CARTA DE BRAGA – “dos pobres e da palavra” por António Oliveira

Os pobres não trabalham porque têm demasiados rendimentos; os ricos não trabalham porque não têm rendimentos suficientes. Expande-se e revitaliza-se a economia dando menos aos pobres e mais aos ricos’, recolhi esta sentença no dia 27 de Dezembro, num blog que visito a diário, ‘Ladrões de bicicletas’, por ser um local de crítica fundamentada e honesta, feita por especialistas em assuntos económicos e, por ali, também aprender sempre qualquer coisa. 

Mais acrescenta o bloguista, ‘As indemnizações milionárias de que beneficiam gestoras e gestores de topo, são o resultado do empresarialmente correcto, ou seja, da aplicação do neoliberalismo às organizações. A sua lógica redistributiva regressiva, de baixo para cima, foi memoravelmente resumida há quarenta anos atrás por John Kenneth Galbraith. (…) Durante a troika, as indemnizações por despedimento foram reduzidas para a generalidade dos trabalhadores e isto para que a pouca vergonha pudesse ter mais facilmente lugar num topo empoderado’.

E termina desta maneira simples, ‘O resultado é uma desmotivadora e tóxica combinação de arrogância no topo e de medo na base, com benefícios e fardos cada vez mais assimetricamente distribuídos’. Não quero, não posso, nem sei, a não ser pelas contas do fim do mês que me chega cada vez mais tarde– nem por já não ter hipótese alguma de me candidatar a um lugar de topo, porque aquele muito da base que tenho, ter sido agravado pelo corte de cinquenta por cento na reforma que até deveria vir a ter. 

Note-se que aqui bem perto, do lado de lá da raia e, na língua deles, ‘El Consejo de Ministros cumplió ayer lo previsto y aprobó el real decreto que revalorizará conforme al IPC las pensiones a partir del 1 de enero, lo que implicará un incremento del 8,5%. La medida afecta a 11,8 millones de pensiones y supondrá, en el caso de las de jubilación, un incremento medio de 107 euros al mes o de 1.500 euros al año. La pensión media de jubilación quedará situada a partir de ahora en 1.367 euros al mês’, por toda a gente perceber bem e não ser acusado de nem saber ler esta notícia, saída a 28 de Dezembro último, no diário ‘La Vanguardia’. 

Um contraste enorme com o que se verifica deste lado, onde a orientação ‘política’ é, aparentemente, a mesma, mas onde até o IVA a 0% nos bens essenciais de lá, parece um enorme calo no pé esquerdo do patrão deste lado! 

Já agora, e no mesmo blog, mas do dia 15 de Dezembro, recolho este post, que transcrevo na íntegra, ‘O Observatório Fiscal Europeu avançou recentemente que, em 2019, Portugal perdia cerca de 630 milhões de euros de receita fiscal pela não tributação de lucros de multinacionais a funcionar em Portugal. Isto representava cerca de 10% da receita de IRC. Em 2015, os lucros transferidos para paraísos fiscais atingiam 2,6 mil milhões de euros e passaram a 3,4 mil milhões em 2019.

Deve notar-se que Portugal não é dos países mais lesados por estas práticas, uma vez que não estão fixadas muitas multinacionais em território nacional. Contudo, como comparação, podemos ver que, em Março, se estimava que eram necessários cerca de 200 milhões para um aumento extraordinário das pensões’.

Não quero, não posso e, se calhar nem sei, acrescentar um qualquer comentário, por me sentir altamente prejudicado, mas também por ‘Não ter posses para comprar um Ferrari, ir todos os dias a uma marisqueira, oferecer um helicóptero à minha esposa para se deslocar para o trabalho, e passarmos as férias num dos países das Bermudas, onde tanta gente abriga ganâncias’.

O economista Jorge Bravo, que pertence à Sedes, Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, garantia a propósito, no DN já de 26 de Novembro, ‘problema mais significativo é o facto de a atualização a aplicar em 2023 reduzir a base das atualizações futuras, a partir de 2024. E isso configura um corte estrutural e permanente de todas as pensões. Estamos a falar de dezenas de milhares de euros para todos os pensionistas, para as 3,7 milhões de pensões. Todas serão afetadas: pensões de velhice, viuvez, sobrevivência, invalidez. Do ponto de vista constitucional, creio que há razões para levantar o tema da constitucionalidade’.

A terminar, mais uma afirmação do poeta e cronista John William Wilkinson, ‘Acreditou-se, durante séculos, que a história era escrita pelos vencedores, mas agora já não! A noção de memória histórica está sujeita a uma férrea politização’.

Convém não esquecer o que Kipling avisou algumas vezes, ‘A palavra é o artefacto mais potente que inventou a humanidade’. Basta ouver a maioria dos líderes que nos atafulham ecrãs e jornais, para perceber onde agora mora o poder!

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

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