31 DE DEZEMBRO por Luísa Lobão Moniz

olhem para  mim

31 de Dezembro de …

1 de Janeiro de….

Todos os anos nestes dias se repetem as mesmas frases, os mesmos gestos tantas vezes esquecidos!

Até se promete o cessar- fogo, como se alguém acreditasse nessa promessa!

Cada 1º de Janeiro é dia de aniversário nas nossas vidas, mais uma vez conseguimos aqui chegar enquanto tantos, tantos não o conseguiram fazer.

Há alguém, muitos, que não quiseram aqui continuar e uma pastilha foi o caminho escolhido; há alguém que queria aqui estar, mas não o deixaram, foi apanhado pela polícia numa rusga…

Há alguém que que… ouviu o estilhaçar de uma bomba e já cá não está.

Há quem cá esteja sem o saber e pense que ainda está no tempo da guerra colonial e ainda salte a um som mais alto e agressivo.

Há quem esteja só sem ninguém, há quem queira um colinho quente para se aninhar, são

tantos meninos, os meninos que cá estão sem colinho!

Há tantos adolescentes sem rumo, com a passadeira estendida para as substâncias aditivas.

Há tantos adultos sem teto, sem comida, sem dormida acompanhados pelas estrelas e pela chuva…

E todos os anos se repetem as mesmas promessas, se mostram mais gráficos para nos espantarmos com o que foi feito e o que não foi possível.

Mas possível, possível é a vontade de cada um, de cada nós para enfrentar o lado corrupto e

feio deste mundo enquanto o outro lado procura as promessas do 1º de Janeiro.

Começa-se um novo ano mas não uma nova vida por mais fogo de artifício que brilhe no céu, por mais passas que se comam, cada uma com um desejo, por mais champanhe que se beba à saúde de…

Nesta passagem de ano vejo crianças quase a morrer sem o saberem, espantadinhas com a vida nos campos de refugiados, desalentadas pelas ondas de seres humanos que avançam para a europa. Vejo crianças lindas, como todas, a correrem desajeitadamente de braços abertos em direcção aos pais, vejo crianças que ainda acreditam no Pai Natal, vejo também crianças felizes a comerem uma papinha tão docinha…

Mas não deixo de me lembrar da injustiça feita pela mão dos homens a crianças tão sofredoras!

Sabermos que os mercados é que comandam as nossas vidas, que as nossas vidas não são suficientemente protectoras com os mais vulneráveis.

Desde de o dia 1º de Janeiro de 2016 quantas mulheres foram batidas, foram violadas, foram mortas; quantas crianças foram batidas, foram violadas, foram mortas; quantos de nós fomos agredidos pela falta de sensibilidade e pela violência gratuita na Televisão.

Muitos portugueses regressaram a Portugal e foram bem vindos, quantos estrangeiros escolheram Portugal para trabalhar e residir, que sejam bem vindos também!

A livre circulação de pessoas e bens é já um direito.

Vejam bem

que não há só gaivotas em terra

quando um homem se põe a pensar

quando um homem se põe a pensar   

José Afonso

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