 13 navios, devido a tempestade ou seguindo informações afastou-se da costa africana, talvez intencionalmente, desembarcando no que ele supôs ser uma grande ilha à qual deu o nome de Vera Cruz. Viagens posteriores, provaram tratar-se de uma massa continental. Mapas antigos colocavam essa hipótese e D. João II terá acreditado que Ptolomeu estava errado ao imaginar um oceano apertado entre a Ásia e a Europa. Chamar «política de sigilo» ao avanço tecnológico que a concentração de cientistas portugueses e de outras paragens, é subestimar esforço do nosso pequeno país, com pouco mais do que um milhão de habitantes nessa época. Juntamos um vídeo que explica até que ponto a nossa capacidade e inteligência superou a dos orgulhosos ingleses, franceses, flamengos…
O Brasil foi «achado» há 516 anos. Aos amigos brasileiros, àqueles que se envergonham de descender de um «povo burro», lembramos que o burro não é um animal estúpido (não há animais estúpidos). O burro apenas é diferente do «inteligente» cavalo – recusa-se a cumprir ordens cuja lógica não compreende.
Será isso um defeito?
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Maravilhoso e esclarecedor texto, como sói acontecer com os demais desse autor, que alia a erudição à cultura. Duas observações de além-mar: parte do relatado, nossos alunos estudam na matéria de História, em classes primárias, inclusive quanto ao engenhoso invento que oportunizou as navegações e sobre Dom Henrique. A comparação com os ingleses e demais vizinhos nunca foi discutida por aqui, mas se depreendia; como já lecionei História (em substituição, é verdade, mas espargi opiniões), nunca verbalizei que herdamos burrice dos nossos colonizadores, pois a pátria de tão grandes escritores e dos mais profundos poetas que cultuo há décadas, não pode gerar néscios, toscos, aparvalhados, atoleimados e pessoas caricatas. Minha única queixa é quanto ao maldito legado católico, que atravancou nosso progresso, fez-nos escravos de uma estúpida crença mitológica,afeiçoando-nos ao conformismo e doando UM SEXTO de um país continental à Santa Sé. Parabenizo, portanto, ao responsável por tão escorreitas e sábias palavras.
Obrigado, caro Amigo. Sei que o cliché de que o «português é burro» não está em todas as mentes brasileiras e sempre digo (aos que lamentam não ter sido colonizados pelos holandeses, que ponham os olhos na Indonésia. Porque, a bem dizer, os brasileiros que proclamaram a independência, eram europeus, portugueses em sua maioria – começando pelo imperador…. Foi uma independência não-litigiosa – o imperador voltou a Portugal e não foi considerado traidor. Faz hoje anos que Tiradentes foi executado. A Inconfidência foi jugulada por contestar o poder real – tal como os Távoras. Mas compreendo que em todas as independências há mitos. Abraço CL
Já nessa época se “sabia”.. que os ventos predominantes no Atlântico Sul aconselhavam a rota Cabo verde, SW, e daí, costa do Brasil, rumo a ESE.. directo ao Cabo… Basta ver publicações actuais de tais ventos..
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