A América, e com ela o Ocidente, num impasse perigoso com as eleições presidenciais de Novembro – A introdução de Júlio Marques Mota

A América, e com ela o Ocidente, num impasse perigoso com as eleições presidenciais de Novembro

Introdução por Júlio Marques Mota

júlio marques mota

Vai o blog A Viagem dos Argonautas publicar uma série de artigos de Onubre Einz relativamente à evolução da economia e da sociedade americana, sociedade esta que sob um regime democrático e com gente aparentemente de centro-esquerda nestes últimos 8 anos atingiu níveis de desigualdade económica agora historicamente sem precedentes. E é dos mecanismos económicos e políticos geradores destas desigualdades que nos fala todo o texto de Onubre Einz ao longo de mais de 120 páginas, repartidas por sete capítulos.

Aliás, num dos textos desta série, é também o modelo neoliberal visto nos seus aspetos produtivos e improdutivos, tendo como pano de fundo a globalização, também ela neoliberal, que aparece como gerador deste impasse, deste vazio em que a América se pode afundar. Nesse texto da série afirma-se: 

Agora, há poucos verdadeiros industrialistas e muitos dos que ainda o são deslocalizaram a sua produção para outros países, aumentando e bem a remuneração dos seus executivos via salários e bónus, mas desta forma contribuíram para o esvaziamento do tecido produtivo americano. Os verdadeiros industrialistas produziram os carros, os camiões, as máquinas ferramenta, os geradores, os servidores e mesmo os computadores. Produziram medicamentos e técnicas que salvaram vidas e melhoram a saúde das populações. Construíram siderurgias, construíram caminhos-de-ferro. Eles criaram empregos.

(…)

Mark Zuckerberg, contudo, não é Henry Ford. Jack Dorsey não é Andrew Carnegie. Mark Benioff não é John Rockefeller. Lloyd Blankfein não é John Pierpont Morgan. (Elon Musk pode desejar ser alguém de muita importância, se é permitido falhar será então perdoado. O tempo o dirá. Os velhos barões ladrões, apesar das suas falhas, produziram coisas de valor durável.

O que é que esses novos titãs da indústria nos dão? Facebook? Snapchat? Twitter? Eles dão-nos banalidades e blá-blá-blá. Alguns agarraram-se a elas, abraçaram-nas, apesar de serem banalidades, talvez porque todos os outros significados tinham já sido perdidos, como empregos exportados pela América. Estes novos titãs, Neo Titãs, fizeram pouco mais do que ajudar a sociedade a embrutecer. Eles tornaram a América menos produtiva, menos curiosa, mais pedonal. Talvez eles pensem que nos deram a internet, mas o crédito de tal dádiva vai para DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency), o mesmo é dizer, para os militares (…). Os Neo Titãs nada deram à América, pelo menos nada de positivo. Redes sociais? Jogos? Selfies?

Mais do que isso ou na sequência disso mesmo, a sociedade aparece pois sem alternativas como consequência direta do modelo neoliberal aplicado durante décadas a fio, e se dúvidas há, vejam-se as eleições para a Presidência dos Estados Unidos, em que cada partido, Republicano ou Democrata, tem um candidato de que gostaria de se ver livre. Diremos mesmo que a América perdeu a batalha das eleições qualquer que seja o vencedor. Dramático, pois. E a situação é tão dramática que há quem fale já em 1788, tão perto de 1789 e de 1792. Curiosamente não me parece ser gente de esquerda a escrever isto, o que dá à situação um aspeto ainda mais aterrador.

Fomos então analisar o impasse de que fala Onubre Einz agora através das eleições americanas. É essa análise que passamos agora diariamente a publicar até ao dia das eleições, em paralelo com o texto de Onubre Einz. E sinceramente o retrato que se tira destas eleições, talvez as mais sujas de sempre, é que se trata de umas eleições onde tudo parece ser válido, sobretudo se for para abater Trump.

Uma análise feita ao longo de vários textos que não serão de leitura agradável para ninguém. O impasse nestas eleições é total, a confirmar afinal a tese de Onubre Einz. A América já perdeu, ganhe quem ganhar, é a conclusão a que neles se chega.

Mas estas eleições apresentam ainda uma outra característica. A esquerda, por tudo o que é sítio, mostra-nos que o mau da fita é afinal apenas um: Donald Trump. A forma como o faz, o silêncio projetado sobre a falta de qualidades do outro candidato, Hillary Clinton, ou ainda o silêncio sobre as forças políticas e económicas que a apoiam, dizem-nos que se continua a seguir a velha máxima de que os fins justificam os meios. Esquece esta mesma esquerda que quando assim é, historicamente isto prova-se, são depois os fins que se adaptam aos meios utilizados e fica aberto o caminho que vai da democracia musculada, fortemente musculada, à ditadura não desejada.

Boa leitura é o que vos desejo.

Coimbra, 19 de Outubro de 2016.

Júlio Marques Mota

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