SINAIS DE FOGO – A LIÇÃO DE VIDA DE GOODALL – por Soares Novais

 

Foto REUTERS/Stefan Wermuth

 

Foi com a “Ode à Alegria” que médicos suiços colocaram ponto final à vida do cientista David Goodall. Foi Goodall que escolheu o poema de Friedrich Schiller, cantado no quarto movimento da 9.ª sinfonia de Beethoven, para se despedir de uma vida que já não lhe interessava viver.

Goodall era um cientista inglês, radicado há muito na Austrália, tinha 104 anos, não tinha nenhuma doença grave, mas a infelicidade que o assolava levou-o a tomar a decisão de pôr termo à sua longa e singular vida.

A infelicidade de Goodal começou após uma queda no seu apartamento, que diminuiu a sua independência. Os médicos fizeram-lhe um ultimato: ou David contratava ajuda 24 horas por dia ou teria de ir para um lar. Goodal recusou ambas as hipóteses. E explicou a sua decisão em optar pela morte, durante uma entrevista a um canal de televisão australiano:

“Não estou feliz. Quero morrer e isso não é particularmente triste. Uma pessoa da minha idade deve beneficiar em pleno dos seus direitos de cidadão, incluindo o direito ao suicídio assistido.”

Na Austrália, a morte assistida foi legalizada em 2017 no estado de Victoria. Todavia, a legislação só entra em vigor no próximo ano e circunscreve-se a doentes terminais que desejem pôr termo à vida.

Por essa razão, Goodal viajou atè à Suíça, país que autoriza a eutanásia desde 1942, para cumprir tal desejo. A acompanhá-lo esteve Carol O’Neill, do grupo “Exit International”, um organismo que advoga a morte assistida.

Uma petição lançada na Internet angariou os 12 mil euros necessários para que o cientista fizesse a viagem em classe executiva. David visitou alguns familiares em França, antes de viajar pela última vez para a Suíça. “A minha família sabe o quão insatisfatória é a minha vida”, garantiu o cientista à ABC. “Quanto mais rápido terminar, melhor”, concluiu.

O início da insatisfação de Goodal surgiu em 2016, quando a universidade onde o cientista trabalhava o obrigou a deixar de frequentar o campus. Na mesma altura, foi forçado a deixar de conduzir e de fazer teatro. Isto é, viu-se privado de exercer o seu trabalho e de contactar com os seus amigos.

David Goodal, que nasceu em Londres, no Reino Unido, vivia num pequeno apartamento em Perth, e nos últimos anos, publicou a obra “Ecossistemas do Mundo” com 30 volumes. Foi condecorado inúmeras vezes .

Por cá, apesar da laicidade do Estado, a Igreja Católica continua a opor-se a este direito fundamental dos cidadãos. Ela e os sectores mais reaccionários. Como o partido da Dr.ª Assunção, que agendou uma manifestação para o dia 29 de Maio, junto à Assembleia da República, depois do CDS/ Almada ter partilhado na sua página oficial uma imagem de campanha contra com a frase “a eutanásia mata.”.

Resta saber o que fará Marcelo que já afirmou que o debate sobre a eutanásia foi “muito participado”, mas que também já fez saber que, caso a legalização da morte assistida seja aprovada pelos deputados, tomará “uma decisão política e não pessoal.”

Será que o fundamentalismo católico, sempre pronto a proteger os seus pedófilos, continuará a impor a negação deste direito dos cidadãos?

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