A Guerra na Ucrânia — “Provocação de Kaliningrado e Candidatura da Ucrânia à UE… Manobras de diversão desesperadas das mentiras da propaganda da NATO”. Editorial de Strategic Culture

Seleção e tradução de Francisco Tavares

10 m de leitura

Provocação de Kaliningrado e Candidatura da Ucrânia à UE… Manobras de diversão desesperadas das mentiras da propaganda da NATO

Editorial de em 24 de Junho de 2022 (original aqui)

 

 

O gato escondido tem o rabo de fora. As políticas de belicismo dos desordeiros governantes ocidentais estão a ser ligadas e compreendidas pela população em geral.

 

A narrativa de propaganda ocidental sobre o conflito na Ucrânia está em grandes apuros. Meses de mentiras por parte dos governos e dos meios de comunicação social estão a desmoronar-se à medida que a Rússia faz grandes progressos para salvaguardar as populações de língua russa na Crimeia e no Donbass, a antiga região ucraniana oriental, e para neutralizar as forças militares nazis sob o controlo do regime de Kiev e apoiadas pela NATO.

Recorde-se como há apenas algumas semanas a Rússia estava a ser ridicularizada nos meios de comunicação ocidentais por ter cometido um “erro estratégico” na sua intervenção militar na Ucrânia, que começou a 24 de Fevereiro. Os líderes ocidentais foram apressados ao preverem a derrota militar de Moscovo. Após quatro meses de conflito não só as forças russas estão a dizimar os flancos ucranianos apoiados pela NATO, como se estão a fazer sentir com um impacto económico devastador, as repercussões mais vastas que as potências ocidentais poderiam ter evitado se se tivessem comprometido diplomaticamente com a Rússia para resolver as preocupações de segurança há muito existentes. O eixo da NATO e da União Europeia, liderado pelos EUA, está a cavar um buraco gigantesco para si próprio. Se não um túmulo.

Para desviar a atenção da catástrofe provocada pela NATO, a aliança militar liderada pelos EUA está a provocar irresponsavelmente a Rússia com um bloqueio no enclave russo de Kaliningrado. Este território russo está ensanduichado entre a Polónia e os três Estados bálticos da Estónia, Letónia e Lituânia, todos membros da NATO. Esta semana, a Lituânia passou a bloquear o transporte ferroviário e rodoviário para Kaliningrado. É evidente que o Estado báltico não está a agir sozinho. Está a aplicar uma política ordenada pela liderança da NATO e da UE. O chefe da política externa da UE, Josep Borrell, apresentou a desculpa absurda de que a Lituânia estava apenas a aplicar sanções contra mercadorias russas. Ele negou a realidade gritante de que a medida era um bloqueio económico hostil ao território soberano russo e aos seus assuntos internos. Ridiculamente, Borrell tem o descaramento de acusar a Rússia de bloquear os portos ucranianos.

Moscovo advertiu que se o bloqueio do seu território não fosse levantado, seria visto como uma agressão à qual responderia. Por outras palavras, o eixo da NATO e da UE decidiu aumentar gratuitamente as tensões com a Rússia ao ponto de provocar actos de guerra que um bloqueio certamente encerra.

A manobra insana das potências ocidentais tem de ser vista como nada mais do que tácticas desesperadas de diversão para distrair do seu fiasco de propaganda de falhadas mentiras sobre a Ucrânia. Em vez de admitir (mesmo tacitamente) que as suas políticas criaram uma confusão monumental na Europa e mesmo no mundo em geral, as potências ocidentais estão a cavar um buraco ainda mais profundo, aumentando ainda mais as tensões com a Rússia.

Isto também explicaria a farsa do Conselho Europeu desta semana de conceder o estatuto de candidato oficial à Ucrânia para aderir ao bloco dos 27 membros. Na prática, pode levar décadas até que a Ucrânia adquira o estatuto de membro. A Turquia teve o mesmo estatuto durante 22 anos sem ter passado para o seio do bloco europeu. A Sérvia e outros Estados dos Balcãs têm estado à espera desde há 10 anos como candidatos à adesão ao clube da UE. Assim, a fanfarra da liderança da UE concedendo a candidatura da Ucrânia é, em grande parte, um teatro vazio. Todas as declarações sobre “solidariedade” com a Ucrânia são típicas bravatas de Bruxelas.

