Li, um dia destes, que está a ser avaliado –a notícia dizia “negociado”– entre o governo e os inevitáveis parceiros do sector da educação –quais?–, um novo esquema de acesso ao ensino superior, com três exames, mantendo-se o Português; tudo bem, menos o facto de também se eliminarem os exames finais do ensino secundário, para dar maior peso às provas de acesso ao ensino superior.
Não li todos os pormenores da notícia, por logo terem soado as campainhas dos meus alarmes interiores, pelo facto de ter andado pelas ‘fainas’ do ensino durante quase trinta anos, do ensino secundário ao superior, desde 1970 até 2013, com alguns intervalos no meio.
Mas li, num dos parágrafos finais da notícia que, para alguma gente, a maior preocupação seria a escassez de professores e, subentendido, o seu deficiente domínio das matérias a ensinar, que se poderia tornar num grave problema a curto prazo.
Não tenho muito a acrescentar, positiva ou negativamente, àquela preocupação, mas lembro-me, com um sorriso bem disposto, de ter apanhado alguns candidatos ao ensino superior por serem maiores de 23, razoavelmente preparados nas disciplinas fundamentais, até no Português, mas que demonstravam uma inegável lacuna no campo da Cultura Geral, por não serem capazes de associar factos e acontecimentos, denotando uma enorme a falha nas aprendizagem e ‘discussão’ ligadas ao ensino das humanidades, principalmente nas áreas da Filosofia, da História e da Sociologia que, por coincidência, estão a ser postas de lado no ensino secundário actual.
As teclas do computador e a disponibilidade permanente do dr. Google, são um recurso a considerar, agora usada até à exaustão –como tive oportunidade de comprovar algumas vezes, até nos copy past em trabalhos de pós graduação– que, a meu ver, exigem mais do trabalho do professor e da participação do aluno; mas como já sou um ex-professor e assisto em permanência à vitória da dependência geral do telemóvel, sinto que qualquer preocupação da minha parte possa vir a ser mal interpretada.
A propósito, talvez a reforçar as minhas apreensões sobre tal tema, transcrevo na íntegra, uma notícia que li na página digital de uma emissora radiofónica, ‘A notícia mais lida do passado mês de Outubro, foi a estória de um reputado professor que foi expulsado de uma universidade privada nos Estados Unidos, depois de os alunos se terem queixado que as suas aulas eram muito difíceis. Este facto aconteceu na Universidade de Nova Iorque, onde vários alunos se foram queixar à reitoria, por Maitland Jones estar a dar uma matéria muito complicada, e por as notas dadas nos exames, serem demasiado baixas. Foi o que levou a reitoria a dar razão aos alunos e a expulsar o professor, perante a incredulidade do resto de professoras e professores’.
‘A desqualificação do outro é uma forma de requalificação própria’ afirmou o catedrático de Filosofia Daniel Innerarity, em artigo recente; só que responde a estratégias interessadas que até se podem prever, mas ‘À gravidade dos perigos haverá que descontar sempre a quantidade de dramatização que convém aos que denunciam’ acrescenta ainda aquele filósofo.
Só que é neste mundo que vivemos e é também neste mundo que temos de nos defender pois, já o disse Álvaro de Campos há quase cem anos, em 1929!
Só o parvo dum poeta, ou um louco
Que fazia filosofia,
Ou um geómetra maduro,
Sobrevive a esse tão pouco,
Que está lá para trás no escuro
E nem a História já historia
Ógrandes homens do Momento!
Ó grandes glórias a ferver
De quem a obscuridade foge!
Aproveitem sem pensamento!
Tratem da fama e do comer,
Que amanhã é dos loucos de hoje!
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor
Amigo, são minhas também as preocupações pela nossa baixa cultura…Não falta muito para que a maioria não saiba ler , aprofundando saberes.Tudo é tão rápido nesta sociedade de ” fastculture” que, o que nos espera é a imagem e os robots… O pensamento
dá muito que fazer…Caminhamos para a inércia, meu amigo….O meu abraço!
O problema não é dos que são como nós!
O problema está lá mais acima, e dos que se querem aproveitar disso, como se viu em
Washington e Brasília!
Abração para vós!
A.O.
Amigo, são minhas também as preocupações pela nossa baixa cultura…Não falta muito para que a maioria não saiba ler , aprofundando saberes.Tudo é tão rápido nesta sociedade de ” fastculture” que, o que nos espera é a imagem e os robots… O pensamento
dá muito que fazer…Caminhamos para a inércia, meu amigo….O meu abraço!
O problema não é dos que são como nós!
O problema está lá mais acima, e dos que se querem aproveitar disso, como se viu em
Washington e Brasília!
Abração para vós!
A.O.