CARTA DE BRAGA – “da abundância e de Murphy” por António Oliveira

É o fim da abundância’, afirmou em finais de Agosto, o presidente francês, não sei aonde, só o li numa longa série de artigos nos jornais, ao referir a quantidade de crises que nos afectam a todos, não só em França-, e cujo final não parece sequer adivinhar-se no final do túnel onde caímos. 

É verdade que já estamos no Outono, o da queda das folhas e dos mais vulneráveis, da fuga do Sol, do triunfo da noite e da mudança da hora para que o engano não se note tanto! mas o tal fim da abundância é, há muito tempo, o ‘compagnon de route’ de todos os ‘habitantes’ das classes mais desfavorecidas desta Europa, à qual também ele (presidente francês) pertence, onde o rendimento global é marcado pela estagnação e pelo decréscimo, inegáveis desde os anos oitenta do século passado, o que quer dizer, há mais de quarenta anos. 

E leio num jornal daqui ao lado, ‘A história da classe média europeia, nas últimas décadas de neoliberalismo e desregulação financeira, foi a de um empobrecimento progressivo. Uma história em que a maior parte perdia poder aquisitivo para suportar o benefício obsceno de uns poucos. E agora dizem-nos que acabou a abundância’.

Tenho lido como já se avisava há anos, em suportes da mais variada índole, que o planeta é grande, mas não infinito, que se estavam a ultrapassar os seus limites físicos de produção e extracção, assinalando-se inclusivamente os dias de ultrapassagem desses limites, como se aludia frequente e cientificamente, à alteração ou à destruição do clima que a natureza nos proporcionou, como desapareceriam as colheitas e como a inflação daria cabo da classe média. 

Se a intenção era a de aumentar o número dos pobres e, tomando como exemplo os Statesa riqueza pertencente as 0,00001% dos fulanos mais ricos, 18 pessoas com mais de 50.000 milhões de dólares em 2021 multiplicou-se por dez desde 1982, ano em que a Forbes passou a publicar os dados sobre as pessoas mais ricas. 

Também li, nos tais suportes, de acordo com análises históricas diversas, que a lenta, mas gradual, eliminação do imposto sobre o património, é consequência de acções políticas premeditadas e com objectivos claros. Acções particularmente notórias desde o aparecimento do par Reagan e Thatcher, cujas ideias a favor de um governo pequeno, defendidas por diversas e conservadoras Sociedades e Fundações, se entranharam no pensamento económico e, ainda hoje, dominam o discurso dos mentores e conselheiros que parecem dominar a maioria das políticas económicas ocidentais. 

Não parece que a exclamação de Macron, possa vir a marcar o fim dos paraísos no Panamá, nas Bermudas, no Luxemburgo, nas Ilhas Virgens e tantos outros santuários da abundância, ou onde ela se abasteça, por ali também não se fazer sentir o aumento do preço dos combustíveis nem das reclamações salariais, por lhes bastar um cubículo, um computador e um tipo que areje aquilo uma vez por semana. 

Um tipo que trabalhará descansado, porque abrir as janelas não exige grandes conhecimentos técnicos nem informáticos, nem deve ter uma hipoteca subordinada ao Euribor, onde a maior subida de taxas oficiais na história do BCE, divulgada recentemente, 0,75% para chegar aos três quartos de ponto, 1,25% até agora e este ano, antecipa uma escalada brutal do Euribor, com fortes aumentos nas revisões anuais, marcando, aqui sim, o fim da abundância! 

Mas já estamos habituados, por também me parecer estarmos ‘subordinados’ à Lei de Murphy, Se alguma coisa puder correr mal, correrá mal, e ao seu terceiro corolário, Se existe alguma possibilidade de diversas coisas correrem mal, aquela que causar maior dano, será precisamente a que correrá mal, tal como até já foi demonstrado e toda a gente já experimentou, A torrada tem, de facto, a tendência inerente de cair com a manteiga virada para baixo

Mas sorria sempre, dizia Murphy, pois amanhã será sempre pior!

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 
 

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