Não admira que outros estados candidatos fiquem exasperados com o que vêem com razão como a UE jogando política sem um pingo de princípios. O regime de Kiev é aclamado como “partilhando valores europeus”, ao mesmo tempo que proíbe os partidos políticos da oposição e proíbe a língua, literatura e música russas. A União Europeia está a empalar-se com as suas próprias contradições sem escrúpulos ao conceder o estatuto de candidato à Ucrânia.

Mas a curto prazo, o que se pretende fazer é, mais uma vez, distrair a atenção do embaraço público que constitui estarem a UE e a NATO a supervisionarem um desastre total na Ucrânia. Milhares de milhões de dólares e de euros, cobrados a cidadãos europeus e americanos para alimentar um regime nazi, não conseguiram nada militarmente, excepto prolongar a guerra na Ucrânia e aumentar o perigo de um confronto total com a Rússia. Uma guerra que muito provavelmente conduziria a uma catástrofe nuclear para o planeta.

Os poderes políticos estabelecidos políticos norte-americanos e europeus perderam toda a autoridade moral para governar. Numa época de colapso histórico nas economias capitalistas ocidentais, decidiram tornar as dificuldades e a miséria ainda mais agudas para as suas sociedades, provocando crises globais de energia e inflação. A sua insana irresponsabilidade é impulsionada por interesses ideológicos ocidentais, ajoelhando-se perante a elite transatlântica e o complexo militar-industrial, bem como por uma mentalidade inveterada de russofobia. O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergey Lavrov salientou esta semana que o actual clima e dinâmica da UE e da NATO estão a formar um bloco de guerra contra a Rússia, um bloco que tem um eco vil da forma como a Alemanha nazi e os fascistas europeus se armaram contra a União Soviética na década de 1930.

A classe dominante ocidental moralmente falida sempre considerou a guerra como uma via de fuga expedita das calamidades internas. As suas mentiras e desgovernação podem ser encobertas com o sangue de milhões, o que está odiosamente calculado. Fizeram-no na Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Eles estão dispostos a fazê-lo novamente com uma Terceira Guerra Mundial.

É verdadeiramente chocante que o eixo da NATO e da UE esteja a avançar semana após semana para uma guerra aberta contra a Rússia. O cenário já passou de uma guerra por procuração para uma guerra directa.

A provocação de bloqueio de Kaliningrado é um ataque directo ao território da Federação Russa.

Do mesmo modo, o escandaloso namorico com a Ucrânia sobre a adesão à UE, bem como a entrega de sistemas de mísseis ao regime de Kiev pelos Estados Unidos, Alemanha, Grã-Bretanha, e outros, são tudo manobras loucas para fugir à responsabilidade e condenação pelo seu próprio inerente fracasso.

É altamente notável que esta semana se tenham registado protestos massivos nas ruas de Bruxelas, nos quais a ira pública foi explicitamente dirigida contra a deterioração das condições económicas dos cidadãos, em concertação com denúncias do belicismo da NATO na Ucrânia contra a Rússia.

O gato escondido está com o rabo de fora. As políticas de belicismo dos desordeiros governantes ocidentais estão a ser ligadas e compreendidas pela população em geral. As elites decadentes sabem que estão a ser expostas. O rei vai nu. E o público ocidental está a ficar cada vez mais irritado com milhões de trabalhadores em greve e a exigir os seus direitos a um empedernido poder estabelecido.

Num amplo discurso na semana passada ao Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, o Presidente russo Vladimir Putin disse que os desordeiros ocidentais enfrentam uma revolta populista crescente e uma eventual queda pela sua própria incompetência e má gestão.

Tais revoltas democráticas no Ocidente podem não vir a tempo porque o perigo grave é que a sua elite corrupta se apresse a provocar a guerra como manobra de diversão. Mais uma vez.

 

 

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