CARTA DE BRAGA – “de jovens e tweets” por António Oliveira

O próximo e grande salto evolutivo da humanidade será a descoberta de que cooperar é muito melhor que competir’.

Gostei da frase, apresentei-a ao dr. Google e só assim soube que o autor é um italiano místico e espiritualista, o filósofo Pietro Ubaldi.

Não sei, pelo andar desta carruagem planetária, se tal frase não passará de um ideal, frente à colossal engrenagem montada pelos donos das finanças, com a colaboração ‘desinteressada’ de todos nós, mais preocupados com likes e ninharias até 140 caracteres. 

Mas talvez a resposta esteja também nos mais novos, escreveu Viriato Soromenho Marques no DN no passado 12 de Dezembro, ‘Seguindo o exemplo de civismo precoce de Greta Thunberg, seis crianças e jovens portugueses ousaram (com o apoio jurídico de uma ONG para servir causas de interesse público) submeter, junto do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, uma acção contra 33 dos Estados signatários da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, motivada pela inacção desses países perante a emergência climática, colocar em causa, agora e mais ainda no futuro, o seu direito à vida (Artigo 2,º da Convenção)’.

Aliás, no mesmo dia, mas num jornal daqui ao lado, ‘Num ano apenas, a selva amazónica perdeu uma superfície equivalente a um milhão e meio de campos de futebol. Entre Agosto de 2019 e Julho de 2020, perderam-se 626 milhões de árvores na Amazónia brasileira, o número mais alto da década’.

E num blog cá do Eucaliptal, ‘Der Terrorist‘, mas do dia 20, aparece um post em inglês que não quis traduzir, ‘The Coca-Cola Company, PepsiCo and Nestlé, have been ranked as the world’s top plastic polluters, for the 3rd consecutive year, according to the report branded vol III’.

Até se podem evocar os flashes noticiosos dos anos lúgubres da ditadura, sempre com o título ‘Assim vai o mundo’, difundidos nos intervalos dos cinemas, só que ali, nos tais flashes, as notícias eram só a dizer bem das diferentes formas do patriarcado social, religioso e político do país.

Não sei se a iniciativa dos jovens portugueses, virá a ter algum seguimento nas tv’s e nos ‘manhas’ de todas as manhãs, porque os patriarcas continuam por aí, mas não podemos esquecer-nos de Prometeu, o titã dos antigos gregos que roubou o fogo aos deuses (o fogo divino da tecnologia, para o entregar aos simples mortais).

A questão é saber se esta ‘prenda titânica’ que nos arrastou para a sobreexploração da natureza, não se virará contra nós, a ver por esta pandemia, pelos megaincêndios e pela degradação de um clima que creio já não ter ‘volta atrás’.

Talvez não seja mau acrescentar uma frase de Juan Carlos Jimenéz, professor da Universidade Europeia, ‘O humano desejo de nos acercarmos às prorrogativas divinas que nos eram negadas no estado da natureza – o saber científico, a técnica do fogo, a incorporação da linguagem e a invenção da escrita – fica marcado pelos momentos fundacionais do ingresso na cultura, que implicam a perda imediata da harmonia e do equilíbrio de que teremos feito parte alguma vez’.

E nesta quase indefinição estamos, pois ‘Da mesma maneira que Prometeu foi condenado por roubar o fogo dos deuses para o dar aos mortais, a soberba científica volta-se contra a espécie que a elevou e a natureza castiga-a, arrebatando-lhe o dom da linguagem’ escreveu o professor e filósofo José Maria Lorente.

Talvez por isso, devemos agradecer a Prometeu, mas somos obrigados a pensar bem quando se vê o mundo dependente de idiotas, likes e tweets, em que escrever com um máximo de 140 caracteres já é ‘muito longo’!

Bom Ano!

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

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