Escreve Anabela Mota Ribeiro: “Para isso fomos feitos / Para lembrar e ser lembrados […] Pois para isso fomos feitos / Para a esperança no milagre”, escreveu o poeta Vinicius de Moraes no seu Poema de Natal.
O Natal faz-nos recuar a uma infância mitificada? O Natal é uma cápsula impermeável ao mundano, à agressividade, ao sexo (a ressonância bíblica ensina-nos que Maria engravidou sem pecado)? O Natal é um lugar onde se faz alarde do amor e da esperança e se ficcionam as boas intenções? Em que momento o Natal começou a ser o martírio, a destrutividade a vir por fora, o consumismo descontrolado? Persiste em nós o sentimento de que fomos esperados, de que somos, como o Menino Jesus, um Messias para os nossos pais? O Natal da convenção é também o do desamparo, como se lê nos versos de Fernando Pessoa (“Quando o corpo me arrefece, tenho o frio e Natal não”).
Advento significa chegada. Essa chegada pressupõe uma espera e é uma promessa. O Calendário do Advento anuncia, dia a dia, o aparecimento de um ser, de algo que se inicia. Ou seja, uma vida nova, um nascer de novo.
As alegrias do Natal, os atritos do Natal, os reencontros, os desencontros, o nascimento e a morte, as viagens (no tempo, interna, na estrada), a comida, as memórias da infância e a reconstrução dessas memórias nos filhos e nos netos, nos elos seguintes da árvore genealógica, as novas configurações da família, o país desigual, cortado nas diferentes geografias, tempo histórico, classe social, costumes e religiões, é aquilo que se procura questionar numa série de entrevistas a decorrer entre o dia 27 de Novembro e 24 de Dezembro. Justamente, enquanto se folheia este Calendário do Advento.
Entrevistas de 20 minutos, diárias, para as quais o convidado leva fotografias, presentes e memórias, e sai da sua biografia para reflectir, também, sobre esse grande mistério que é o Natal. Na RTP3, 20h.”
Autoria e coordenação: Anabela Mota Ribeiro. Fotografias de Estelle Valente.
Os entrevistados do Calendário:
27 Nov – Aldina Duarte, fadista, 1967
28 Nov – Pedro Strecht, pedopsiquiatra, 1966
29 Nov – Helena Pato, matemática, resistente anti-fascista, 1939
30 Nov – Miguel Vale de Almeida, antropólogo, 1960
1 Dez – Sheila Khan, socióloga, 1972
2 Dez – José Avillez, chef, 1979
3 Dez – Maria Emília Brederode Santos, pedagoga, 1942
4 Dez – António Araújo, historiador, 1966
5 Dez – Filipa Roseta e Helena Roseta, arquitectas e políticas, 1973, 1947
6 Dez – Richard Zimler, escritor, 1956
7 Dez – Lídia Jorge, escritora, 1946
8 Dez – Nuno Markl, humorista e locutor de rádio, 1971
9 Dez – Pedro Bidarra, publicitário e escritor, 1961