CARTA DE BRAGA – “as chaminés de Victor Hugo” por António Oliveira

O Médio Oriente, chamou estes dias e continua a chamar, as atenções do mundo.

No Egipto, celebrou-se mais uma cimeira do clima, que acabou com o acabaram sempre todas as outras que já se realizaram. Como já tinha acontecido em Glasgow, não se conseguiu incluir, na declaração final, a necessidade de abandonar ou reduzir a queima de combustíveis fósseis. Mas aprovaram a criação de um fundo económico para dar dinheiro aos países mais vulneráveis, por danos e perdas provocada pela alteração climática.

É o sistema capitalista no seu melhor, agarrado à sua lógica funcional de acumulação, mais a incapacidade de detectar, mostrar e dar o devido valor aos custos económicos, sociais e humanos que ela origina. Lembro-me de um aforismo de Victor Hugo, que muito escreveu sobre a maldade, ‘Há seres humanos que são como essas chaminés que rapidamente consomem as madeiras, e por isso necessitam de muito combustível e o seu combustível são os demais’.

Mais abaixo, no Qatar, uma grande quantidade de rapazes novos, alinhados por selecções, mais treinadores, massagistas, roupeiros, directores e demais intervenientes, jornalistas, comentadores, muitas tv’s, operadores de câmara, fotógrafos, assistentes do mundo inteiro e outros mais que agora não lembro, em volta do mundial do pontapé na bola, estão atolados num país que faz gala em violar os direitos humanos, por até ter negado mesmo apenas enquanto decorria o tempo do acontecimento algumas normas de liberdade mínima individual vestimenta feminina, mostra de afecto entre pessoas do mesmo sexo, consumo de álcool

Isto tudo sem contar o que se passou na construção dos estádios, com os contratados em condições de quase escravidão alguns media apontam para 6.500 mortos, com o que se passou na cerimónia da indigitação daquele emirato, mais a submissão ao poder do ‘arame’ de um tal sujeito, o mandador dos futebóis a que chamam Infantino, se calhar com razão, e ainda com as viagens já feitas ou a fazer, por mais individualidades ocidentais, talvez para beneficiar ali dos ‘aromas’ do petróleo.

Por cá, entre as renúncias clubísticas do Ronaldo, um dos heróis dessa poderosa indústria do desporto com muitíssimo ‘arame’ em jogo, mais as crises económicas e outras que se vão sucedendo, quase ninguém se importa nem trata como devia ser tratado, o Orçamento do Estado para 2023 e as reacções que está a suscitar a diversos níveis e a distintas entidades.

Convém não esquecer, como se afirma no DN do dia 23, ‘Bruxelas recupera muitas críticas antigas às opções de política pública em Portugal. Os principais alvos parecem voltar a ser os funcionários públicos e os pensionistas: salários e pensões, que são das maiores rubricas da despesa e cujo crescimento preocupa a Comissão’.

Até o comissário europeu da Economia, um ‘simpático’ italiano Paolo Gentiloni nome bem parecido com o do Infantino assinalou bem ‘não acreditar que o pacote anticrise possa ser quase totalmente revertido em 2023, o que dá mais peso ainda às preocupações da CE relativas às pressões persistentes nos salários públicos e nas pensões’ também salienta o mesmo jornal.

Já agora, diz ainda o DN do dia 24 ‘A prestação da casa vai subir mais de 100 euros, para meio milhão de famíliassó uma pequena aldeia do Alentejo! mas as palavras do tal Gentiloni devem ser tomadas muito a sério, porque ‘Os portugueses são menos, estão mais velhos e mais de 1 milhão vivem sozinhos’, é o título mais chamativo da primeira página, ilustrada por um cartoon bem elucidativo do André Carrilho.

Avé, Victor Hugo!

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

 

2 Comments

  1. Meu amigo, obrigada por não nos deixares apenas usufruir à estética da tua escrita e ao atento cronista social que és…Tu és um pedagogo embuído de valores…Obrigada!O nosso abraço!

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