Eleições presidenciais em Novembro: aprofundamento da queda dos EUA ? Texto 3 – A Segunda Grande Depressão… Mas não é verdadeiramente isso. Por John Mauldin

 

Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

A Segunda Grande Depressão… Mas não é verdadeiramente isso

 Por John Mauldin

Publicado por    em 15/08/2020 (ver aqui)

Eleições presidenciais em Novembro 3 Mauldin A Segunda Grande Depressão Mas não é verdadeiramente isso 1

O Problema dos Oito Corpos

A que é que a recuperação se assemelha

Algumas das Consequências de uma Economia em Três Partes

“É uma recessão quando o seu vizinho perde o seu emprego;

é uma depressão quando perdemos o nosso”.

-Harry S. Truman, 33º Presidente dos EUA

Nas últimas semanas, numerosos comentadores começaram a sugerir que os EUA e o mundo estão a entrar numa depressão.

Para algumas áreas da economia, isso é claramente verdade. Mas nem em todas as áreas.

Hoje vamos explorar o que algumas mentes inteligentes estão a dizer sobre o atual ambiente económico. Terei também como objetivo ajudar-vos a navegar pela sua complexidade.

Eis uma coisa em que penso que todos podemos concordar…

Esta recessão/depressão é diferente de tudo o que já vivemos na história dos EUA.

Não consigo encontrar nada parecido na história mundial. Isto porque nunca vivemos um desastre económico – e essa é a frase correta – como o que estamos a testemunhar hoje.

Além disso, a recuperação – quando acontecer, e irá chegar – vai ser muito desigual.

  • Parte da economia estará no que só pode ser descrito como uma depressão durante bastante tempo.
  • Outra parte irá recuperar, embora um pouco lentamente, mas mais rapidamente do que na Grande Recessão [2008].
  • Outras partes da economia vão descolar como um foguete espacial.

Os meios de comunicação e os políticos tendem a falar de “economia” como um termo geral. Mas penso que esse será um nome errado. Quão rápida será a rapidez da recuperação, ou por quanto tempo se verá a depressão, depende muito de onde se está e em que parte da economia se está.

O meu amigo George Friedman de Geopolitical Futures sugere que a nossa procura de respostas começa em Setembro (sublinhado meu):

“Tenho defendido que, a menos que seja encontrada uma solução até Setembro, a probabilidade de a recessão se transformar numa depressão aumentaria. Uma recessão é uma parte normal da economia, um evento principalmente financeiro que impõe disciplina a uma economia sobreaquecida. Uma depressão, de um ponto de vista geopolítico, envolve a destruição física da economia, algo que faz fracassar os negócios, deslocaliza o trabalho e faz desaparecer o valor do capital. Uma recessão é o ciclo da economia. Uma depressão é uma quebra da economia.

“Escolhi Setembro porque dois trimestres de intensa contração económica é elucidativo. A definição dos economistas de recessão é dois trimestres sucessivos de crescimento negativo (também conhecido em inglês como declínio). Isto é geralmente um tempo suficiente para compreender o quão resistente é uma economia. Não por acaso, é também o ponto em que as economias começam a recuperar em ciclos normais. Em circunstâncias normais, as estruturas económicas básicas permanecem intactas durante as recessões, pelo que as medidas de estímulo financeiro podem reiniciar o sistema. “

Tenha-se em conta que houve cinco depressões na história dos EUA: 1807–1814; 1837–1844; 1873–1879; 1893–1898; 1929–1941. Penso que todas elas foram associadas a crises bancárias e a pânico financeiro.

Um pouco de história destina-se a compreender porque é que a situação atual é diferente de tudo o que temos visto…

As primeiras quatro “depressões” foram de facto situações de pânico bancário. Mas estavam também associadas ao ciclo agrícola.

Os agricultores pediam dinheiro emprestado na Primavera e pagavam-no de volta após a colheita de Outono. O dinheiro passava dos grandes bancos e dos centros financeiros nas grandes cidades, especialmente em Nova Iorque, para bancos mais pequenos no campo. E depois regressava aos bancos de onde tinha saído.

(Pense aqui no velho pedaço de sabedoria do mercado: “Vender em Maio e ir embora”. Os grandes bancos e os centros do dinheiro teriam menos dinheiro para emprestar para especulação durante o Verão).

