Uma nova série sobre as novas tempestades que se vislumbram já no horizonte
Seleção e tradução de Júlio Marques Mota
Parte II – 25. As ações em venda desenfreada (2ª parte-conclusão)
Por Adam Hamilton em 9 de fevereiro de 2018
Republicado por Gonzalo Raffo Infonews
Que corrida louca e selvagem!
Isso levanta necessariamente a questão: e o que é que vai acontecer a seguir? Este choque no mercado de ações e sobre a volatilidade ocorreu num momento em que os mercados de ações já estavam em grande dificuldade. Esse evento extremo deve começar a alterar a psicologia do rebanho. Este primeiro gráfico analisa o SPX sobreposto ao VIX ao longo dos últimos anos, ambos na base dos valores de encerramento dos mercados. Uma vez que a venda a sério só começou nos mercados de ações sobrecarregados em alta, isto augura que há muito mais que estará para vir.
A venda de ações desenfreada nesta semana surgiu em alguns dos mercados de ações mais sobrecarregados em alta jamais vistos. Mais uma vez, a média SPX-componente TTM P/ E (rácio calculado sobre 12 meses) foi levado a atingir um valor que é claramente de bolha financeira, um valor de 31,8x!
Mais uma vez o SPX saltou 14,0% acima da média móvel de 200 dias, algumas das condições de maior excesso de compras observadas em toda a história do SPX. O SPX disparou verticalmente durante a maior parte de janeiro em nível de eufórica moda popular.
O impacto futuro da venda de ações que se desencadeou depende realmente das condições de mercado que geraram esta venda massiva. Se as cotações das ações estivessem perto dos mais baixos valores alcançados durante vários anos, levando a picos de venda, com rácios de valorização menores do que a sua média histórica de 14x o seu rendimento, esses eventos podem marcar os clímax de venda antes das principais reversões maiores. Mas, infelizmente, foi exatamente o oposto que foi verdade, levando ao conhecido forte afundamento do SPX.
Vinda do que se assemelhava e se sentia como sendo um ponto alto da mania dos mercados, a venda em massa da semana passada é certamente um presságio sinistro. Os mercados de ações não podem estar em aumento indefinidamente, mas era exatamente isso o que eles pareciam estar a fazer desde a vitória surpresa de Trump. Entre o dia da eleição e o último recorde do final de janeiro, o SPX subiu 34,3% em apenas 14-15 meses! E esse período foi incrivelmente de uma extrema baixa volatilidade.
Novamente, a partir da última sexta-feira, tinha havido um recorde total de 405 dias de negociação sem uma única queda de 5% no SPX. Trata-se de um pouco mais de ano e meio. Nada disso tinha antes acontecido. Tecnicamente, um recuo é uma venda a prazo de 4% a 10% nos mercados de ações aos valores de encerramento dos mercados. As últimas baixas de SPX foram menores, uma de 4,8% no final de 2016, depois de ter havido uma de 5,6% em meados de 2016. Essas foram as últimas vendas massivas do SPX antes desta semana.
As periódicas vendas massivas para reequilibrar o sentimento dos mercados são essenciais para manter os comportamentos em alta de boa saúde. Quanto mais tempo os mercados se comportam sem vendas massivas mais a ganância e complacência se multiplicam. Os operadores esquecem que as ações também caem, e a sua arrogância leva-os a assumir todo o tipo de riscos excessivos. Como por exemplo andarem a apostar que a baixa volatilidade recorde iria continuar indefinidamente. A especulação alavancada fica eventualmente tão extrema que ameaça a totalidade do mercado em alta.
A minha analogia favorita nesta questão é o incêndio florestal. As autoridades adoram suprimir os fogos nas florestas naturais para proteger as estruturas. Mas quanto mais os bombeiros apagam todo e qualquer pequeno fogo mais densa fica a vegetação rasteira nas florestas. Esta fonte de combustível fica fora de controle, levando eventualmente a uma conflagração demasiado extrema para poder ser apagada. Em vez de ter muito pequenos incêndios florestais para manter a matéria combustível sob controle, a sua eliminação garante eventualmente um fogo infernal superdestruidor.
