Crise Financeira no Horizonte. Parte II – Sobre a crise atual do capitalismo, sobre a crise financeira violenta que nos espera, à espera da última dança: 4. Toda a gente deveria ser rica. Por John J. Raskob

Logo tipo de WallStreetBets, um sítio subreddit, área de interesse criada pelos utilizadores onde são organizadas discussões na Reddit, um site deTamb´rrm  agregação de notícias sociais, classificação de conteúdos web e de discussão.

Parte II – Sobre a crise atual do capitalismo, sobre a crise financeira violenta que nos espera, à espera da última dança

Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

_______________

Nota de editor

Este texto de J. Raskob merece ser lido com a devida distância, pois meses depois, em Outubro de 1929, ocorreu o grande desastre da bolsa de valores de 1929, quando os preços das acções na Bolsa de Nova Iorque entraram em colapso. Foi considerado o desastre mais devastador da história dos Estados Unidos, até ao recente colapso de 2008, tendo dado início à Grande Depressão.

Como diz Júlio Mota no texto introdutório da presente série (ver aqui) a propósito dos cálculos feitos por J. Raskob: “O ovo de Colombo para se ter uma vida de nababo. Naquele tempo 400 dólares por mês eram uma pequena fortuna. Dois meses depois deste texto ser publicado a Bolsa caía com um enorme estrondo, tão grande que ecoou por todo o mundo. E os nossos operários com esta capitalização ficaram sem nada. Mas poderiam eles receber alguma coisa de jeito? Não, não podiam. Nas contas deste alto quadro do Partido democrata há uma PEQUENA vigarice. Como é que aplicando 15 dólares por mês se obtém, capitalizando os juros, 80.000 dólares, os tais 80.000 que à taxa de 6% nos dão de rendimento 4.800 dólares ao ano, ou seja, 400 dólares por mês? Seria necessário que a taxa dos retornos sobre estas poupanças mensais fosse de 26%! Delirante, é o mínimo que se pode dizer. Curiosamente o retorno real para o S&P 500 durante os 20 anos que começaram em Agosto de 1929 foi de 2% por ano, permitindo um estilo de vida um pouco menos luxuoso de 18 dólares por mês!

Raskob ideou e organizou a tomada de posição da DuPont de 43% na GM. Em 1957 a DuPont foi obrigada a vender a participação na GM, então de 23%, por decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos (que provocou o maior furor na comunidade empresarial) por infringir as disposições anti-fusão da secção 7 da Lei Clayton. De notar que a Lei Clayton foi aprovada em 1914! O que mereceu o seguinte comentário dos opositores da decisão: “40 anos após a promulgação da Lei Clayton, torna-se agora evidente pela primeira vez que a secção 7 tem sido sempre um gigante adormecido”. (vd. aqui)

FT

___________________

 

 

4. Toda a gente deveria ser rica

 

 Por John J. Raskob

Everybody Ought to Be Rich (Agosto de 1929)

Fonte: From Samuel Crowther, “Everybody Ought to Be Rich: An Interview with John J. Raskob,” Ladies’ Home Journal (August 1929). Copyright 1929, Meredith Corporation. All rights reserved. Used with permission of Ladies’ Home Journal (ver aqui).

 

Ser rico é, evidentemente, um estatuto comparativo. Um homem com um milhão de dólares costumava ser considerado rico, mas tantas pessoas têm pelo menos assim tanto nestes dias, ou estão a ganhar rendimentos superiores à rentabilidade normal de um milhão de dólares, que um milionário não suscita qualquer comentário.

Fixar uma linha para definir a riqueza é um desempenho inútil. Digamos antes que um homem é rico quando tem um rendimento do capital investido que é suficiente para o sustentar e à sua família de uma forma decente e confortável para dar tanto apoio, digamos, como alguma vez foi dado pelos seus rendimentos. Essa quantidade de prosperidade deveria ser alcançável por qualquer pessoa. Uma parte maior virá para aqueles que têm maior capacidade….

É bem verdade que a riqueza não está distribuída de forma tão uniforme como deveria e como pode ser distribuída. E parte da razão para a distribuição desigual é a falta de investimento sistemático e também a falta de investimento mesmo moderadamente sensato.

Uma classe de investidores poupa dinheiro e coloca-o em caixas económicas ou noutros meios que pagam apenas um juro fixo. Tais fundos são valiosos, mas não nos levam à riqueza. Uma segunda classe tenta enriquecer de uma só vez, e compra qualquer título selvagem que venha junto com a promessa de rendimentos imensos. Uma terceira classe defende que o retorno dos juros não é suficiente para justificar poupanças, mas ao mesmo tempo tem demasiado juízo para se pôr a comprar ações fraudulentas – e por isso não poupa absolutamente nada. No entanto, a riqueza tem estado sempre aqui para ser pedida.

As ações comuns deste país aumentaram enormemente de valor nos últimos dez anos, porque o negócio do país aumentou. Dez mil dólares investidos há dez anos atrás nas ações normais da General Motors valeriam agora mais de um milhão e meio de dólares. E a General Motors é apenas uma das muitas empresas industriais de primeira classe.

Pode dizer-se que este é um aumento fenomenal e que as condições vão ser diferentes nos próximos dez anos. Essa profecia pode ser verdadeira, mas não se baseia na experiência. Na minha opinião, a riqueza do país está destinada a aumentar a um ritmo muito rápido. A rapidez do ritmo será determinada pelo aumento do consumo, e sob planos de investimento sábios o consumo não parará de aumentar.

 

AINDA MAL COMEÇÁMOS

Agora qualquer pessoa pode lamentar não ter tido dez mil dólares há dez anos e não os ter colocado na General Motors ou noutra boa companhia – e suspirar por uma oportunidade perdida. Quem acreditar firmemente que as oportunidades estão todas fechadas e que a partir de agora o país vai piorar em vez de melhorar, é bem-vindo a dar a sua opinião – e a qualquer incremento que ela possa trazer. Penso que ainda mal começámos, e há muitos anos que penso assim.

Em conjunto com outros, tenho estado interessado em criar e dirigir pelo menos uma dúzia de trusts para investimento em títulos de capital. Este plano de investimentos em ações não é, para mim, uma mera teoria. O primeiro destes trusts foi iniciado em 1907 e os outros nos anos imediatamente a seguir. Sob todos estes, o plano previa a poupança de quinze dólares por mês apenas para investimento em títulos de capital. Não havia ações compradas com efeito de margem, nem dinheiro emprestado, nem quaisquer ações compradas para uma rápida rotação ou revenda. Todas as ações, com poucas exceções, foram compradas e mantidas como investimentos permanentes. Os quinze dólares eram poupados todos os meses e os dividendos das ações compradas eram mantidos no trust e reinvestidos. Três destes trusts têm agora vinte anos de existência. Quinze dólares por mês equivalem a cento e oitenta dólares por ano. Em vinte anos, portanto, a poupança total ascendeu a três mil e seiscentos dólares. Cada um destes três trusts vale agora bem mais de oitenta mil dólares. Investidos a 6% de juros, estes oitenta mil dólares dariam ao beneficiário do trust um rendimento anual de quatrocentos dólares por mês, o que normalmente representaria mais do que o poder de ganho do beneficiário, pois se ele tivesse podido ganhar até quatrocentos dólares por mês, poderia ter poupado mais de quinze dólares.

Suponha-se que um homem se casa aos vinte e três anos e começa uma poupança regular de quinze dólares por mês – e quase qualquer pessoa empregada pode fazer isso se tentar. Se ele investir em boas ações comuns e permitir que os dividendos e direitos se acumulem, terá no final de vinte anos pelo menos oitenta mil dólares e um rendimento de investimentos de cerca de quatrocentos dólares por mês. Ele será rico. E porque qualquer pessoa pode fazer isso, estou firme na minha convicção de que qualquer pessoa não só pode ser rica como deve ser rica.

Os obstáculos para ser rico são dois: O problema de poupar, e o problema de encontrar um meio para investir.

Se o Tom é conhecido por ter duzentos dólares no banco de poupanças, então toda a gente anda à procura desse dinheiro para algum fim absolutamente necessário. É mais do que provável que a irmã da sua mulher acabe por encontrar a emergência para lhe pedir esse dinheiro. Mas se ele resistir a todos os ataques, de que lhe servirá o dinheiro? O juro que recebe é tão pequeno que não tem qualquer incentivo para poupar, e uma vez que o conjunto está dependente da sua decisão, só pode depender da sua própria vontade de poupar. Para poupar, de qualquer modo, é necessária uma vontade mais forte do que a normal.

