Maria Carolina Frederico Crispin, mulher algarvia, escolheu o nome Maria Veleda para ser conhecida . Nascida numa família culta, estudou em colégios e aos sete anos estreou-se no Teatro Lethes. Lia muito, sobretudo Almeida Garrett e Alexandre Herculano.
Aos quinze anos começou a trabalhar como professora do ensino livre, ganhando a sua autonomia económica. Foi na poesia que se estreou na escrita, em 1980, no “Distrito de Faro”.
Viveu com o poeta Cândido Guerreiro, com quem teve um filho. Para além da poesia, foi publicando contos e artigos sobre a educação de crianças, a causa feminista, o combate à superstição e fanatismo religioso. Realça-se a “Biblioteca Infantil – Contos Cor-de-Rosa” para crianças e “Emancipação Feminina”.
Em 1905 veio residir para Lisboa, tendo dado aulas no Centro Escolar Republicano Afonso Costa. Foi responsável pela secção “Missa democrática”, do jornal “A Vanguarda”, destinada a politizar as mulheres e onde defendia a participação destas na mudança das mentalidade e na construção de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna. Consciente da situação de desigualdade em que as mulheres viviam, defender a igualdade de direitos jurídicos, cívicos e políticos entre os sexos.
Convertida ao livre pensamento foi iniciada na Maçonaria, em 1907, onde militou com o nome simbólico de “Angústias”, na Loja Humanidade de Lisboa, onde teve como companheiras Ana de castro Osório, Adelaide Cabete, Carolina Beatriz Ângelo e Maria Clara Correia Alves.
Entendia que a educação devia ser centrada no desenvolvimento harmonioso da criança, valorizando o ensino teórico, mas também o prático, o exercício físico e o desporto, o contacto com a natureza e a formação ética e cívica. Para ela, o ensino deveria ser feito não a partir de compêndios, mas com um programa definido e orientado pelos ideais do racionalismo científico.
Discursou em Centros Republicanos, Associações Escolares e Operárias. Alguns destes discursos foram publicados em 1909 no livro “A Conquista” com prefácio de António José de Almeida. Defendeu a educação laica e integral, em que se aliassem a teoria e a prática, a liberdade, a criatividade, o espírito crítico e os valores éticos e cívicos, reclamando a inclusão das raparigas no sistema educativo em condições de igualdade. Do ponto de vista pedagógico, recorria a estratégias para tornar a aprendizagem mais atractiva, em que incluía representações teatrais, danças e cantares.
Em 1909, por sua iniciativa, a «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas» fundou a «Obra Maternal» para acolher e educar crianças abandonadas ou “em perigo moral”. Esta instituição manteve-se até 1916, devido à contribuição da sociedade civil e às receitas obtidas em saraus teatrais, cujas peças dramáticas e cómicas Maria Veleda também escrevia e levava à cena.
Este combate, feito na imprensa, fez com que fosse acusada de abuso de liberdade de imprensa, em 1909, tendo sido condenada a multa exorbitante, que foi paga através de recolhe colectiva. Para além disto, também sofreu constantes perseguições e ameaças de morte.
Em 1912, o governo nomeou-a Delegada de Vigilância da Tutoria Central da Infância de Lisboa, instituição destinada a recolher as crianças desamparadas, pedintes ou delinquentes, cargo que ocupou até 1941.
Criou cursos nocturnos no Centro Republicano Afonso Costa, onde era professora do ensino primário, e nos Centros Republicanos António José de Almeida e Boto Machado, ensinava as mulheres a ler e a escrever, numa perspectiva de educação cívica, preparando-as para o exercício de uma profissão e a participação na vida política.
Entre 1910 e 1915, como dirigente da «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas» e das revistas “A Mulher e a Criança” e “A Madrugada”, empenhou-se na luta pelo sufrágio feminino. Escrevia, discursava, fazia petições e chefiava delegações e representações aos órgãos de soberania. Combateu a prostituição, sobretudo, a de menores.
Maria Veleda depressa se desiludiu com a actuação dos governos republicanos. Estes, não cumpriam as promessas de conceder o voto às mulheres. Também no que se refere aos ideais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade e construção de uma sociedade mais justa e melhor, Maria Veleda considerava que não estavam a ser implementados. Assim, abandonou o activismo político e feminista em 1921.
Em 1925, aderiu ao espiritismo filosófico, científico e experimental, fundando o «Grupo Espiritualista Luz e Amor» e organizando o I Congresso Espírita Português e participando na criação da Federação Espírita Portuguesa.
Em 1950, publicou as suas «Memórias» no jornal “República”. Faleceu em 1955.