Se está tão fascinado por este tópico como eu, Art Cashin incentivou-me ainda mais com um livro de Walter Lord chamado “The Good Years.”. Verdadeiramente os melhores 99 cêntimos que se podem gastar. Clique no capítulo “1907” e leia como J.P. Morgan essencialmente forçou os banqueiros e financeiros a salvar o país.

Na verdade, foi um conto assustador. E foi o que levou governos e bancos a criar a Reserva Federal em 1913, a terem assim um emprestador de último recurso.

As coisas mudaram mesmo. Pouco tempo depois, os EUA tornaram-se menos dominados pelo ciclo agrícola e mais dominados pelo ciclo da indústria.

Como diz o meu amigo Dr. Woody Brock, quando Henry Ford despedia 10.000 trabalhadores, isso também significava que trabalhadores siderúrgicos, fabricantes de pneus em Akron, e assim por diante, também foram despedidos.

Isso arrasou toda a economia. E tivemos aquilo a que chamámos a Grande Depressão. (Eu sei que isto é uma enorme simplificação excessiva: Herbert Hoover permitiu a Smoot-Hawley em 1930. Ele também aumentou os impostos quando se estava já numa depressão/recessão. A política monetária não ajudou).

Após a Segunda Guerra Mundial, as “recessões” tornaram-se mais frequentes. (Nota: Não encontrará o termo “recessão” na literatura histórica anterior à Segunda Guerra Mundial).

Até ao ano 2000, as recessões foram associadas ao ciclo industrial. Mas estas tornaram-se mais suaves ao longo do tempo. Isto porque a indústria transformadora teve um impacto menor na economia.

Em 2020, 85% da economia dos EUA situava-se na economia de serviços. A Grande Recessão foi causada por excesso financeiro, mas superámo-la.

E depois chegamos à crise atual. E aconteceu algo que nunca tinha acontecido antes…

Encerrámos literalmente 30% a 40% da economia de serviços. Acabámos com ela. Restaurantes, hotéis, ginásios, companhias aéreas, turismo, todo o tipo de serviços pessoais. A lista pode estender-se.

A Independent Restaurant Coalition realizou uma sondagem para a Compass Lexecon, uma empresa de consultoria sediada em Chicago. O relatório prevê um futuro sombrio para cerca de 500.000 (de 660.000) restaurantes dos centros citadinos, a menos que seja estabelecido um programa de assistência financeira mais robusto.

Isso significa que 85% dos estabelecimentos alimentares independentes, potencialmente, desaparecem para sempre.

Um membro da Associação Nacional de Restaurantes disse-me que, na situação atual, cerca de 30% a 40% dos restaurantes irão provavelmente fechar até ao final do ano se não houver mais ajuda.

Yelp é uma fonte surpreendentemente boa de informação sobre encerramentos de empresas. Cerca de 55% das empresas que estão citadas como fechadas no Yelp foram definitivamente encerradas.

Eleições presidenciais em Novembro 3 Mauldin A Segunda Grande Depressão Mas não é verdadeiramente isso 2
Crédito de imagem: MarketWatch

Não se trata apenas de restaurantes…

Metade dos quartos de hotel nos EUA estão vazios desde há seis dias. Precisam de uma ocupação de pelo menos 80% para se manterem equilibrados. Espera-se que cerca de 70% dos hotéis na Índia fechem.

Hotéis que dependem do turismo? Estão tramados. Companhias aéreas? A lista continua e continua.

E não são só os EUA…

Outros países em todo o mundo estão a ter os seus próprios problemas. Liz Ann Sonders dá-nos este gráfico:

Eleições presidenciais em Novembro 3 Mauldin A Segunda Grande Depressão Mas não é verdadeiramente isso 3

(…)

Os mercados emergentes e os mercados fronteiriços estão a ter as suas próprias crises ainda piores trazidas pelo COVID-19.


O Problema dos Oitos Corpos

Se tiver três grandes objetos com impacto gravitacional uns sobre os outros, pode determinar onde estiveram no passado. No entanto, não se pode prever onde estarão no futuro. Pelo menos, não sem grande dificuldade.

Em física, a isto chama-se o problema dos três corpos.

