Nos primeiros dias deste mês os media traziam algumas notícias que rapidamente foram postas de lado, quero acreditar que apenas pelo eterno conflito entre tempo e pressa – ‘só temos pressa quando não temos tempo, mas não o temos por sermos só escravos dele’
O aforismo é antigo mas os media não o esquecem nunca, mormente quando reduzem o tamanho das notícias por nunca haver tempo para as ler, principalmente as que poderão afectar o modo como se olha o mundo fora dos esquemas que eles mesmos condicionam.
Reparem no tempo (tamanho) dado a um astro do espectáculo ou do desporto e comparem com o atribuído a um investigador, um filósofo ou um poeta pois, como salienta o escritor chileno Marcelo Lillo, ‘Se nos conformamos com a realidade, ninguém ou só muito poucos, terão a coragem de a citar com pêlos e sinais!’
Isto a propósito das tais notícias que os media abandonaram rapidamente, a saber:
a
Google deja a cientos de empresas entrar en Gmail y espiar correos personales
La multinacional permitió que empresas desarrolladoras de aplicaciones accedan a las cuentas de correo de sus usuarios y en algunos casos los permisos incluyen a los ingenieros de estas empresas, que tuvieron acceso a datos como contenido de los correos, los destinatarios y las horas de envío (Diario.es, 04.07)
b
Há um ano Google anunciou parar a análise de mails dos utilizadores para fins publicitários
Uma investigação do Wall Street Journal revela que o gigante da Internet continua a permitir que empresas externas leiam os mails dos utilizadores do Gmail – 1,4 mil milhões de pessoas e entidades em todo o mundo (Público, 05.07)
c
Facebook desbloquea por error a los contactos bloqueados de 800.000 usuarios
La plataforma permitió que estos vieran la información de las personas que les habían bloqueado y les enviaran mensajes (Diario.es, 04.07)
Não se continuou nem voltou a falar disto! Estou mesmo convencido que ninguém o quer fazer!
O professor Vladan Joler, da Share Foundation, investigador das ligações entre os gigantes digitais, mais a Amazon e o Facebook com os governos de todo o lado, para conseguir saber como eles se repartem poder e dinheiro e tentar assim travar as desigualdades que geram, duvida que algum político seja capaz de o conseguir, antes de ser comprado ou silenciado.
Respingo um pouco da entrevista que deu ao insuspeito ‘La Vanguardia’ de 04.07, sobre o facto de alguém não estar no Facebook:
‘¿Hoje posso viver sem Facebook?
Imagine que tem de ir aos Estados Unidos. Vai precisar de um visto, não é?
¿O que é que isso tem a ver com Facebook?
Muito, porque um dos preceitos que os funcionários da imigração dos EUA cumprem sistematicamente, é verificar os perfis no Facebook, a todos que solicitem um visto.
¿E se não está nas redes sociais?
Não passa de um tipo anómalo, portanto menos fiável. Não podem controlá-lo nem rastrear-lhe a vida. É uma aberração suspeita no sistema. E paga-o!
¿E se não vai aos EUA?
¿Não está a ver? É cada vez mais alto o preço que temos de pagar por não nos integrarmos na corrente que faz mais ricos e poderosos, os senhores que mandam nas plataformas digitais, a nova plutocracia. Se todos os seus amigos convidam para as suas festas pela rede, renunciará a ser convidado?
Se querem a minha presença, convidarão na mesma.
Mas não vai encontrar emprego se os empregadores – e isso é já um facto comprovado – não puderem comprovar os seus perfis digitais.
¿Portanto, a revolução digital, não é desejável, mas é já irrenunciável?
Deixar-se explorar é menos gravoso que fugir do tecnofeudalismo do novo capitalismo de controlo. As suas ligações com os estados para partilhar a informação dos big data e do dinheiro que se obtém explorando-os, são cada vez mais evidentes’
Agora, quando a inquietação e a perplexidade ameaçam transformar-se nas únicas companheiras da viagem por este mundo, recordo muitas vezes a sentença que guardei como uma verdade quase irrecusável, tanto por funcionar a contraciclo como pela sua tocante simplicidade.
Pertence ao professor e blogger José Ricardo Costa, no ‘Ponteiros Parados’ – ‘Homem de poucas certezas, hoje, ao entrar no elevador, consegui ter uma. Pior do que um mau livro, uma má canção, um mau filme ou uma má pintura, é um mau perfume’
Sem fazer apelo a uma qualquer tecnoconsciência!
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor