O “DESAPARECIMENTO DA MULHER”, de BOUSHRA ALMUTAWAKEL por Clara Castilho

Esta imagem (uma mãe, sua filha e uma boneca que passam por uma transformação com véus muçulmanos, até estarem completamente cobertas por burcas e, finalmente, desaparecerem por completo) criada em 2010 pela fotógrafa iemenita Boushra Almutawakel, tem andado a circular nas redes sociais desde que os Talibãs retomaram o poder no Afeganistão, com o título “desaparecimento da mulher”. E por vezes atribuída a outra fotógrafa.

A repercussão surpreendeu a própria autora, considerada uma defensora dos direitos da mulher e uma pioneira no mundo muçulmano. Ao BBC Mundo (22.8.21), a autora considera que a obra é um comentário sobre a misoginia patriarcal, sobre o medo, controle e intolerância. De facto, há a sensação de que a única coisa que deixará felizes os extremistas é que as mulheres sejam de fato invisíveis. Afirma que não tem a ver com o Islão, em que se usavam  véus coloridos e cada aldeia tinha seu próprio véu e que cobrir completamente as mulheres, escondê-las, usá-las como propriedade, não faz parte do Islão. Reafirma que o seu trabalho não é sobre o Islão, é sobre extremismo. É sobre a misoginia patriarcal, que não é encontrada apenas no mundo árabe e muçulmano, está em toda parte.

É acusada por muçulmanos e árabes de estar do lado do Ocidente, de ser contra o Islão. Mas, ela não está falando pelas mulheres afegãs, que podem falar por si próprias, que precisam se manifestar e certamente o farão, têm vozes, são fortes.

Insurge-se contra o facto de o Ocidente continuar a falar por elas, achar que precisa salvá-las. Ora, considera, foi o Ocidente que veio trazer a destruição. O Talibãs “foram criado pelos Estados Unidos para que pudessem lutar contra os soviéticos. E eles deixaram o Talibãs para o povo afegão. Quem precisa deles? Que tipo de mundo é esse? Eu gostaria que o Ocidente ficasse fora de nossos países, incluindo o meu. Eles destruíram o Oriente Médio em todos os aspetos.”

 Sobre o intenso debate em torno do véu, é de opinião que esse não é um dos problemas reais. “Sempre se diz às mulheres o que fazer, para usar o hijab ou tirá-lo, ser magra, ser jovem… Deixem-nos em paz!”

A autora acredita que desta vez muitas mulheres lutarão mais pois tiveram 20 anos de vida melhor e são fortes, ambiciosas e capazes.

 

 

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