Se ele pensa em investir em algumas ações, não tem a quem recorrer para obter conselhos. Ele não é suficientemente importante para receber muita atenção do seu banqueiro, e não tem dinheiro suficiente para ir a um corretor – ou pelo menos pensa que não tem.

Suponha que ele tem mil dólares; o banco só pode aconselhá-lo a comprar uma obrigação, pois o funcionário não correrá o risco de lhe aconselhar uma ação e provavelmente de qualquer forma não tem experiência para dar um tal conselho. Tom só pode obter uma atenção realmente adequada de alguém que tenha um título sem valor para vender, pois então todo o dinheiro de Tom será lucro.

O plano que tenho em mente há vários anos resulta do sucesso dos planos que temos seguido para os executivos da General Motors e das empresas Du Pont. Em 1923, a fim de dar aos executivos da General Motors um maior interesse no seu trabalho, organizámos a Managers Securities Company, composta por oitenta executivos desde altos quadros até quadros mais jovens. Esta empresa comprou ações ordinárias da General Motors ao então valor de mercado de trinta e três milhões de dólares. Os executivos pagaram cinco milhões de dólares em dinheiro e pediram emprestados vinte e oito milhões. Os acionistas da Managers Securities Company não são acionistas da General Motors. São acionistas de uma empresa que possui acções da General Motors, pelo que, no que diz respeito à General Motors, as ações são votadas como um bloco de acordo com as instruções dos diretores da Managers Securities Company. Isto fornece um interesse importante que pode exercer uma grande influência na formação das políticas da General Motors.

 

DE 25.000 DÓLARES A 1 MILHÃO

As participações dos membros na Securities Company são ajustadas nos casos de homens que deixam o emprego da empresa. O plano da Managers Securities Company não contempla a dissolução dessa empresa, de modo que as suas participações no capital da General Motors serão sempre em bloco. O plano foi enormemente bem sucedido, e muito do sucesso da General Motors Corporation deve-se ao facto de os executivos terem plena responsabilidade e receberem recompensas financeiras proporcionais a essa responsabilidade.

A participação na Managers Securities Company foi organizada de acordo com a posição e salário do executivo. A participação mínima exigiu um pagamento em dinheiro de vinte e cinco mil dólares quando a Managers Securities Company foi organizada. Essa participação mínima vale agora mais de um milhão de dólares.

Recentemente tenho defendido a formação de uma sociedade de valores mobiliários; ou seja, uma sociedade que investirá apenas em ações ordinárias sob supervisão adequada e cuidadosa. Esta empresa irá comprar as ações ordinárias de empresas industriais de primeira classe e emitir os seus próprios certificados de ações sobre elas. Estas ações serão oferecidas de tempos a tempos a um preço que corresponderá exatamente ao valor dos ativos da empresa e todos os lucros reverterão a favor dos acionistas. Os diretores serão homens de carácter, reputação e integridade excecionais. A intervalos regulares – digamos, trimestralmente – todo o registo financeiro da corporação será publicado juntamente com todas as suas participações e o respetivo custo. A sociedade será propriedade do público e cada transação será pública. Não estou interessado num fundo de investimento privado. A empresa não será autorizada a contrair empréstimos ou a contrair qualquer dívida.

Para além desta empresa, deve ser organizada uma empresa de desconto nas mesmas linhas que as empresas financeiras das empresas do ramo automóvel, a ser utilizada para vender ações da empresa investidora segundo um plano de quotas. Se Tom tivesse duzentos dólares, esta empresa de desconto emprestava-lhe trezentos dólares, permitindo-lhe assim comprar quinhentos dólares das ações da empresa de investimento de títulos de capital, e Tom poderia arranjar a sua vida de modo a pagar este seu empréstimo tal como paga o seu empréstimo de automóvel. Quando terminasse, seria proprietário de quinhentos dólares de ações da empresa. Isso tiraria as suas poupanças da classe das aplicações por livre vontade e colocá-las-ia na classe de pagamento obrigatório e as suas poupanças deixariam de estar acessíveis como algo a ser explorado pelos seus familiares, pelos vigaristas ou por ele próprio.

As pessoas pagam pelos seus empréstimos para automóveis. Pagarão também os seus empréstimos contraídos para garantir a sua parte nos negócios da nação. E no tipo de empresa que sugiro cada aumento de valor e cada direito iria beneficiar os acionistas e refletir-se-ia no preço e no poder de ganho das suas ações. Eles partilhariam absolutamente da prosperidade da nação.

 

POUPANÇA CONSTRUTIVA

O efeito de tudo isto seria, a meu ver, de grande alcance. Se Tom comprasse quinhentos dólares em ações, estaria a ajudar algum fabricante a comprar um novo torno ou uma nova máquina de algum tipo, o que iria aumentar a riqueza do país, e Tom, ao participar nos lucros desta máquina, estaria em condições de comprar mais bens e causar uma procura de mais máquinas. A prosperidade está na natureza de uma cadeia sem fim e só podemos quebrá-la pela nossa própria recusa em ver o que ela é.

Todos deveriam ser ricos, mas está fora de questão tornar as pessoas ricas contra vontade.

O milénio não está próximo. Não se pode ter todo o prazer na vida e nenhum trabalho. Mas está suficientemente demonstrado que muitas das velhas e supostamente conservadoras máximas são tão falsas como as noções radicais. Podemos avaliar as coisas como elas são.

Todos já devem saber que nada se pode ganhar parando o progresso do mundo e dividindo tudo – não haveria o suficiente para dividir, em primeiro lugar, e, em segundo lugar, a maior parte da riqueza do mundo não está sob tal forma que possa ser dividida.

A teoria socialista da divisão não é, contudo, mais irracional do que algumas das mais preconceituosas teorias sobre entesouramento ou de enriquecimento pela poupança.

Ninguém pode ficar rico apenas por poupar. Pôr de lado uma soma cada semana ou mês numa meia sem juros, ou num banco de poupanças com juros normais, não será suficiente para a velhice, a menos que a vida entretanto seja rigorosamente reduzida ao nível da mera existência. E se toda a gente se comportasse assim então o país seria tão pobre que a vida dificilmente valeria a pena.

A menos que tenhamos consumo, não teremos produção. A produção e o consumo evoluem a par e um rígido programa nacional de poupança, se levado para além de um dado ponto, faria com que houvesse pobreza geral, pois não haveria consumo que levasse à criação de nova riqueza.

Por conseguinte, a poupança deve ser encarada não como uma privação presente para se poder desfrutar mais no futuro, mas como um método construtivo de aumentar não só o futuro mas também o rendimento presente.

A poupança pode ser uma virtude se considerada como uma espécie de disciplina mental e moral, mas uma tal posição sobre a poupança não deve ser considerada como um plano financeiro. A poupança construída e aplicada para aumentar os rendimentos é uma operação financeira e deve ser regida por regras financeiras; a disciplina para a poupança é outra questão inteiramente diferente. As duas coisas têm sido confundidas.

A maioria dos velhos preceitos que opõem a imoralidade da especulação à moralidade de um bom investimento não têm, de facto, qualquer base. Têm sido tão frequentemente repetidos como verdadeiros que são tomados como verdadeiros. Se alguém compra uma dívida – ou seja, toma uma caução ou hipoteca a uma taxa de juro fixa – então isso é suposto ser um investimento. No caso da dívida, o montante do capital bem como os juros são fixos e o investidor não pode obter mais do que aquilo que contrata. A lei protege contra a obtenção de mais e também regula o procedimento pelo qual o mutuante pode tomar a propriedade do mutuário em caso de incumprimento. Mas a lei não pode dizer que os bens do devedor valerão o capital da dívida quando esta se vencer; o credor deve correr esse risco.

O investidor numa dívida limita estritamente o seu possível ganho, mas não limita a sua perda. Ele especula numa só direção no que diz respeito ao retorno real em dólares e cêntimos. Mas, além disso, especula contra a taxa de juros. Se a sua garantia rende 4% e a taxa de juro é de 6% ou 7%, então está a conceder um empréstimo a menos do que a taxa atual; se a taxa de juro é de 3%, então está a emprestar a taxa superior àquela que ele próprio poderia obter.

O comprador de uma ação comum numa empresa não limita nem os seus ganhos nem as suas perdas. Contudo, ele exclui um elemento de especulação – a mudança no valor do dinheiro. Pois quaisquer que sejam os ganhos que obtenha, estes serão no valor atual do dinheiro. Se compra ações numa empresa totalmente nova e ainda não testada pelo mercado, então os seus riscos são grandes, mas se compra em empresas firmemente estabelecidas, então não corre mais riscos do que o investidor que compra uma dívida.

É difícil perceber por que razão uma obrigação ou hipoteca deve ser considerada como um investimento mais conservador do que uma boa ação, pois a única diferença na prática é que a obrigação nunca pode valer mais do que o seu valor facial ou render mais do que os juros, enquanto que uma ação pode valer mais do que foi paga por ela e pode render um lucro sem limites.

Pode-se perder com uma obrigação ou com uma ação. Se uma empresa falir, será normalmente reorganizada e, nesse caso, as obrigações terão de dar lugar a nova injeção de dinheiro e possivelmente o valor destes títulos será depreciado. Os acionistas comuns podem perder tudo, ou mais uma vez podem obter outro tipo de ações que podem ou não ter eventualmente valor. Numa falência, nem os obrigacionistas nem os acionistas encontrarão qualquer grande causa de felicidade – mas há muito poucos fracassos entre as grandes empresas.

 

EMPRÉSTIMOS BENÉFICOS

Uma primeira hipoteca sobre bens imóveis melhorados é supostamente um investimento muito seguro, mas o valor dos imóveis muda rapidamente e mesmo os investidores mais experientes em hipotecas imobiliárias têm de executar uma percentagem apreciável das suas hipotecas e comprar os imóveis para se protegerem. Podem passar anos até que o imóvel possa ser novamente vendido.

Prefiro antes comprar bens imobiliários a comprar hipotecas sobre eles, pois assim tenho a possibilidade de “ganhar” mais do que paguei. Numa hipoteca não posso recuperar mais do que emprestei, mas posso recuperar menos.

A linha entre investimento e especulação é muito vaga, e não se encontra uma definição na forma legal de um título ou na limitação do possível retorno do dinheiro. A diferença está antes na abordagem.

Fazer uma aposta é muito diferente de colocar o dinheiro numa empresa que tenha demonstrado exaustivamente que pode normalmente obter lucros e que tem uma expectativa razoável de obter maiores lucros. Isso pode ser chamado de especulação, mas seria mais correto pensar na operação como uma entrada em negócios com homens que demonstraram que sabem fazer negócios.

A velha visão da dívida era tão ilógica como a velha visão do investimento. Estava para além da conceção de qualquer um que a dívida podia ser produtiva. Todos os antigos viam o endividamento – e deve haver muitos – como estando ligado a um empréstimo em vez de o ver ligado ao ganho de dinheiro. Sabemos agora que contrair empréstimos pode ser um método de ganhar dinheiro e de ser benéfico para todas as pessoas envolvidas. Suponha que um homem precisa de uma certa quantia de dinheiro para comprar um conjunto de ferramentas ou qualquer outra coisa que aumente os seus rendimentos. Ele pode utilizar uma das duas seguintes vias: 1) Pode poupar o dinheiro e, com o decorrer do tempo, comprar as suas ferramentas; 2) pode, se as instalações adequadas forem providenciadas, pedir emprestado o dinheiro a uma taxa de juro razoável, comprar as ferramentas e imediatamente aumentar o seu rendimento de modo a poder pagar a sua dívida e possuir as ferramentas dentro de metade do tempo que lhe teria sido necessário para poupar o dinheiro suficiente para as poder pagar. Esse empréstimo permite-lhe de imediato criar mais riqueza do que antes e, consequentemente, torna-se um cidadão mais valioso. Ao aumentar a sua capacidade produtiva, aumenta também a sua capacidade de consumo e, portanto, aumenta o poder dos outros de produzir a fim de preencher as suas novas necessidades e aumenta naturalmente o seu poder de consumo, e assim por diante. Ao pedir o dinheiro emprestado em vez de o estar poupar, aumenta a sua capacidade de poupar e aumenta ao mesmo tempo o seu próprio bem estar.

 

O CAMINHO PARA A RIQUEZA

Foi exatamente isso que o automóvel fez em termos da prosperidade do país através do plano de pagamentos em prestações. O plano de parcelamento do pagamento de automóveis, quando foi lançado pela primeira vez, contrariou as antigas noções de dívida. Teve a oposição dos banqueiros, que viram nele apenas um incentivo à extravagância. Teve a oposição dos industriais porque pensavam que as pessoas seriam levadas a comprar automóveis em vez dos seus próprios produtos.

