FRATERNIZAR – R.O. VP e CEP metem os pés pelas mãos – QUE TIPO DE FÉ, DE IGREJA, DE DEUS SE VIVE-VENDE EM FÁTIMA? – por MÁRIO DE OLIVEIRA

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Confesso que não esperava tanta promoção aos meus dois livros sobre o embuste de Fátima – FÁTIMA NUNCA MAIS, 1999, e FÁTIMA $. A., 2015 – nas colunas de VP-Voz Portucalense, semanário oficioso da diocese do Porto. E logo por parte de um dos seus mais conceituados e preparados colaboradores, jornalista JN reformado, antigo chefe de redacção de VP, nos áureos tempos do ilustre Director Dr. Álvaro Madureira, ainda a Pide era rainha e a Censura com o seu lápis azul não arredava pé das redações dos órgãos de comunicação social. Refiro-me concretamente ao padre-jornalista Rui Osório (R.O.), meu amigo e contemporâneo no curso de Teologia no Seminário da Sé, Porto, que semanalmente assina uma Crónica na última página, a encerrar cada edição. Para cúmulo, o inócuo título da sua Crónica, a fechar a última edição de 2016, “Fátima tornou-se «casa maternal»”, escrita com o objectivo de comentar-divulgar a mais recente e infantil Carta Pastoral dos bispos portugueses sobre o famigerado centenário das “aparições” de Fátima, não fazia esperar semelhante promoção.

Mas R.O., contra todas as regras jornalísticas que recomendam que o título da notícia encontre suporte no primeiro parágrafo do texto – bem sei que, no caso, não é propriamente uma notícia, é mais uma mistura de notícia e de crónica – decidiu dedicar os três primeiros parágrafos, não à referida Carta Pastoral, mas, inesperadamente, àqueles que ele próprio rotula de “os três mais badalados antifatimistas”. Destes três, opina que “o mais culto era o racionalista, ateísta e missionário laico Tomás da Fonseca.” E logo adianta: “Os outros dois, João Ilharco, no seu libelo «Fátima desmascarada», e o obsessivo Mário de Oliveira, em «Fátima nunca mais» e «Fátima S.A.», são polemistas medíocres.” Tal e qual, “Polemistas medíocres”. Que, pelos vistos, a profundidade de conteúdos é apanágio das colunas de VP e dos documentos oficiais da CEP, das intervenções de cada um dos bispos titulares do país e das homilias dominicais dos párocos das cidades e das aldeias!!! Repararam certamente que do “mais culto” dos três, R.O. tem o cuidado de omitir o título do seu corajoso e lúcido livro, “Na Cova dos Leões”, não fosse acontecer que as leitoras, os leitores corressem logo em sua demanda. Já dos dois restantes, como os classifica de “polemistas medíocres”, até se permite divulgar os títulos das respectivas obras. Tem ainda um outro cuidado em relação ao último destes dois “polemistas medíocres”, concretamente, em relação a mim, por sinal, seu amigo pessoal e seu irmão no presbiterado e no estatuto de jornalista profissional. Sou o único dos três que mereço dele a classificação de “obsessivo”. O que me leva a ter de pressupor que, para R.O., todos os clérigos portugueses – bispos diocesanos e párocos – muitos dos quais não perdem uma ”peregrinação” nos meses de maio e outubro de cada ano, não são nada “obsessivos”, nem fanáticos. Pelo contrário, serão todos modelos de presbíteros e bispos, inteiramente dedicados à arriscadíssima missão de Evangelizar os pobres e os povos!!!

Mas regressemos ao seu texto. “Para Tomás da Fonseca – escreve R.O.- as aparições na Cova da Iria eram «escandalosa fraude», «ignóbil farsa», «delito premeditado» e o «maior embuste do século». Tantas hipérboles causam enjoo. Os militantes ideológicos, laicos ou religiosos, deixam o rabo de fora na sua pretensão de libertar o povo de manipulações, quando, afinal, são eles quem mais lhe imputa a consciência, como se o povo fosse, cívica, política ou religiosamente, menor de idade.”

Acabam aqui os três parágrafos. Reveladores de um grande pecado de omissão, por parte do meu amigo e irmão R.O. É que, com este seu escrever, até parece que, para ele, nunca existiram os 16 séculos de Cristandade Ocidental, de pensamente único, de autoritarismo eclesiástico, de Cruzadas, de Fogueiras de Inquisição, de tirania clerical, numa mão, a espada, na outra a cruz, instrumento de tortura mental, juntamente com a Bíblia, o Missal, as missas em latim aos domingos e dias santos de guarda, às quais ninguém podia faltar, sob pena de pecado mortal e de castigo eterno no inferno, caso viesse a morrer sem antes se ter confessado ao todo-poderoso senhor abade. Até parece que tão pouco existiram o aterrorizador altar e os púlpitos no meio das igrejas, frequentados por pregadores clérigos vindos de fora e também pelos padres das missões populares com pregações terroristas semelhantes às do terrífico livro “Missão Abreviada” que Lúcia, a mais velhita das três crianças utilizadas pelo clero de Ourém em 1917, ouvia a sua mãe ler à luz da candeia, nas longas e gélidas noites de inverno da Serra d’Aire.

