Nuvens bem negras sobre a Europa, sobre o mundo, enquanto lhe vendem a esperança dos amanhãs que cantam
Seleção e tradução de Júlio Marques Mota
2. A zona euro enfrenta o mês da verdade a partir de dados preliminares à reunião do BCE
Por Fergal O’Brien e Piotr Skolimowski
Publicado por em 16 de maio de 2018
– As próximas análises poderão indicar se a fraqueza de agora é apenas temporária
– Os riscos incluem protecionismo, correção do mercado, a forte valorização do euro
O crescimento europeu deve recuperar no segundo trimestre, diz Sarah Hewin, do Standard Chartered.
As autoridades europeias não estão a considerar que uma desaceleração no primeiro trimestre possa minar a sua confiança na economia, mas uma próxima ronda de números pode testar a sua opinião de que a tristeza do inverno terá passado.
As descrições de vários dos decisores de políticas do Banco Central Europeu variaram de sólidas a robustas e fortes quando questionados sobre o recente desempenho. Mesmo depois da Alemanha, o motor económico da zona euro, ter informado, na terça-feira, que a sua taxa de crescimento caiu pela metade, Jan Smets, membro do Conselho do BCE, disse que a região tem “uma forte dinâmica”. Para o vice-presidente do BCE, Vítor Constâncio, a desaceleração não é “nem uma questão inesperada nem para levar a sério”.
Pico anterior
As taxas de crescimento poderão ser mais baixas ao longo de 2019.

As primeiras indicações do segundo trimestre indicam uma recuperação depois de os três primeiros meses até março terem sido de um tempo frio, de greves, de constrangimentos na capacidade produtiva e até mesmo de um surto de gripe. Isso ainda precisa ser confirmado nas próximas semanas, quando os números-chave revelarem se as empresas e as famílias estão a sair da hibernação.
Enquanto os decisores de políticas da Europa estão a travar uma luta corajosa, as reações do mundo empresarial têm sido mais mitigadas, com algumas delas a apontar para a pressão exercida por um euro mais forte, já em 13% desde o início de 2017. Além disso, os preços do petróleo são os mais altos desde há quase quatro. anos, embora a análise da Bloomberg Economics sugira que o barril a US $ 100 não será tão importante quanto o foi em 2011.
Data | Indicador | Último estado |
23 de maio
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Índice compósito PMI da zona Euro | o mais baixo desde janeiro 2017 |
24 de maio | Quebra no PIB alemão no primeiro trimestre | O mais baixo valor desde 2016 |
25 de maio | Índice Ifo | o mais baixo desde março de 2017 |
30 de maio | Índice de confiança na zona euro | o mais baixo desde agosto de 2017 |
31 de maio | Inflação na zona euro | dois meses em baixa |
14 de junho | Reunião do Conselho do BCE |
Todas estas informações preparadas para a próxima reunião de política do BCE, quando haverá novas previsões que podem orientar qualquer discussão formal sobre quando é que se devem reduzir as compras de ativos. A opinião dos altos funcionários são de que eles ainda se estão a movimentar nessa direção, embora tenham reconhecido os riscos globais.
“Eles têm de olhar para os baixos valores do primeiro trimestre e atribuem-nos a muitos fatores temporários, mas têm considerar sobretudo um ambiente económico global que apoie o crescimento”, disse Kristina Hooper, estratega-chefe de mercado global da Invesco. Mas eles terão ainda que reconhecer que há “muita incerteza nas pessoas, o que sugere cautela”.
O presidente do BCE, Mario Draghi, terá outra possibilidade de apresentar a sua visão da economia ao falar em Frankfurt na quarta-feira. No final do mês passado, ele disse que o crescimento é “sólido e de base ampla”, embora a junção de alguns indicadores possa sugerir um “abrandamento mais duradouro na procura”.
A inflação foi de 1,2 por cento em abril, enquanto a taxa de inflação subjacente foi de 0,7 por cento, de acordo com um texto final do Eurostat publicado na quarta-feira. Isso está bem abaixo do que o BCE gostaria que se tivesse verificado.
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As questões mais recentes sobre as perspectivas para a economia eclodiram na terça-feira, com os números a mostrarem que o crescimento na Alemanha, Holanda e Portugal abrandou mais que o previsto nos três meses até março, enquanto a expansão da zona euro caiu de 0,7% para 0,4%.
“O crescimento na zona euro e na Alemanha é um pouco mais fraco do que o inicialmente esperado”, disse o banco alemão Commerzbank no seu relatório trimestral. “O euro está firme, a procura global um pouco menos animada, o aumento das taxas de juros e, não menos importante, o risco de uma guerra comercial entre os EUA e a China que emergiu no final do primeiro trimestre tiveram um impacto sobre estes resultados”.
A Continental AG, fabricante alemã de peças para automóveis, está entre as empresas que destacam o nível do euro, dizendo na semana passada que a valorização do euro está a prejudicar as suas receitas, os seus lucros. A Volkswagen AG também sinalizou a taxa de câmbio como um risco para os seus resultados.
Mas o FMI utilizou um relatório sobre a Europa para dizer que a região está a viver um período de forte crescimento. Também apontou os riscos de médio prazo que poderiam prejudicar a expansão global e da zona euro, incluindo o crescente protecionismo comercial, uma correção nos mercados supervalorizados e uma desaceleração mais profunda na China.
Berenberg Chief Economist Holger Schmieding analisa a economia alemã e a política do Banco Central Europeu. Fonte: Bloomberg
Para o economista-chefe de Berenberg, Holger Schmieding, a Alemanha, de longe o motor mais importante da zona euro – teve simplesmente um contratempo. Embora as taxas homólogas anuais tenham caído quase 3% até ao verão passado, isso foi um ritmo “fora do normal”.
“Em termos de forças subjacentes, não se atingiu até agora o seu ponto mais alto”, declarou ele numa entrevista concedida à Bloomberg Television. “Nós estamos a assistir a um pedaço de crescimento suave.”
— Com a colaboração de Steven Arons, Harumi Ichikura, Andre Tartar, Zoe Schneeweiss, Francine Lacqua, e Brian Swint
Texto original em https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-05-15/euro-zone-braces-for-month-of-truth-from-data-in-prelude-to-ecb