Em economia, estamos muito para além do problema dos três corpos. Penso que se trata mais de um problema de oito corpos. Veja se está de acordo:

Corpo Nº 1: A economia de serviços implodiu. Não sabemos quando é que vai voltar. Não vou discutir se devemos fechar ou abrir. Estou simplesmente a falar sobre o que é. E parece que grande parte da economia vai ficar confinada durante algum tempo. Simplesmente não se sabe quando é que essa parte da economia vai normalizar.

Corpo Nº 2: Temos visto a maior intervenção do banco central, não só nos EUA mas em muitas partes do mundo, jamais vista na história. É evidente que isso está a manter os mercados em alta. Além disso, os governos estão a fornecer estímulos fiscais de uma forma sem precedentes. Na essência, o governo pediu dinheiro emprestado para dar às pessoas o dinheiro que elas teriam ganho nos seus empregos. Curiosamente, nem todo o dinheiro foi gasto. Temos visto um montante recorde de rendimento disponível ser acrescentado à poupança.

O governo dos EUA está numa forte luta sobre a próxima ronda de estímulos. Não que o objetivo deste texto seja o de argumentar o que é o correto. Algum montante será provavelmente estabelecido. O seu palpite é tão bom como o meu. Mas será que podemos manter isso em 2021? Por quanto tempo? Trata-se de um grande corpo gravitacional económico, e não fazemos ideia de como será este ano, quanto mais no próximo ano e em 2022.

Corpo Nº 3: A política da Reserva Federal e, em certa medida, a política governamental tem curto-circuitado tanto o ciclo de destruição criativa de Schumpeter como o risco moral. Não temos literalmente ideia de como isso vai ter impacto no futuro, mas estas são grandes questões. As empresas com os títulos de dívida de mais baixa cotação estão a refinanciar a sua dívida a taxas mais baixas. Estamos a manter as empresas zombies a flutuar. Será que cada empresa que acede ao mercado é uma empresa zombie? Não, claro que não. Mas muitas são.

Corpo Nº 4: O comércio global está a começar a implodir. Gostando ou não, vivemos verdadeiramente numa economia global. Esta é uma depressão global e afeta toda a gente. Há 20 anos atrás, escrevia eu que a maior ameaça à prosperidade no futuro seria o protecionismo e as tarifas. Deixei claro que a China não é um bom ator, e que precisamos de rever as nossas políticas e a nossa confiança nelas. Mas as tarifas são apenas uma má ideia, quer se trate da China, da Europa ou de qualquer país. Podemos dizer Smoot-Hawley [lei protecionista de tarifas de 1930]?

Corpo Nº 5: Em média, seis empresas com ativos superiores a 50 milhões de dólares declararam falência todas as semanas desde Abril. Isto vai aumentar e tornar-se um tsunami. As pequenas empresas locais nem sequer se dão ao trabalho de apresentar a sua declaração de falência porque é demasiado caro. Cada uma delas representa empregos.

Este é o mais difícil…

Corpo Nº 6: A classe trabalhadora será a última a ver a recuperação. A maioria dos empregos que estão a ser perdidos são os dos menos afortunados na nossa sociedade. Eles não podem trabalhar a partir de casa. Aqueles que têm filhos têm de descobrir como cuidar deles no caso das escolas não abrirem… ou no caso de não os quererem mandar para a escola. O seguro de desemprego não cobre as contas quando o dinheiro federal se esgotar.

Isto representa dezenas de milhões de trabalhadores. O desemprego não vai recuperar milagrosamente no primeiro trimestre do próximo ano. Vai ser uma subida longa e lenta.

Agora, para algumas boas notícias…

Corpo Nº 7: Os empresários reemergirão, e os novos aproveitarão este momento para brilhar. Todos aqueles negócios que vão à falência ou encerram a atividade? São geridas por empresários que têm o bichinho da empresa. Faz parte do seu ADN.

Estava a falar com um empresário de restauração de Dallas que está “em baixo” com três restaurantes. Ele está a esticar o seu dinheiro e a esperar por mais uma ronda de apoios estatais. Ele vai respirar mais facilmente quando conseguir ter os seus restaurantes normalmente em expansão até 50% de ocupação.

Deprimido? De forma alguma. Ele acredita que tudo isto acabará por se normalizar, e terá a maior oportunidade que alguma vez teve. Ele pode ver 10 restaurantes no seu futuro. Este é o tipo de visão que acelera as recuperações.

