O presidente Marcelo, sempre lesto a falar sobre tudo, demorou 48 horas a apresentar condolências à família de João Varela Gomes – “O primeiro capitão de Abril”. Em escassas três linhas, o filho do escolhido por Salazar para ser governador-geral de Moçambique invocou “a sua militância cívica, em particular, a sua consistente luta contra a ditadura constitucionalizada antes do 25 de Abril de 1974”, pois assim redefine Marcelo o fascismo português.
Marcelo, como se vê, disse coisa pouca sobre uma figura central do combate à ditadura. O coronel João Varela Gomes (93 anos) foi um revolucionário, um consequente militante antifascista, um militar com biblioteca, um cidadão singular.
Cresci a ouvir falar dele e da sua luta sem tréguas ao Estado Novo, mas só o conheci pessoalmente em Maio, Maduro Maio de 2006.
Por essa altura preparava a edição de “Vasco sempre” e José Viale-Moutinho, que assumiu a coordenação desse livro-tributo a Vasco Gonçalves, foi quem me proporcionou esse encontro com “o primeiro capitão de Abril”, um dos conspiradores da Sé (1959) e o herói militar do assalto ao Quartel de Beja (1) (1961).
João Varela Gomes recebeu-nos na sua modesta casa, no aristocrático Bairro da Lapa. A conversa com Varela Gomes, e sua mulher Maria Eugénia (2), (e)terna cúmplice de todos os combates, prolongou-se por várias horas e foi, para mim, uma lição de vida.
Perseguido, preso, torturado, expulso do Exército antes do 25 de Abril, João Varela Gomes partiu para o exílio quando “o mês de Novembro aqui chegou”; e abriu alas para o regresso dos velhos Donos Disto Tudo (DDT). A eles e aos novos DDT que hoje mandam no país.
Uns e outros, tal como a rapaziada do Caldas, odiavam João Varela Gomes e nunca lhe perdoaram o seu combate por uma sociedade livre dos vampiros que “comem tudo e não deixam nada”; e, também, nunca esqueceram o facto de Varela Gomes, à frente de um exército constituído por centenas de operários da Sorefame, ter retirado o nome de Salazar da ponte sobre o Tejo e de lhe ter atribuído o nome de “Ponte 25 de Abril”.
Por isso, anteontem, na Assembleia da República, o CDS/PP rejeitou o voto de pesar proposto pelos partidos de esquerda. Estou certo que João Varela Gomes aplaudiria a rejeição de tal gente.
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