IMAGEM E POESIA – Por José Magalhães (115)

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TEM DIAS, SABES?

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Tem dias em que abafo

Preso nestas paredes

De pedra

Dias compridos onde vagueio

Entre palavras

E deambulo de quarto em quarto

De sala em sala

Abafado entre muitas sedes

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Tem dias em que me sinto assim

Cansado e farto

E preso

Fechado numa mala

Embrumado entre as paredes

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Tem dias, sabes?

Tem dias…

Tem dias em que nada mexe

Nem o fumo das queimadas

Nem as letras dos avisos

Nem as vidas que vivi.

Tem dias que ninguém esquece

Cheios de ideias tresloucadas

Actos feitos de improvisos

Sabores por que morri.

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Tem dias em que

Quando o dia chega ao fim

O meu pensamento alarde

Voeja por entre letras certas

Preso nas folhas

Dos livros lidos na sobretarde

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Tem dias em que

Não se passou nada

Em que nunca se passa nada

Em que tenho fogo que entra em mim

Que queima, magoa

E não se apaga

Onde à minha volta tudo arde

E preciso de pousada

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Amanheço muito cedo nesses dias

Em que me maço

E me encho de medo

De me entregar ao cansaço

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Tem dias, sabes?

Tem dias em que tudo mexe

Em que as ideias me são escravas

E me surgem em improvisos

Em sinfonias que nunca ouvi.

Tem dias em que me apetece

Vestir-te de palavras

Cobrir-te com mil sorrisos

E pernoitar em ti.

Tem dias…

Tem dias, sabes?

Tem dias …

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