As descidas e as correções periódicas nos mercados de ações permitem que o mato da ganância seja queimado antes de ficar suficientemente grosso para se tornar um risco sistémico. Os operadores ingenuamente acreditam que as levitações dos mercados de ações são menos arriscadas, mas é o oposto que é verdadeiro. Quanto mais longo é o intervalo de tempo sem uma venda massiva, maior será a probabilidade de haver uma destas vendas em breve. Os mercados sãos e normais realmente sofrem correções na ordem dos +10%, uma vez por ano ou assim, para manter o equilíbrio.
Faz 2 anos que se deu a última correção real do SPX, no início de 2016. A falta de pequenas quedas do SPX e de maiores correções permitiu que a complacência crescesse sem controle e se transformasse em ganância, euforia e até mesmo na desmesura como se viu recentemente. E estes extremos emocionais devem ser basicamente eliminados para que a alta dos mercados tenha alguma esperança de eventualmente se poder encaminhar para valores mais altos. A única coisa que pode erradicar a ganância generalizada é a venda massiva de ações.
Após o mergulho sério de 4,1% da segunda-feira, o SPX estava ainda somente 7,8% abaixo do pico alcançado apenas 6 dias de negociação antes. Embora seja uma velocidade incomum para ver esse declínio, isto ainda o classifica apenas como a parte final do simples território do recuo. Nós ainda não atingimos uma correção na ordem dos 10%, e esta pode chegar até aos 20%. As últimas correções do SPX foram de 12,4% ao longo de 3,2 meses em meados de 2015 e de 13,3% ao longo de 3,3 meses no início de 2016.
Dadas as condições de extrema sobrevalorização e de compras excessivas de ações que levaram ao mergulho da semana passada, não havia sequer maneira nenhuma que fosse suficiente para reequilibrar ou redirecionar o sentimento de euforia. Por isso, é mais do que certo que o SPX será menor nos próximos meses, descendo bem mais de 10%, já no território de correção profunda. Em 10%, o SPX estaria apenas a voltar aos níveis de novembro, apenas apagando o recente surto dos mercados.
Se essa correção se aproxima de 20%, como realmente deveria ser, isso arrastaria o SPX de volta para baixo para 2298 (no dia 15 de fevereiro fechou a 2.731.20). Esses níveis foram vistos pela primeira vez há pouco mais de um ano no final de janeiro de 2017. Isso reverteria a parte do leão de todo o aumento passado da taxforia do ano, causando um dano tremendo no sentimento dos mercados. Mas não devemos esquecer que as correções tendem a demorar alguns meses, e não alguns dias. Então, a venda é muito mais gradual do que a de segunda-feira.
Esse pico extremo de 50 do VIX na manhã de terça-feira deve ser considerado. Mais uma vez, esse é o nível máximo que o VIX assume em correções normais, o que implica que a pressão de venda imediata deveria ter diminuído. Os únicos momentos em que se registam brevemente níveis mais elevados do VIX foram depois de colapsos dos mercados e de situações de pânico. Um colapso é uma queda de 20% em apenas dois dias de transações a partir de níveis muito altos do mercado de ações. A venda massiva no mercado de sexta-feira a segunda-feira da semana passada nem chegou perto disso.
Os grandes colapsos são extremamente raros na história, e quase impossíveis hoje, dado o uso generalizado de disjuntores da bolsa, ou seja, de ferramentas de bloqueio dos circuitos de propagação no mercado de ações. Estes efetivamente encerram os mercados durante algum tempo quando os marcos de referência ou de limites de vendas ao longo do dia são atingidos. Atualmente, o SPX tem disjuntores que são desencadeados a níveis à baixa de 7%, 13% e 20%. As interrupções de transações dependem de quando esses declínios ocorrem, no decorrer de um dia de negociação, antes ou depois das 3h25min da tarde. Isto pode travar quedas a pique do mercado de ações.