Ele e centenas de milhares de outros empresários de todo o país e do mundo procuram oportunidades. É exatamente o que eles fazem. Eles não podem evitá-lo.

Levará tempo, e eles terão de descobrir de onde virá o capital. Mas estou convencido de que serão os empresários que nos livrarão desta situação, não os governos.

Corpo Nº 8: Estamos no meio da Maior Transformação da História. Elon Musk [1] acaba de lançar e aterrar um enorme foguetão como teste. Este é apenas um exemplo muito visível das dezenas de milhares de novas revoluções tecnológicas que estão a acontecer à nossa volta.

Estas tecnologias disruptivas irão realmente mudar o mundo. Não consigo sequer começar a descrever o que está a acontecer no espaço da biotecnologia e do envelhecimento. Inteligência artificial, robótica, carros auto-conduzidos, avanços incríveis na agricultura, transporte marítimo, computadores quânticos… o que seja. A lista é demasiado longa. E está a crescer.

Estamos prestes a assistir a potenciais avanços históricos…  em tempo recorde.


A que é a Recuperação se assemelha

Penso francamente que é enganador desenhar um gráfico e dizer que a recuperação económica vai ser assim ou assado.

Falar de uma recuperação em V ou em U é simplesmente uma tolice. Cada um dos “corpos” que mencionei acima terá um impacto significativo na recuperação. Não sabemos como eles irão interagir.

O meu palpite é que vamos ver várias economias diferentes. Heather Long (uma colega do Camp Kotok) ilustra isto para o The Washington Post.

Esta dicotomia é evidente em muitas facetas da economia, especialmente no emprego. Os postos de trabalho estão totalmente de volta para os trabalhadores com salários mais elevados, mas menos de metade dos postos de trabalho perdidos nesta Primavera regressaram para aqueles que ganham menos de 20 dólares por hora, de acordo com uma nova análise de dados laborais feita por John Friedman, professor de economia na Universidade de Brown e co-director da Opportunity Insights.

Se tivermos de escolher uma letra sobre a recuperação económica, talvez deva ser um “K”. Uns sobem e outros descem.

Tenho mais dois gráficos para apresentar hoje. O primeiro é o que eu chamo Economia Parte 1. Este gráfico remonta a 2000, e as linhas vermelhas mostram aproximadamente a trajetória da recuperação. A base de dados da Reserva Federal de St. Louis não atualizou o segundo trimestre, mas eu tentei representá-la.

Para uma grande parte da economia – talvez a maior parte – a recuperação vai ser mais lenta do que a de A Grande Recessão. E vai ser áspera. Note-se que tenho a recuperação com um declive mais baixo.

Isto deve-se em parte à investigação da Dra. Lacy Hunt e outros que demonstram que o crescimento é mais lento nas economias de alto endividamento. Apenas um facto.

Eleições presidenciais em Novembro 3 Mauldin A Segunda Grande Depressão Mas não é verdadeiramente isso 4

Note-se que recuperamos; apenas se leva mais tempo para esta parte da economia.

Depois chegamos à Parte 2 da Economia. Uma recuperação mais rápida e a inclinação da recuperação é mais elevada. E isto é mais o que eu chamo a Economia aos tropeções.

Continua a não se parecer com as recuperações do passado, mas perfeitamente aceitável dados os problemas presentes.

Eleições presidenciais em Novembro 3 Mauldin A Segunda Grande Depressão Mas não é verdadeiramente isso 5

Neste segundo gráfico, quero que olhem para a linha amarela a que chamo os disruptores. Estas são as empresas que estão verdadeiramente a mudar o mundo e o seu crescimento é, bem, em flecha.

Penso que por esta altura a maioria dos investidores já conhecem bem as ações das FAANG ou FAAMG, ou qualquer que seja a sigla que utilizemos. Não os estou a incluir na minha versão experimental de disruptores. Quero dizer, eles estão, mas já existem há algum tempo.

Em vez disso, estou a falar das novas empresas que não as substituirão, mas que se juntarão a elas no panteão. (Embora algumas delas possam ser substituídas. Não me perguntem quais).


