FRATERNIZAR – Paredes de Viadores. E já lá vão 50 anos! – O MEU PRIMEIRO AMOR PAROQUIAL – por MÁRIO DE OLIVEIRA

 

O meu primeiro amor paroquial que poderia ter sido para toda a vida dura apenas 14 meses. Até ao dia em que o administrador apostólico da diocese do Porto. D. Florentino de Andrade e Silva, o mesmo que em 1968 – e vão 50 anos! – me nomeia pároco de Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, me dá apenas 24 horas para abandonar de vez aquela missão pastoral. Uma decisão com tudo de cruel, mas que conta com a cobertura do Código de Direito Canónico, inspirado, como se sabe, no do antigo império romano. Um Código que tem o terrível condão de converter os seres humanos, nascidos de mulher, que o reconhecem, em clérigos. Uma elite no topo – os bispos titulares de cada diocese e respectivos párocos, todos homens, e homens celibatários, nenhuma mulher – e milhões e milhões de outros em paraclérigos na base, os chamados leigos, aqui sim, mais mulheres do que homens. Uma enormidade absolutamente intolerável que entra terceiro milénio adiante, só porque sempre se apresenta como o que há de melhor à face a Terra, quando é o que há de pior.

A minha inesperada nomeação para pároco de Paredes de Viadores acontece semanas depois de me ver expulso de capelão militar, em consequência de um conluio entre o bispo castrense, D. António dos Reis Rodrigues e o Quartel General do Exército. Já a minha exoneração de pároco resulta de um decreto de exoneração que não me foi entregue, apenas lido presencialmente pelo Vigário da Vara da altura e que não consta no espólio da Cúria da diocese do Porto. Nesse espólio, apenas constará uma Carta que o bispo castrense me garante ter escrito e enviado ao administrador apostólico, na qual me classifica de “padre irrecuperável”. No ideológico entender dele, o pior que se pode dizer de um padre. No meu, de Presbítero-menino que tudo dá de graça, o que de melhor se pode dizer de alguém que nem sequer o Sistema eclesiástico consegue corromper, já que me mantenho fiel, vida fora, à minha matriz original de filho de Ti Maria do Grilo, jornaleira, padre pobre por opção e no celibato também por opção livre e alegre.

Uma Caminhada, realizada domingo 10 de Junho 2018, a primeira organizada na freguesia de Paredes de Viadores, hoje alargada a Manhuncelos, leva-me até lá com mais companheiras, companheiros da ACR FORMIGAS DE MACIEIRA-BARRACÃO DE CULTURA. São quase três horas, sob leve chuva, por caminhos e carreiros nunca andados nem por mim nem pela maior parte da população lá residente. Piso aquele chão num misto de emoção, alegria, júbilo, canto interior e, sobretudo, muita escuta. Os 14 meses que há 50 anos vivo lá, mais nas casas e nos campos então duramente trabalhados pelos caseiros da Fidalga residente na Casa de igreja, do que no templo e na residência paroquiais, acompanham-me nesta Caminhada sem qualquer solução de continuidade. Deste modo, aquele chão e o seu povo voltam a sentir o meu calor e a receber de forma mais palpável o meu Sopro de Presbítero-menino, agora, já com 81 anos de idade e alguns meses.

Após o almoço compartilhado ao modo de grande Comensalidade, num parque gerido pela Junta, é-me dada a palavra para apresentar o meu Livro 48, EVANGELHO NO PRETÓRIO. Emocionam-se, quando lhes digo que o meu primeiro Livro – EVANGELIZAR OS POBRES – publicado em 1969, sucessivas edições e hoje esgotadíssimo, é todo escrito lá durante aqueles 14 meses. Contém os textos de todas as homilias dominicais que lá escuto-escrevo-anuncio. A prova provada, por um lado, da minha séria dedicação-entrega presbiterial, e, por outro lado, do cinismo e da hipocrisia do Sistema eclesiástico católico romano e todos os outros, conluíados entre si, os maiores corruptos e corruptores dos seres humanos e dos povos que demencialmente lhes dizem ámen e os servem, em em vez de serem orgânicos com as populações condenadas à miséria-pobreza imposta.

P.S.

Para melhor poderem perceber os mecanismos que o sistema eclesiástico utiliza para tentar corromper, quase sempre com sucesso, os seres humanos, em especial aqueles que um dia ordena presbíteros, têm mesmo de ler o meu Livro aqui referido, EVANGELHO NO PRETÓRIO, Uma Espécie de Autobiografia com Humor e Amor, Seda Publicações 2018. Caso o não encontrem, poderei enviá-lo por correio postal. Só preciso de saber o endereço postal.

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