Os pânicos são grandes saltos no volume de vendas, na ordem dos 20% + no intervalo de duas semanas. Trata-se de valores já extremos, mas muito mais lentos do que os grandes colapsos dos mercados. Os mercados têm tendência a sair das situações de comportamentos à baixa dos mercados e com um comportamento em cascata a partir dos níveis mais baixos dos mercados em situação baixista até se atingir uma fase final de clímax. Estas situações são muito raras também, sendo o ano de 2008 o primeiro exemplo formal desde 1907. O VIX pode subir temporariamente acima de 50 em situações de colapso ou de pânico, mas esses extremos nunca duram muito. Em condições normais de mercado, um pico de 50 do VIX deve marcar uma baixa máxima do mercado.
Mas o problema desta semana é que o pico extremo do VIX verificado na terça-feira foi o resultado da compra em situação de pânico de futuros VIX para liquidar esses ETNs inversos-VIX. Isso nunca aconteceu antes. Sem essa dinâmica, o VIX provavelmente não teria passado muito acima de 30. Isto também implica que esta venda a qualquer custo no mercado de ações ainda tem muito espaço percorrer. Portanto, o desencadear da venda de ações provavelmente irá continuar ao longo de alguns meses pelo menos, apesar do pico do VIX.
Dados os extremos nestes mercados de ações no final de janeiro, eu ainda suspeito que as probabilidades favoreçam fortemente um mercado a ostentar uma outra descida em mais de 20% em vez de uma simples correção do mercado à alta. Eu apresentei este convincente caso à baixa do SPX no final de dezembro, e não tenho espaço para repeti-lo aqui. Os mercados normais de tendência à baixa tendem a reduzir o volume de ações para metade durante um par de anos ou mais, com 50% de perdas de SPX. Isso funciona para um ritmo de venda médio gradual de 0,1% por dia.
O último par de SPX dá uma ideia do que se pode esperar aquando da inevitável próxima baixa depois de um salto épico. O SPX caiu 49,1% ao longo de cerca de dois anos e 6 meses, a terminar em outubro de 2002 e de 56,8% em cerca de 17 meses que atingiu o clímax em março de 2009. Uma perda SPX de 50%, que é uma perda conservadora, uma vez que as descidas tendem a ser proporcionais à dimensão das altas anteriores, arrastaria o índice colocando-o de volta para o valor de 1436. Estes são os níveis de setembro de 2012, um longo caminho na descida!
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Finalmente, a venda de ações desencadeada provavelmente está apenas a começar devido ao que os principais bancos centrais estão a fazer este ano. A campanha sem precedentes do FED de redução da quantitative easing para começar a inverter os seus milhões de milhões de dólares de liquidez da QE injetada em que a levitação das ações está a acelerar ao longo de 2018. Ao mesmo tempo, o Banco Central Europeu reduziu para metade a sua própria quantitative easing até setembro, quando esta pode mesmo cessar totalmente.
Entre o aperto da quantitative easing do FED e a redução gradual da quantitative easing do BCE, os mercados de ações globais enfrentam uma contração do banco central em $ 950 mil milhões em 2018 e outros $ 1450 mil milhões em 2019 em comparação com os níveis de 2017! Isso certamente irá estrangular este monstro do mercado em alta inflacionado pela política de quantitative easing. Assim, acima de tudo o que as vendas massivas da semana mostram é que os mercados de ações eufóricos já estavam em sérias dificuldades pela política agora de contração monetária recorde levada a cabo pelo Banco central. (…)
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Texto em http://gonzaloraffoinfonews.blogspot.pt/2018/02/stock-selling-unleashed-safe-haven.html