Os resultados foram exatamente opostos à previsão. A capacidade de comprar automóveis a crédito deu um passo imediato para a sua compra. Fabricando-os, prestando-lhes serviços, construindo estradas para que pudessem circular, e os cuidados prestados às pessoas que utilizavam as estradas, levaram à criação efetiva de cerca de dez mil milhões de dólares de novas riquezas todos os anos – o que é aproximadamente algo como o valor das colheitas agrícolas. A criação desta nova riqueza deu um grande aumento ao consumo e trouxe uma enorme solidez à nossa atual prosperidade.

Mas sem a facilidade de endividamento ou a facilidade de o consumidor obter crédito – chamem-lhe o que quiserem – esta grande adição à riqueza poderia nunca ter tido lugar e certamente não antes de decorridos muitos anos. O endividamento pode ser um fardo, mas é mais provável que seja um incentivo.

A grande riqueza deste país foi ganha pelas forças produtivas e de consumo que competem uns com os outros pela supremacia. As fortunas pessoais deste país foram feitas não pela poupança, mas pela produção.

A mera poupança assemelha-se muito à política socialista de divisão e também se esbarra contra a mesma objeção de que não há suficiente para poupar. A poupança que conta não pode ser considerada de uma forma estática. A poupança deve ser encaminhada para a produção de riqueza. Podem entrar como dívida e os gestores das empresas produtoras de riqueza ficam com todo o lucro que vai para além dos juros pagos. Esta tem sido a via recomendada para poupar e pelas razões que foram expostas – a falácia do investimento conservador que não é de todo conservador.

O caminho para a riqueza é ter o lucro como objetivo na produção da riqueza neste país.

_____________________

Questões

  1. Qual é essencialmente o conselho de Raskob?
  2. Que desafios enfrentam, na sua opinião, aqueles que querem ser ricos?
  3. Que problemas é que Raskob ignora?

 

______________________

O autor: John J. Raskob (1879—1950), foi um executivo financeiro e empresarial da Du Pont e da General Motors: contratado em 1901 por Pierre S. du Pont como secretário pessoal, em 1911, tornou-se tesoureiro adjunto da DuPont, em 1914 tesoureiro, e em 1918 vice-presidente de finanças tanto da DuPont como da General Motors. Raskob tinha sido um dos primeiros investidores na General Motors e ideou e organizou a tomada de posição da DuPont de 43% na GM.

No âmbito de um estudo sobre as leis antitrust dos EUA, a sua administração e interpretação, ficamos a saber, pelas audições, em Novembro de 1955, perante o subcomité Antitrust e Monopólio e perante o comité de Justiça, ambos do Senado dos EUA, que já em Agosto de 1929, J. Raskob propusera à General Motors Corporation que lhe comprasse as ações que detinha na Managers Securities Company, uma vez que já não integrava a GM (demitira-se em 1928 por disputa com o presidente de então da GM) e a du Pont (ver aqui).

Ele próprio um investidor na bolsa de valores, jogava à alta no mercado de ações na década de 1920 e deu uma entrevista a Samuel Crowther para o Ladies Home Journal na qual sugeriu que todos os americanos poderiam tornar-se ricos investindo 15 dólares por mês em ações comuns (numa altura em que o salário semanal médio dos americanos se situava entre 17 a 22 dólares). O artigo (intitulado “Everybody Ought to be Rich”) chegou às bancas de jornais apenas dois meses antes do acidente de Wall Street de 1929.

Conhecido por ser um dos dois principais promotores do Empire State Building.

Foi presidente do Comité Nacional Democrata de 1928 a 1932, apoiante da candidatura de Alfred Smith a presidente dos EUA em 1928 (que perdeu para o republicano Herbert Hoover). Depois de Franklin D. Roosevelt se ter tornado Presidente em 1933, Raskob foi um proeminente opositor do New Deal através do seu apoio a várias organizações anti-Roosevelt, incluindo a Liga Americana da Liberdade. Raskob era também um líder na Associação Contra a Emenda à Proibição [venda, fabricação, transporte, importação e exportação de qualquer bebida com mais de 0,5% de álcool, também chamada lei seca].

(consulta em Wikipedia, aqui)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leave a Reply