USA : FOMENTAR UM «GOLPE» INSTITUCIONAL NO BRASIL PARA TENTAR DESAGREGAR OS BRICS

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Selecção, tradução e introdução de Júlio Marques Mota

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Nova série - II

 

 

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USA: fomentar um «golpe» institucional no Brasil para tentar desagregar os  Brics

 

 Victor,  USA: fomenter un « golpe » institutionnel au Brésil pour tenter de casser les Brics –

AgoraVox le média citoyen, 11 de Maio de 2016

Nova série - mídia golpista

No Brasil o  caos continua e está-se mesmo a amplificar onde a presidente eleita, Dilma Rousseff, está sob o golpe de uma destituição por um motivo menor: défices orçamentais transferidos de um ano para outro, para poder anunciar um défice inferior. Um processo utilizado regularmente por todos os partidos no poder.

Os deputados votaram por  uma larga maioria o pedido de destituição. Estes deputados “golpistas” que se pronunciaram pela destituição são tão claros  quanto  um eleito dos Haut-de-Seine! Muitos deles andaram a comer da gamela que tem sido a empresa  Petrobras, máquina generosa de dar dinheiro, outros estão perante a situação de terem de prestar contas à justiça por  crimes e corrupção… no total, 60% dos 594 membros do Congresso do Brasil enfrentam acusações  graves como corrupção, fraude eleitoral, desflorestamento ilegal, raptos  e homicídios. Quanto ao seu  chefe de fila, o presidente da câmara dos deputados Eduardo Cunha, está sob acusação num processo junto do Supremo  Tribunal.  Este mesmo Tribunal afastou-o das suas funções por ter tentado obstruir o inquérito sobre os factos de corrupção de que está a ser acusado! É o virar do feitiço contra o feiticeiro. Adversário de Dilma Rousseff, ele é o homem que desencadeou o processo do “impeachment”, aceitando, em Dezembro, um pedido de destituição da presidente, uma prerrogativa do Presidente da Assembleia. Foi substituído pelo seu Vice-Presidente Waldir Maranhão. Este provocou um retumbante golpe de teatro anulando o voto da assembleia plenária dos deputados que tinha aprovado a 17 de Abril o procedimento de destituição de Dilma Rousseff.

Mas, novo golpe de teatro, algumas horas mais tarde, o presidente do Senado, Renan Calheiros, ordenou nessa tarde a continuação do procedimento, ignorando a decisão “intempestiva” de suspensão tomada algumas horas mais cedo pelo presidente em exercício Waldir Mananhão, o presidente interino do Congresso dos deputados,… ele mesmo voltando à sua decisão na sequência de fortes e múltiplas pressões! Quando se fala de caos, diremos que é um termo muitíssimo fraco para traduzir a situação … O Senado vai pois, a partir de hoje,  “destituir” a presidente.

O golpe de Estado “não violento” foi pois retomado para destituir uma presidente democraticamente eleita  e instalar no poder um dos políticos mais corruptos  – que, de uma maneira ou de outra,  não faz nada por acaso  – este até considerado   ser o político preferido pelo establishment  político americano,  escarnecendo-se  assim da democracia e dos 54 milhões de pessoas que reelegeram a primeira mulher para presidente do Brasil, há apenas 18 meses. A pessoa que os oligarcas brasileiros e os seus órgãos de imprensa tentam instalar como presidente: o Vice-Presidente Michael Temer é a encarnação da contaminação pela corrupção ao serviço dos oligarcas. Michael Temer é um politico profundamente impopular.

Duas faces de um mesmo país enfrentam-se por partidos interpostos, o Brasil dos ricos e o Brasil dos pobres.

Trata-se bem de operações de destituição ilegal de um poder eleito democraticamente. Este golpe  é realizado  pela oposição de direita: a direita política que quer escapar às condenações judiciais e retornar aos negócios; e a direita judicial que utiliza os inquéritos e a sua mediatização de maneira partidária e violando, de passagem, as liberdades públicas. Que haja milhões de pessoas a apoiar  este golpe de Estado na rua não significa  nada  relativamente ao que se acaba de dizer.  Outros já o tinham feito antes deles há 50 anos, quando um golpe de Estado militar foi aclamado por milhões de Brasileiros, pela imprensa, e pela maioria da classe política. A ditadura durou 21 anos. E alguns sonham com ela outra vez.

A burguesia brasileira não se satisfaz com a sua condição de classe dominante. Exige condições que lhe permitem explorar sem obstáculos  a força de trabalho de que dispõe: os mais pobres, os sem-terra. E as classes médias estão exasperadas não porque o seu nível de vida se degrade mas sim porque vêem os mais pobres ganhar ligeiramente mais direitos! Esta pseudo-elite não reconhece o princípio da  maioria senão  quando este corresponde aos seus interesses. Os banksters, tal como a bolsa, jogam a fundo na destituição da presidente de esquerda (essa, que horror!). BNP-Paribas pensa, aliás,  que é “tempo de voltar a ser  positivo sobre as perspectivas económicas do Brasil… na condição de que o  Vice-Presidente Michel Temer “tenha  êxito em conseguir constituir  uma equipa solida  e a obter o apoio de uma parte do congresso para tomar medidas certamente impopulares mas muito necessárias”. Mesmo os bancos franceses estão a jogar contra a presidente elegida. Insuportável ingerência.

Eis pois  a conspiração que quer destruir   Dilma Rousseff. É verdade que  o Partido do Trabalhador traiu a sua promessa de ser um partido “limpo”, “ético”. Fundiu-se com  o sistema, em parte para efectuar políticas de inclusão que a esmagadora maioria da classe política rejeitava (que ele teve que comprar), em parte porque os políticos de PT se aproveitaram do exercício do poder para enriquecerem  pessoalmente. É certo que  Dilma governou pouco e mal. Sob a pressão da crise económica que resulta da queda dos preços das matérias primeiro de que  o Brasil é um grande fornecedor mundial, teve que renunciar a levar  à prática   políticas sociais e de crescimento. Mas estas não são razões válidas para levar à destituição uma presidente eleita democraticamente.

O objectivo “dos golpistas” é atacarem-se à soberania popular, expressa pelo voto,  e também de a colocarem sob a  tutela  da magistratura cujos  membros   não eleitos e protegidos de qualquer controlo social, se envolveram  num programa de mudanças retrógradas que não são publicamente apresentadas. Contra a esquerda – que os golpistas abominam  –  tudo lhes serve, incluindo um golpe de Estado militar. .

Mas por detrás destas baixas manobras – que se verificam  também na  Venezuela – adivinha-se as patas sujas dos serviços secretos  – CIA designadamente – que  dissimuladamente tudo corrompem para imporem  a  política de Washington. Através do Brasil, o  que é aqui visado, é a aliança económica dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul). Porque que melhor maneira haverá  para se  contrapor às acções bem conseguidas através desta aliança  que ousa estabelecer face ao “Império” do que  colocar no Brasil um governante oligárquico debaixo da bota dos interesses americanos ?

Bom ambiente para os jogos olímpicos!

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Ver o original em:

http://www.agoravox.fr/actualites/international/article/usa-fomenter-un-golpe-180821

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