Algumas das Consequências de uma Economia em Três Partes

Quer seja em forma de K ou de alguma outra forma, há três tomadas de posição económicas:

1. Isto vai mudar a nossa maneira de viver. Já assistimos a um aumento da poupança, não muito diferente dos nossos pais e avós durante a Grande Depressão. Vai mudar os hábitos de gastos e os de poupança. Vai forçar as empresas e os empresários a ajustarem-se de formas que nunca sonharam que precisariam de o fazer.

Penso que é justo dizer que muitos de nós já olharam para as nossas vidas e decidiram que não precisamos de tantas “coisas” como antes. Não vamos caçar em cavernas, mas podemos empacotar tudo isto com menos parafernália.

Cada uma dessas escolhas representa uma decisão de compra que tem impacto sobre algum empresário que forneceu o produto.

Esta crise é simplesmente a maior destruição da procura das nossas vidas. Voltará, mas não voltará a ser como era em 2019. As nossas futuras decisões económicas de compra vão ser diferentes.

Tudo, quero dizer tudo, vai ser revisto quanto ao seu preço e pensado. Não se pode tomar nada como garantido. Os números e as medidas de inflação vão ser distorcidos durante pelo menos alguns anos. Estamos a utilizar ferramentas antigas para medir uma nova economia. Vamos ter de desenvolver novos modelos para analisar adequadamente o mundo em que atualmente vivemos.

Como é que valorizamos o preço de uma casa ou apartamento? Penso que não é irrazoável esperar 10% de desemprego, ou algo próximo dele, em meados de 2021. Isso vai afetar os preços para cima e para baixo na cadeia de valores da habitação.

Como é que se valoriza o espaço comercial e de escritório? Se os seus inquilinos se forem embora, paga a hipoteca? Os hotéis vão voltar, eventualmente, mas quem os vai ter? Os antigos proprietários de património privado ou os novos? A que preço? Já sabíamos que tínhamos demasiadas lojas de venda a retalho. Qual é o número correto no futuro? Como é que os centros comerciais e o espaço comercial serão reestruturados?

Centenas, se não milhares de aviões estão pousados no asfalto. Quem os vai adquirir?

Há milhares de cenários que se desenrolam em milhares de indústrias em todo o mundo. O que elas têm em comum é que…

Tudo vai ser reavaliado quanto ao seu preço.

Isso deixa-me muito desconfortável.

2. A desigualdade não vai melhorar. Pensamento experimental: é mais do que provável que vejamos alguma forma de rendimento básico universal no futuro. Não resolverá as desigualdades nem de rendimento nem de riqueza, mas ainda assim será experimentada.

Os indivíduos que fizeram parte da devastada economia de serviços continuarão a lutar por empregos, e já se encontram no grupo dos rendimentos mais baixos. A segunda parte da economia estará a crescer e a afastar-se dessa primeira parte.

E isto nem sequer começa a descrever o que acontece aos disruptores.

Só para que conste, nesta carta e em páginas de opinião em várias publicações, delineei uma metodologia para aumentar os impostos, melhorando ao mesmo tempo a capacidade de criar novos negócios e de ajudar os que se encontram nos escalões mais baixos de rendimento.

Não sou, a priori, contra receitas totais mais elevadas para o governo. O que está em causa é a forma como a cobramos. A justiça social como nosso mecanismo motor da política orçamental não vai melhorar a cortesia no nosso país.

3. Temos dois grandes ciclos que entram em jogo ao mesmo tempo nesta década. Um sobre o qual tenho escrito em numerosas ocasiões: O Fim da Quarta Viragem. É sempre uma época de grande agitação social, e estamos apenas no início do fim. Penso que o período entre meados desta década e o fim seja muito mais perturbador do que o que estamos a atravessar hoje.

Em segundo lugar, o meu amigo George Friedman escreveu um livro chamado “The Storm Before the Calm: America’s Discord, the Coming Crisis of the 2020s, and the Triumph Beyond.”

Nele, Friedman discute dois ciclos separados na história americana, um ciclo de 80 anos e um ciclo de 50 anos. Ambos são disruptivos. Pela primeira vez, coincidem na parte final desta década.

Prevê que a década de 2020 trará uma dramática convulsão e remodelação do governo, da política externa, da economia e da cultura.

Uma economia em duas partes/três partes, em que os resultados para partes significativas da população são dramaticamente diferentes, é uma receita para os tipos de crises que ambos os seus livros esboçam.