O pior é que a todos estes horrores clericais, mais do que obsessivos e fanáticos, há que juntar ainda as semanas santas com as suas procissões dos passos aos calvários e os seus terríficos sermões do encontro e da paixão, as catequeses obrigatórias, os baptismos das crianças obrigatórios, as confissões de desobriga na quaresma, às quais nenhum paroquiano podia escapar, seguida da comunhão obrigatória pela páscoa da ressurreição, o pagamanto das obradas ou côngruas ao senhor abade, o casamento obrigatório pela igreja, as comunhões solenes e os crismas obrigatórios, a reza do terço aos domingos de tarde, as novenas no mês de maio e pelas almas no mês de novembro. E que dizer da corporativa reacção dos clérigos católicos do país contra a República de 1910, logo seguida da adesão em massa dos párocos e organismos católicos à palavra de ordem do cónego Formigão, autor do teatrinho das aparições em Fátima, para arregimentarem os respectivos paroquianos a “peregrinarem” em grande número a pé até à serra de Aire junto da carrasqueira ou azinheira, num dos campos dos pais de Lúcia, a mais velha das três desgraçadas crianças criminosamente utilizadas por ele, entre maio e outubro de 1917, num simulacro de “aparições da senhora de Fátima”, teologicamente, absurdas, por mais que os clérigos do topo à base digam que são “dignas de fé”?!

Depois de tudo isto, é mais do que legítimo perguntar que tipo de fé, de igreja, de Deus se vive-vende em Fátima desde 1917 até aos nossos dias, uma fulcral questão que a inócua Carta Pastoral dos Bispos sobre o centenário, nem seque se coloca? A verdade é que, não fora o senhor Thedim, da Trofa, Braga, ter concebido e fabricado com suas próprias mãos a imagem da senhora de fátima, e não fora o senhor Gilberto Fernandes dos Santos, de Torres Novas, ter-lha comprado e, no dia 13 de Maio de 1920, já depois da morte de Francisco e de sua irmã Jacinta, tê-la oferecido e deixado na sacristia da igreja paroquial de Fátima, e, das “aparições” de 1917, não restaria hoje nada, nem sequer a lembrança. Mas o cónego Formigão, sem dúvida o clérigo português da altura mais conhecido e mais escutado nas paróquias de Portugal, que, antes de 1917, tinha passado mês e meio em Lourdes (França) a aprender como o teatrinho de lá havia vingado, não deixou nunca mais os seus créditos por mãos alheias. É ele o verdadeiro inventor e mentor do teatrinho das “aparições” de Fátima, com dois objectivos muito concretos que, em seu entender clerical, justificavam o recurso a todos os meios, inclusive, os mais perversos: 1, derrubar a República 2, restaurar a diocese de Leiria. A Diocese é restaurada em 17 de Janeiro de 1918 pelo papa Bento XV. E a República é derrubada em 28 de Maio de 1926, com o golpe do Estado Novo, de onde emerge depois a sinistra dupla Salazar-Cardeal Cerejeira.

Cedo, porém, o dinheiro começa tambem a cair, abundante, em Fátima, que as famílias monárquicas católicas dispunham de muitos bens e as populações do país católicas por nascimento, secularmente reduzidas à criminosa condição de humilhados servos da gleba e de eternos pagadores de promessas, chegam a tirar o pão às suas bocas e às dos filhos para o darem às imagens de deusas e deuses que lhes devoram a alma. Perante um tal fenómeno de massas, os clérigos de Ourém, com destaque para o cónego Formigão e o Pe. Lacerda, multiplicam-se a forjar interrogatórios às três crianças do teatrinho, com as perguntas e as respostas que mais lhes convêm, e, com isso, “fundamentam” como verdadeiras “aparições”, as sessões do seu próprio teatrinho. Nasce assim a chamada Fátima 1, sem nada de nada para se impor ao país, muito menos, ao mundo.

Era preciso ainda mais, muito mais. E é então que já depois da morte de Francisco (1919) e de Jacinta (1920), os clérigos levam mais longe o seu premeditado crime. Já com o novo bispo D. José Alves Correia da Silva à frente da diocese de Leiria, conseguem retirar à mãe a única sobrevivente Lúcia e, a partir daí, fazem dela gato-sapato até à morte. Sobretudo, escrevem em seu nome, a partir de 1935, o que pomposamente titulam de “Memórias da Irmã Lúcia” (4 + duas, uma sobre o pai, outra sobre a mãe), com conteúdos bem à medida das conveniências e dos interesses do Estado Novo de Salazar-Cardeal Cerejeira, da igreja portuguesa e do Estado do Vaticano, apavorado que andava, na década de 30-40, com o triunfo da Revolução bolchevique de Novembro de 1917 e com o seu apregoado Comunismo ateu. Nasce assim Fátima 2, a única que se impõe ao mundo e que, cem anos depois, é hoje a multinacional religiosa que se vê.Tão poderosa, que já nem a CEP nem o Vaticano conseguem mais controlar, apenas aproveitar-se de uma pequena parte dos seus fabulosos lucros. O império mundial do turismo religioso põe e dispõe dela a seu bel-prazer e retira daquele bolo a fatia maior. Pelo que a fé, a igreja, o deus que há 100 anos se prega-vive-vende em Fátima, é a negação da genuína Fé de Jesus, da Igreja-Movimento de Jesus, do Deus de Jesus. Ou a igreja católica vê isto e afasta-se definitivamente de Fátima, ou é cada vez mais o que já hoje é: uma fábrica de lavagem de dinheiro sujo e, pior do que isso, uma fabrica de produção de vítimas humanas, eternos pagadores de promessas. O que perfaz um pecado e um crime sem perdão.

 

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