José de Almeida Serra
INTRODUÇÃO
Acompanhei, posso dizer que minuto a minuto, a desvinculação de José de Almeida Serra (JAS) do Partido Socialista —vínhamos conversando sobre isso desde que eu decidi desvincular-me—, pensando eu que terei sido um dos primeiros a conhecer o conteúdo da carta enviada por JAS a António Costa.
Logo que a carta foi enviada por JAS, ofereci-lhe a possibilidade de a divulgar no blogue «aviagemdosargonautas.net», ao que JAS me respondeu que «talvez mais tarde».
Ora, esse «talvez mais tarde» chegou finalmente, o que justifica a diferença entre a data da carta e a sua divulgação agora no blogue, ou seja, também JAS deixou de ter ilusões, perante a deriva do PS para a direita, hoje ocupando o espaço do centro-direita de Sá Carneiro e do seu Partido Popular Democrático/Partido Social Democrata, cumprindo António Costa o seu principal (ou único?) objectivo, que é a manutenção do poder, pouco importando o interesse de Portugal e dos portugueses, o que me leva a escrever o que eu pensava não me ser possível um dia dizer: se fosse Sá Carneiro -em quem eu nunca votei nem votaria- a ocupar o lugar de primeiro-ministro, provavelmente, não estaríamos a ser sucessivamente ultrapassados pelos novos membros da União Europeia, geograficamente a Leste da Europa. Até pela Roménia, o que acontecerá brevemente segundo notícias recentemente divulgadas, apesar de ser também um país latino!
Por fim, aí está a carta que eu sempre quis divulgar.
António Gomes Marques
A carta:
Almeida Serra terá razão em muito do que diz. Naturalmente, mais dia menos dia, António Costa, como SG do PS, terá de ponderar se o seu pragmatismo imediatista e o seu discurso triunfalista são adequados ao confronto incontornável com uma comunicação feroz ao social ao serviço da mão cada vez mais visível dos interesses empresariais, ansiosos por se sentarem a mesa do orçamento e capturarem o aparelho do Estado. A querer persistir, o tom e o conteúdo do discurso de António Costa, do PS e do seu governo terão de ser outros, alinhando-os decisivamente com as expectativas da grande maioria da população que nada espera da direita. Não faço mesmo que Almeida Serra porque não encontraria partido onde coubesem as minhas convicções e, apesar da “ganga”, ainda há muito de bom no PS.
Caro António Teixeira, durante muito tempo hesitei em sair por também ter consciência de que não encontraria um partido onde, como diz, coubessem as minhas convicções, até que cheguei à conclusão de que, perante a certeza de que o PS não mudaria e cada vez se inclinava mais para ocupar o centro direita, não havia lugar para mim naquele partido, no qual, ainda militante, tinha deixado de votar. Infelizmente, com o decorrer do tempo verifiquei a minha razão.
Hoje, considero-me um homem de esquerda sem partido, absolutamente convencido de que a maioria dos portugueses não é de esquerda, um mito que, com interesses contraditórios, alguns teimam em afirmar e muitos portugueses vão na conversa.
Curiosamente, até um homem de direita, como é o Director do Expresso, João Vieira Pereira, escreve hoje um texto no seu semanário que intitula «A apatia do Zé Povinho». Se fosse o PSD/CDS ou o PSD coligado com outro partido, até com a Chega, ele escreveria um texto destes?
Vivemos numa democracia formal, numa democracia de fantochada, hipócrita, e eu, tendo em conta a minha idade, já não me imagino a viver, um dia, numa verdadeira democracia.