E só para que eu possa acrescentar, tal como estamos no meio das suas crises, podemos experimentar A Grande Reinicialização. É uma surpresa se teremos uma dívida nacional de 30 milhões de milhões de dólares até ao Dia de Ano Novo. Estaremos em 40 milhões de milhões de dólares até 2025. Adicione-se a enorme dívida empresarial e múltiplas crises de pensões que irão confundir as nossas mentes.

Toda a dívida DEVE ser “racionalizada”. Não temos a menor ideia de como, porque não sabemos quem o irá fazer ou como será a crise.

Ao mesmo tempo, as tecnologias disruptivas estão a mudar os próprios fundamentos da nossa sociedade e do nosso trabalho.

Várias pessoas irão ler este texto e terão reações diferentes.

Espero que a maioria de vós fique com a ideia de que querem descobrir quem serão os disruptores e como é cada um de nós pode participar, em vez de querermos afundá-los.

Sou um crente na sociedade empresarial de mercado livre, e acredito que é isso que nos levará, em última análise, àquele período a que George Friedman chama “A Calma”, após a convulsão dos anos 20.

Estou entusiasmado com o futuro. Penso realmente que estamos no limiar da inversão do envelhecimento nas nossas vidas, se é que não é mesmo nesta década. E isso é apenas uma de muitas outras coisas maravilhosas.

Como diria o meu pai, não deixem que os bastardos – a crise à vossa volta – vos deitem abaixo.

Procure a oportunidade. Há algo, ainda que impreciso ou improvável, que vale a pena, algures por aí.

(…)

____________________

O autor: John Mauldin, reputado especialista financeiro, com mais de 30 anos de experiência em informação sobre risco financeiro. Editor da e-newsletter Thoughts from the Frontline, um dos primeiros boletins informativos semanais proporcionando aos investidores informação e orientação livre e imparcial. É presidente da Millennium Wave Advisors, empresa de consultoria de investimentos. É também presidente de Mauldin Economics. Autor de Bull’s Eye Investing: Targeting Real Returns in a Smoke and Mirrors Market, Endgame: The End of the Debt Supercycle and How It Changes Everything, Code Red: How to Protect Your Savings from the Coming Crisis, A Great Leap Forward?: Making Sense of China’s Cooling Credit Boom, Technological Transformation, High Stakes Rebalancing, Geopolitical Rise, & Reserve Currency Dream, Just One Thing: Twelve of the World’s Best Investors Reveal the One Strategy You Can’t Overlook e The Little Book of Bull’s Eye Investing: Finding Value, Generating Absolute Returns and Controlling Risk in Turbulent Markets.

___________________

Nota

[1] N.E. Elon Reeve Musk, FRS (Pretória, 28 de junho de 1971) é um empreendedor, filantropo e visionário sul-africano-canadense-americano. Ele é o fundador, CEO e CTO da SpaceX; CEO da Tesla Motors; vice-presidente da OpenAI; fundador e CEO da Neuralink; e co-fundador e presidente da SolarCity. Até agosto de 2020 a fortuna de Musk é estimada em 84,8 bilhões de dólares, o que o posiciona como a 4.ª pessoa mais rica do mundo segundo a Forbes. Musk não só já demonstrou publicamente preocupações com a extinção da humanidade, como também propôs soluções, das quais algumas são o objetivo principal das suas empresas e já estão sendo feitas na prática. Entre elas, estão a redução do aquecimento global, através do uso de energias renováveis, um projeto multiplanetário, mais especificamente a colonização de Marte, e o desenvolvimento seguro da inteligência artificial. Em janeiro de 2011, uma das suas empresas, a SpaceX, tornou-se a primeira empresa no mundo a vender um voo comercial à Lua. A missão, marcada para 2013, foi contratada pela empresa Astrobotic Technology, tendo como objectivo colocar um pequeno jipe na superfície lunar, o que não aconteceu. Em 2012, encerrou o projeto do Tesla Roadster, o primeiro modelo da sua autoria, um carro totalmente elétrico que custava cerca de 92 mil dólares. Atualmente, a Tesla já lançou mais três modelos: S, X e o Modelo 3, este último com a responsabilidade de trazer os carros elétricos para as massas, partindo de um custo inicial de 35 mil dólares. (ver Wikipedia aqui)

Leave a Reply