FRATERNIZAR – MAS ENTÃO ATÉ A SENHORA DE FÁTIMA TEM MEDO DA COVID-19?! – por MÁRIO DE OLIVEIRA

 

Azinheiras, ainda há muitas em Fátima e noutros pontos do país, como em 1917. Já não há, felizmente, tantas crianças aterrorizadas como aqueles dois irmãos, Jacinta, 7 anitos e Francisco, 8 anitos, mai-la prima deles, Lúcia, 10 anitos, rosto autoritário e mentirosa q.b. no dizer da própria mãe. E, é claro, sem crianças assim, também não há ‘aparições de nossa senhora’, como as de Fátima. Os donos das azinheiras podem, por isso, estar descansados que mais nenhuma nossa senhora vem do céu pousar nos ramos delas. De resto, e para azar dos clérigos, estes são agora tempos de potente luz eléctrica e canais tv, como a CMTV com os seus obsessivos e obscenos ‘Alertas’, o que jamais lhes permitirá amadorismos como o dos seus predecessores de Ourém, de vergonhosa memória. Com destaque para o cónego Formigão, o principal cérebro de toda aquela encenação, concebida com o propósito de restaurar a diocese de Leiria e acabar com a República laica, implantada sete anos antes, concretamente, em 5 de Outubro de 1910.

Em tempos de pandemia e de confinamento nas nossas casas, como os que estamos a viver nestes apocalípticos tempos, é por demais patente que até a senhora de Fátima tem medo da Covid-19 e não vem do céu pousar em ramos de azinheiras nem em grutas como a de Lourdes, em França. Pelo que os milhares de ‘peregrinos’ 2020 ficaram assim impossibilitados de correr para aquele enormíssimo espaço de horrores e de sofrimento a céu aberto. Vejam que é o próprio bispo-cardeal de Leiria-Fátima que lhes pede para não saírem de suas casas! O que os meus Livros FÁTIMA NUNCA MAIS, Campo das Letras 1999 e FÁTIMA $. A, Seda Publicações 2015, e muitos outros não têm conseguido, a Covid-19 está felizmente a conseguir. Todo eu canto-danço interiormente. É a segunda vez em mais de cem anos que não há ‘peregrinos’ em Fátima no 13 de Maio. A primeira é logo em 1917, quando o teatrinho do cónego Formigão é supostamente encenado num dos campos dos pais de Lúcia, apenas com as três crianças actores, ou só com duas, já que Francisco que nem sequer gosta de ir à escola, garante não ter dado por nada.

Só por este espantoso ‘milagre’, tudo eu perdoo à Covid-19. Esta pandemia está a causar muitas vítimas, muito sofrimento nos países do mundo. Mas nada comparado com os milhões e milhões de vítimas de Fátima e da sua senhora de madeira saída das mãos de um artesão-santeiro da Trofa. Por sinal, uma imagem sem nada de feminino. De branco vestida da cabeça à ponta dos pés, mãos postas como os clérigos sempre querem as pessoas nos seus templos e santuários, e com um terço pendente delas. Sem quaisquer vestígios de seios que amamentem e de ventre que conceba novas vidas humanas. E que com o passar dos anos, até já teve de ser levada a um hospital de restauro, não acontecesse vir a desfazer-se em plena procissão de velas, numa daquelas terríficas noites de 12 para 13 de Maio a Outubro, agora com direito a directos nas tvs.

Manda a verdade que se diga que a ‘senhora’ garante peremptoriamente na primeira ‘aparição’ que todos os dias 13 até Outubro viria pousar nos ramos daquela mesma azinheira. E falta à sua palavra, porque em Agosto, já com muitos ‘peregrinos’ do país presentes, não há ‘aparição’. Fica assim claro que, quando ela ‘dita’ o guião do teatrinho ao cónego Formigão não é capaz de prever que o governador do concelho pode estragar-lhe o ‘milagre’. E, republicano que é e já sem escamas nos olhos da sua mente, decide mesmo estragar. Em Agosto, 13, passa por Fátima, conversa com o pároco, pede que chame as três crianças à residência e, depois de as ouvir, leva as 3 no carro para a sua casa em Ourém, onde elas brincam com os filhos dele e lá dormem. Sem os três ‘actores’, não há ‘aparição’. Haviam de ver o pandemónio que foi, com os devotos possessos pelo fanatismo, um vírus bem pior do que o coronavírus. Até o pároco eles querem matar!…

Não é, porém, só deste pormenor que ‘a senhora da azinheira’ se esquece. Também se esquece de avisar que, pouco depois do teatrinho acabar, vem a pneumónica que, qual Covid-19, mata gente que se farta, inclusive, os dois irmãos actores do teatrinho. Uma crueldade sem nome, já que nem aos dois irmãos actores ela lhes vale. Francisco morre em 1919 e Jacinta em 1920. Esquece-se ainda que a Guerra Mundial então em curso, com milhares de soldados portugueses totalmente entregues à bicharada, só acabará com a assinatura do Armistício em 1920. Vai daí, o guião que ela ‘dita’ ao famigerado cónego Formigão, põe Lúcia a garantir a pés juntos no 13 de Outubro, ‘A Guerra acaba hoje’. Nem sonham a trabalheira que o cónego teve para se desfazer deste ‘Hoje’!…

Por isso escrevo-e-canto, sem que a mão e a voz me tremam, Mas ai de quem /crê nesta intriga /Jamais será /alguém na vida! E acrescento, Ai também da Igreja de Roma e das suas inúmeras dioceses e paróquias espalhadas pelo mundo, se, depois da pandemia Covid-19, voltam ao de sempre, desde Constantino, e ao seu Credo Niceia-Constantinopla. Melhor fora então que estes seus clérigos nunca tivessem nascido!

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